Série - Virtudes

Conheça, reflita e se aprofunde sobre a virtude da prudência

A virtude da prudência necessita de previdência, circunspecção e precauções

É uma virtude moral e sobrenatural que inclina a nossa inteligência a escolher, em qualquer circunstância, os meios para atingir os nossos fins, subordinando-os ao nosso fim último. Dizemos ser também sobrenatural, pois além de a adquirirmos pelo treino, também podemos a adquirir por uma graça dada por Deus. Portanto, são duas as formas de vivência da virtude da prudência.

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Falamos da prudência cristã

O nosso fim último nos é proposto pela fé, para assim, iluminar a prudência. E qual seria o nosso fim último? A união com Deus.

Dessa forma, a prudência nos ajuda a orientar todas as nossas decisões para esse fim. Ocupa-se pois, de todos os pormenores da nossa vida: regula os nossos pensamentos para os impedir de se extraviarem para longe de Deus; regula as nossas intenções para afastar o que lhes possam corromper a pureza; regula os nossos afetos, sentimentos e volições (ação de escolher ou decidir) para os unir a Deus; regula até os nossos atos exteriores e a execução das nossas resoluções para as referir ao nosso fim último.

É uma virtude que reside na inteligência,

para julgar e discernir o que, em cada circunstância particular, é mais apto para se chegar ao nosso fim; é uma ciência de aplicação que ao conhecimento dos princípios, junta os das realidades e, assim, podemos organizar a nossa vida.

Contudo, há uma interação com a vontade, que entra para ajudar a ordenar a inteligência, para se aplicar a consideração dos motivos e razões que lhe permitem fazer uma eleição esclarecida, e mais tarde, para impulsionar os meios assim escolhidos.

Inteligência e vontade só se unem à partir de uma vida de busca de conversão e união com Deus. Por natureza, nossa vontade é voltada para o pecado. Para reorientar a nossa vontade para a aquisição da virtude, e ao mesmo tempo, em direção ao nosso fim último, precisamos evitar os pecados graves e começar uma vida de oração, especialmente de comunhão com Deus na Santa Missa e no amor a Cristo eucarístico.

A regra está na fé

A regra da prudência cristã está enraizada na fé. Essa prudência sobrenatural tira as suas luzes das máximas evangélicas que são, fundamentalmente, opostos aos costumes mundanos. A vida dos santos nos ajudam a refletir sobre isso.

Ela se utiliza, não somente dos meios honestos e humanos, mas também dos meios sobrenaturais, que por meio da oração e dos sacramentos ajuda a prudência a se desenvolver, alcançando resultados mais maduros e apreciáveis.

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Três condições para agir com prudência

Falando do modo da aquisição da prudência por vias naturais, distinguimos três condições que são particularmente necessárias: deliberar com madureza; decidir com sabedoria; e executar com firmeza.

Deliberar: pensar com toda a importância e seriedade que a situação exige. Para fazer isso, com ponderação, é preciso refletir pessoalmente (meditação) e consultar os homens sábios. É preciso refletir sobre o passado, o presente e o futuro.

Seria meditar e verificar quais foram as atuações dos nossos antecessores e, também, a partir de nossa própria experiência perceber quais caminhos já foram tomados e quais ainda não. O que deu certo e o que deu errado para diminuir o número de possibilidades a serem experimentadas.

Presente: é preciso entender o presente, as condições diversas em que vivemos: cada século, cada homem tem seus traços particulares e, nós mesmos, na idade madura, já não temos os mesmos gostos que tínhamos na mocidade. Aqui intervirá, pois, a inteligência para nos auxiliar a interpretar as experiências passadas, acomodando-as nas circunstâncias presentes.

Futuro: até o futuro é prudente interrogar (antes de nos decidirmos); é útil prever, quando possível, as consequências dos nossos atos sobre nós mesmos e sobre os outros. Pela memória do passado e pela previsão do futuro, melhor podemos organizar o presente.

A virtude da castidade vem em nosso auxílio, recordando tudo quanto os santos na história fizeram para se conservarem puros, no meio dos perigos do mundo. Tanto quanto já tendo alguma experiência de pureza, será possível avançar ainda mais, a partir do patamar em que estiver.
Ao mesmo tempo, é fundamental se distanciar de uma vida passional. Ou seja, deixar de agir conforme os impulsos. Raiva, preguiça, prazer pessoal, amor ao dinheiro, amor ao poder, ao bem estar, etc…

Por fim, é necessário consultar os homens sábios; prudentes; e criteriosos experimentados. Uma palavra, uma observação de um amigo, um parente, um colaborador; podem abrir os nossos olhos, mostrando uma face da situação que podemos não ter percebido; ter esquecido ou menosprezado.

