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Por que a mortificação é considerada a guarda da castidade?

Reflita sobre o que é a mortificação na castidade

No texto “Conheça os graus e as espécies da castidade conjugal e a continência”, tive a oportunidade de explicar um meio de aquisição da virtude infusa da castidade, que nos socorre em pouquíssimo tempo.

Deus sempre vem em nossa ajuda com a Sua Graça, desde que voltemos a Ele de coração sincero e com a vida nos sacramentos em dia. Nesse caso, especialmente a confissão e a Eucaristia.

Por que a mortificação é considerada a guarda da castidade

Foto Ilustrativa: Jorge Ribeiro/cancaonova.com

Existe, porém, uma pequena parcela de esforço nosso para que seja conquistado também o bom hábito da castidade. Lembre-se de que sempre tratamos das virtudes naturais e sobrenaturais. As naturais são hábitos conquistados pelo treino; as sobrenaturais dependem de Deus e de Sua ajuda para nos fazer caminhar mais perfeitamente nas virtudes.

Castidade

Falando, então, mais um pouco sobre a castidade, hoje vamos tratar de coisas que podemos fazer pelo nosso esforço. Trata-se de ações que podemos ter, para mais do que uma conquista moral, mas especialmente por amor para com Deus, do qual não queremos nos afastar.

Ajuda para a aquisição da castidade, a mortificação de prazeres sensíveis nos torna mais robustos e de decisão mais firme, quando submetemos as nossas vontades à razão ou o corpo à alma.

Mortificaremos os sentidos externos, os sentidos internos e as afeições do coração.

O corpo precisa ser disciplinado para conservar-se sujeito à alma. É desse princípio que se deriva a necessidade da sobriedade, e, às vezes, do jejum ou de algumas práticas exteriores de penitência.

O que os sentidos dizem?

Combatamos a preguiça e a moleza. Não se prolongue o sono em demasia. Em geral, ninguém deve ficar na cama pela manhã, depois de acordado, se não é possível tornar a adormecer.

No corpo, cada um dos sentidos deve ser mortificado.

No olhar, nunca deixar que fique a vaguear por sobre pessoas que lhes venham fazer cair em tentação. O olhar excita a imaginação e acende o apetite; o apetite solicita a vontade, e, se esta consente, entra o pecado na alma.

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A língua e o ouvido mortificam-se pela reserva nas conversas. Mostra, efetivamente, a experiência que muitas almas puras foram pervertidas pela curiosidade excitada por conversas imprudentes.

O tato é muito particularmente perigoso. A um sacerdote que perguntava se era conveniente tomar o pulso a uma mulher doente. São Vicente de Paulo respondeu: “É necessário evitar isso absolutamente: o espírito maligno bem se pode servir desse pretexto para tentar o são e a doente. O diabo, nesse momento, lança mão de todos os meios para apanhar uma alma. Nunca vos atrevais a tocar nem donzela nem mulher, seja qual for o pretexto.”

Os sentidos internos não são menos perigosos que os externos, e, ainda quando baixamos os olhos, as lembranças importunas e as imagens obsessoras não cessam de nos perseguir. É preciso fugir de todo e qualquer romance e novelas que contam, com detalhes, os movimentos do amor. A castidade perde-se não somente pelos atos externos, mas também pelos internos.

O poder da imaginação

Os santos nos exortam a mortificar as imaginações e devaneios inúteis. Esses são sempre acompanhados de imagens sensuais e perigosas. Não devemos dar absolutamente margem a nenhuma das duas. E isso é particularmente necessário ao sacerdote, que, em virtude da sua mesma profissão, recebe confidências sobre matérias delicadas. É certo que tem graça de estado, para não se deleitar nessas coisas, contanto que, ao sair do confessionário, não se ponha voluntariamente a recordar o que ouviu; aliás, verá a sua virtude sujeita a uma rude prova, e Deus não se obrigou a socorrer os imprudentes que vão buscar perigo.

O coração não necessita menos de mortificação que a imaginação. Apegamo-nos, inconscientemente, às pessoas que fazemos bem; estas, por seu lado, sentem-se levadas a exprimir-nos sua gratidão. Daí, afeições mútuas, sobrenaturais ao princípio, mas que, se não há cautela, facilmente se degeneram em naturais, sensíveis, absorventes. Amamo-las pelas consolações que encontramos nas relações com ela.

Para evitar tal desgraça, é preciso examinar, de tempos em tempos, se não reconhecemos em nós alguns dos sinais característicos de uma amizade excessivamente natural e sensível. Lembrança constante, conversas desnecessárias, muitas das vezes longe das vistas alheias, falar muito de si e menos de Deus, rezar muito um pelo outro, muitos elogios mútuos, queixar-se dos superiores, trocar confidências, ter tristeza em sua ausência, dar sempre um jeito para estar próximo.

Ninguém se sinta muito à vontade com a piedade de pessoas assim amadas, porque, quanto mais santas, mais atraentes são. É preciso manter distância respeitosa dessas pessoas.

Uma das mortificações mais úteis é fugir da ociosidade, aplicando-se com ardor aos estudos eclesiásticos e ao cumprimento fiel dos deveres de estado. Trata-se dos deveres próprios daqueles que se casam (cuidar da casa e da família), ou dos que se consagram (a oração, o estudo e o apostolado). Por esse meio, afastam-se os perigos da ociosidade. Se há um demônio para tentar alguém ocupado, há cem para tentar uma pessoa ociosa. Quando nos absorvemos nos estudos ou nos trabalhos próprios dos deveres de estado, enche-se o coração de bons pensamentos. Pensamos todo o tempo em santidade e nas almas que precisam de salvação. O estudo e as obras de zelo chamam por nós, e depressa nos arrancamos aos devaneios, para nos ocuparmos das realidades que absorvem melhor a nossa vida.

Conteúdo baseado no livro COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA – Autor Adolf Tanquerey