castidade

Conheça os graus e as espécies da castidade conjugal e a continência

Como viver uma das virtudes da temperança, que é a castidade

Seguindo com nossa série de textos sobre as virtudes cardeais, estamos tratando, desde a semana passada, da temperança. Como já foi explicado, as virtudes cardeais têm várias virtudes anexas; e, dentro da temperança, temos a castidade.

A castidade tem por finalidade reprimir tudo quanto há de errado nos prazeres sexuais desordenados. Ora, os prazeres sexuais têm por finalidade perpetuar a raça humana, transmitindo a vida pelo uso legítimo do matrimônio. Fora dele, toda luxúria é estritamente proibida.

Conheça os graus e as espécies da castidade conjugal e a continência

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Dizemos isso, porque Nosso Senhor foi quem deixou isso claro: “Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração” (Mt 5,28). Nesse ensino, Jesus deixa claro que não existe nenhuma atitude sensual que não seja má moralmente, configurando assim, pecado grave.

Castidade chamamos com a razão, a virtude angélica, porque nos aproxima dos anjos, que são puros por natureza. É uma virtude austera, porque ninguém chega a praticá-la sem disciplinar, sem domar o próprio corpo e os sentidos por meio da mortificação. É uma virtude delicada, que as menores faltas voluntárias as deixa embaçada. Por isso é mesmo difícil, porque não pode guardá-la senão quem luta, generosa e constantemente, contra as mais tirânicas das paixões.

Graus da castidade

O primeiro consiste em evitar, com cuidado, o consentimento de qualquer pensamento, imaginação, sensação ou ação contrária à virtude.

O segundo tende a afastar, imediata e energicamente, qualquer pensamento, imagem ou impressão que, porventura, pudesse deslustrar o brilho dessa virtude.

O terceiro, que não se adquire geralmente senão após longos esforços na prática do amor de Deus, consiste em dominar a tal ponto os sentidos e os pensamentos, que, quando se tem por dever versar questões relativas à castidade, faz-se isso com tanta serenidade e paz, como se se tratasse de assunto totalmente diverso.

Há pessoas, enfim, que, por privilégio especial, chegam a não experimentar movimento nenhum desordenado.

Espécies

Há duas espécies de castidade: a conjugal, que convém às pessoas legitimamente casadas; e a continência, que é própria daqueles que não são casados (solteiros e celibatários).

Da castidade conjugal

O matrimônio cristão é o símbolo da união santa entre Cristo e sua Igreja. Os esposos devem amar-se, respeitar-se, santificar-se mutuamente. O primeiro efeito desse amor é a união indissolúvel dos corações, e, por conseguinte, a fidelidade inviolável dum ao outro.

“Conservai, pois, ó maridos, um terno, constante e cordial amor para com vossas mulheres. Se quereis que vossas mulheres vos sejam fiéis, ensinai-lhes essa fidelidade pelo vosso exemplo. Vós mulheres, cuja honra anda inseparavelmente aliada com o pudor e honestidade, conservai, cuidadosamente, a vossa glória e não permitais sequer a mínima palavra que embace a vossa candura. Temei todo tipo de insultos, por pequenos que sejam, não permitindo nem o mais mínimo galanteio perto de vós. Quem quer que venha a elogiar a vossa formosura e elegância, deve ser-vos suspeito… e, se ao vosso louvor alguém se atreve a acrescentar o desprezo de vosso marido, ofende-vos enormemente, porque é evidente que não só vos quer perder, mas que vos tem já por meio perdida pois está já feito ao menos meio negocio com ele.” (São Francisco de Sales)

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Nada assegura melhor essa mútua fidelidade que a prática da verdadeira devoção, em particular, a oração em comum. Os homens devem ser envoltos na devoção, pois eles, sem devoção,são animais severos, ásperos e rudes. E as mulheres devem ser igualmente devotas, pois elas, sem a devoção, são sobremaneira frágeis e sujeitas a cair na perda das virtudes.

Enfim, o apoio mútuo deve ser tão grande, que ambos não deverão se irritar mais ao mesmo tempo, para que não haja feridas com as discussões. Se um estiver encolerizado, fique o outro sereno, para que a paz volte o mais depressa possível.

Os esposos respeitarão a santidade do leito conjugal pela pureza de intenção e honestidade das suas relações.

O fim primordial do matrimônio cristão é ter filhos, que serão educados no temor e no amor de Deus, que se formarão na piedade e vida cristã, para fazer deles, um dia, cidadãos do céu. O fim secundário é auxiliar-se mutuamente e suportar os trabalhos da vida e triunfar das paixões, subordinando o prazer ao dever. O sacramento do matrimônio é o remédio para as paixões que ferem a castidade.

Cumprir-se-a, pois, fiel e francamente o dever conjugal: a transmissão da vida. Tudo o quanto for contra a transmissão da vida será tido por falta grave, salvo casos especiais e acompanhados eclesiasticamente.

A moderação impõe-se no cumprimento desse dever como no uso do alimento. Já expusemos que, dentro da Temperança, no que se refere à gula, não ter a continência no comer, o uso desse prazer pode-nos conduzir à intemperança na sexualidade. Há casos em que se faz necessária a continência. O que não será possível se o prazer não estiver subordinado ao dever.

Da continência ou do celibato

A continência absoluta é um dever para todas as pessoas que não estão casadas e para aquelas que estão no estado da santa viuvez. Tanto quanto para aqueles que são chamados ao celibato pelo Reino de Deus.

A castidade é uma virtude frágil e delicada, que não se pode conservar se não é protegida por outras virtudes: a humildade, que produz a desconfiança de si mesmo e a fuga das ocasiões perigosas; a mortificação que, combatendo o amor do prazer, atinge o mal na sua raiz; a aplicação dos deveres de estado, que previne os perigos da ociosidade; o amor de Deus, que, enchendo o coração, impede-o de se entregar às afeições perigosas. Com isso, a alma pode não somente repelir os ataques do inimigo, mas até aperfeiçoar-se na pureza.

Existem dois modos de se adquirir a castidade: uma que se faz pelo treino, cuidando de cada pensamento, de cada olhar e conteúdo do que se assiste, do modo com que se veste e se relaciona. E também, como já dissemos acima, por meio dos sacramentos.

Quando nos confessamos, com o sincero propósito de nunca mais cometer nenhum pecado grave, já saímos da confissão vigiando por sobre o nosso proceder. Caso se tenha cometido novo pecado, apresse-se a confessar-se novamente com as mesmas santas disposições. Com o tempo e a infusão da graça que se faz por meio de uma confissão bem feita, vamos nos tornando mais fortes contra aqueles pecados confessados. É preciso, no entanto, o firme propósito de não mais cometer o pecado grave. Isso é o mais importante!

Entramos assim no que se chama Estado de Graça. Nesse estado, podemos nos aproximar da Eucaristia. E é nela que está boa parte desse segredo. Ela infunde em nós uma castidade infusa, de modo que, em tempo recorde, perdemos todo o impulso e contaminação que nos conduz ao pecado contra a castidade. É realmente incrível!

Convido você a fazer a experiência de confessar-se com o firme propósito de não mais cometer o pecado grave. Se cair, volte a se confessar tão logo pecou com a mesma disposição. Ao se aproximar da Eucaristia, adore o Senhor de todo o coração. Você vai constatar, na sua vida, que, em pouquíssimo tempo, você estará longe dos pecados que ofendem nossa castidade.

Até semana que vem!

Conteúdo baseado no livro COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA – Autor Adolf Tanquerey