Especialmente, consultar ao próprio Deus na oração.

Deus tudo vê

Decidir: seria optar pelos meios mais eficazes. Para conseguirmos é preciso ter uma vida (ao máximo) longe das paixões irascíveis e concupiscíveis. Pois, elas perturbam nossos juízos e nos arrastam segundo as nossas más inclinações e não segundo a inteligência. Também é importante agir tendo em vista o plano da eternidade. Seria optar sempre por proceder tendo em vista que Deus tudo vê. É preciso não parar na superficialidade das opções, mas examinar a fundo cada uma delas. Por fim, não ficar transitando em dúvidas metódicas e repetitivas. Uma vez refletido bem (conforme a importância relativa da coisa), então, decidir pelo melhor sabendo que Deus não nos condenará, visto que fizemos tudo para conhecer a Sua vontade e podemos contar com a Sua graça para executar as nossas resoluções.

Uma vez decidido não podemos nos demorar na realização do projeto apresentado. Para isso, três coisas se requerem: previdência, circunspecção e precauções.

A) Previdência: já não se trata mais de meditar sobre o futuro, e sim, de calcular os esforços necessários para pôr em prática o que foi decidido. Verificar os obstáculos, de antemão pensar nos meios de os vencer, a fim de, não gastar forças à toa.

B) Circunspecção: é estar atento ao que se passa ao nosso redor. Considerar as pessoas que nos cercam e de tudo tirar o melhor possível. Considerar as circunstâncias e atender o melhor possível. Observar tudo para tirar proveito se forem favoráveis, como também, nos prevenir de consequências ruins.

C) Precauções: mesmo tendo procurado prever ao máximo, nem sempre tudo vai como o planejado. Somos limitados e falíveis. É necessário na vida moral e nos negócios, ter reservas e proteger-se com precauções: o demônio nos persegue e ataca, sendo assim, é preciso ter fôlego; estar em oração; ter uma vida sacramental em dia; e buscar sempre os conselhos de um diretor espiritual ou sábio. Diminuiremos os riscos de circunstâncias imprevistas e teremos menos perturbações.

Necessidade da Prudência

Precisamos da prudência tanto para o nosso governo pessoal, quanto para a direção dos demais.

Governo pessoal: é ele que, efetivamente, nos permite evitar o pecado e praticar as virtudes. Ela que ordena a nossa vida e as demais virtudes que possuímos.

Precismos da prudência:

A) Para evitar o pecado é preciso conhecer as causas e ocasiões; procurando manipular bem os meios para não cair. Como já foi dito, inspirando-se da experiência do passado e do estado atual da alma vê o que, para nós, é ou poderia ser no futuro causa ou ocasião de pecado; com isso, a prudência nos sugere os melhores meios para suprir ou atenuar as causas, faz a estratégia para dar os melhores resultados para vencer as tentações e até mesmo para delas tirar proveito;

B) Para praticar as virtudes. Elas são os olhos da nossa alma, para verem o caminho que se deve seguir e os obstáculos que se devem evitar.

Virtudes teologais

A prudência rege as demais virtudes morais, como também, as virtudes teologais!

Quanta prudência não necessitamos no apostolado e na caridade fraterna! Ela nos organiza para agirmos com justiça e bondade, doçura e fortaleza; nos ajuda nas santas austeridades e no cuidado legítimo com a saúde; nos ajuda à dedicação ao próximo e a castidade; à vida interior e às relações.

Direção de outros ou apostolado: ajuda a prudência, por exemplo, na pregação; o que se deve dizer ou calar; a forma e maneira de dizer para conduzir as pessoas a Deus, e não afastar de si os ouvintes. Ela adapta a inteligência à Palavra Divina para persuadir, comover e converter. Também no Catecismo, na formação das crianças, para imprimir nelas os princípios da sabedoria e o caráter, que devem durar por toda a vida.

A prudência ajuda no conselho; a discernir as questões; interrogar com precisão. Ajuda a instruir sem escandalizar; conduz as almas a Deus esclarecendo e prevendo as situações. Nas nossas atividades ela nos esclarece como resolver os problemas; liderar equipes; ter eficácia nos trabalhos.

Inclui, também, a sabedoria no uso dos bens; das finanças; de si e de outrem.

Conteúdo baseado no livro COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA – Autor Adolf Tanquerey