Vida de oração

Conheça os meios para aperfeiçoar a virtude da prudência

O meio, por excelência, para aperfeiçoar a virtude da prudência é a oração

O princípio geral, que se aplica a todas as virtudes e a todas as pessoas, é voltar todos os juízos e decisões ao fim último e sobrenatural. (S. Inácio de Loyola). No entanto, esse princípio geral e fundamental não será entendido de igual modo por todas as pessoas. Os principiantes vão imaginar que o fim último seria a própria salvação. Já os mais perto da perfeição verão o fim último como sendo para a glória de Deus.

Um outro meio é o de relacionar todas as nossas atitudes às máximas que estão sempre diante de nossos olhos: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e vir a perder a  vida eterna?…”, “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-a …”,  “O que não é eterno, não é nada…” Repetir sempre cada uma dessas frases e as tornar familiar, habituando-se a viver delas, eis o meio de estabelecer em nós as bases da prudência cristã.

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Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Como viver a prudência cristã?

É preciso desvencilhar-se dos defeitos que são contrários à prudência cristã.

a) Na carne, é preciso mortificar o concupscível. O amor ao prazer de todos os modos. Fazendo isso, acabamos por combater a prudência da carne. Seria vencer a nossa constante busca de fazer as coisas para ter satisfação de algum modo, especialmente se dizem respeito a  algum pecado ou alguma  forma de acomodação. Para isso, é bom sempre refletir que as falsas alegrias desse mundo, seguidas de amargos desgostos, não são nada em comparação às alegrias eternas.

b) Rejeitar sempre e com cuidado a astúcia, o dolo, a fraude, até mesmo as más concessões para alcançar um fim  honesto, tendo como a melhor das políticas a honradez. O fim não justifica os meios.  Segundo o Evangelho, a simplicidade da pomba deve aliar-se à prudência das serpentes. A “astúcia”, que comumente lemos no Evangelho, é para não nos deixarmos envolver pelo erro.

c) É preciso mortificar os preconceitos e as paixões, pois são fontes de perturbações para o juízo. Decisões movidas pelos preconceitos podem ser falsas ou sem o mínimo de razão. Já as paixões, como o orgulho, a sensualidade, a volúpia (prazer excessivo) e o cuidado excessivo com os bens do mundo fazem-nos escolher o que é melhor sob o aspecto dos interesses temporais. Caso ocorra de ter de tomar uma difícil decisão de forma rápida, tenha um momento de meditação e oração.

d) É bom sempre fazer uma reflexão para perguntar-se por que se tomará tal ou qual decisão, tendo em vista a eternidade, e referir tudo a Deus, nosso bem último. Assim se combate a leviandade de espírito, a precipitação dos juízos ou a inconsideração.

e) Caso a hesitação e a indecisão sejam longas demais, é bom recolher-se em oração e pedir a Deus a graça da cura de alguma enfermidade espiritual que possa estar causando um espírito demasiado complexo ou perplexo, que causam falta de iniciativa. Nesse caso, vale pedir ajuda ao diretor espiritual, como também ajuda de um homem sábio, para ajudar a avaliar a questão complicada.

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De quais modo ocorrem a perfeição?

Para aqueles que já se encontram nessa luta e que têm alcançado vitórias, estando um pouco mais perto da perfeição, o aperfeiçoamento ocorre de três modos:

a) Estudando as ações e palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho, para nelas encontrar uma linha de proceder, e atraírem para si, pela oração e meditação, as disposições do Divino Mestre. Como foi fiel e silencioso, trabalhando e meditando as virtudes durante trinta anos de vida oculta, na vida pública, desmascara a presença do demônio de modo incontestável, nos ensinamentos onde revela, de modo progressivo, sua qualidade de Messias e Filho de Deus.

Seu modo de explicar as coisas, usando comparações para que as pessoas possam compreendê-Lo por séculos. Desmascara os adversários com precisão, forma os apóstolos de forma paciente, precisa e progressiva, e os prepara para Sua Paixão e Morte de cruz. Durante Sua Paixão, onde aguenta os sofrimentos morais e carnais, respondendo perfeitamente seus juízes e se calando no momento oportuno. Ou seja, Jesus soube conciliar, em todas as coisas, a prudência mais perfeita com a firmeza e a fidelidade ao dever. Também meditando nos ensinamentos e em suas palavras: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça…”, “Sede prudentes como serpentes e simples como pombas…”, “Vigiai e orai…” Meditar essa Doutrina e esses exemplos, suplicar ardentemente a Nosso Senhor Jesus Cristo que nos comunique uma parte da sua prudência, tal é o meio principal de se aperfeiçoar a alma nessa virtude.

b) Cultivarão em seguida os elementos constitutivos da prudência dos quais falamos. A saber: o bom senso, o hábito da reflexão, a docilidade em consultar outros, o espírito de decisão, o espírito de previdência e circunspecção (qualidade de quem observa com cuidado todos os âmbitos de uma questão, de uma situação, de um fato).

Enfim, sua prudência será de acordo com as qualidades assinaladas por São Tiago ao distinguir entre a verdadeira e a falsa sabedoria:

“Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre com um bom proceder as suas obras repassadas de doçura e sabedoria. Mas se tendes no coração um ciúme amargo e gosto pelas contendas, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que vem do alto, mas é uma sabedoria terrena, humana, diabólica. Onde houver ciúme e contenda, ali há também perturbação e toda espécie de vícios. A sabedoria, porém, que vem de cima, é primeiramente pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, nem fingimento. O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que praticam a paz.” (Tg 3, 13-18)

 

Conteúdo baseado no livro COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA – Autor Adolf Tanquerey