A humildade é uma virtude que precisa crescer na alma da pessoa
No final do texto da semana passada, depois de trazer o exemplo de dois notáveis santos e um bom teólogo sobre o que pensam e como definem a humildade, hoje vamos ainda mais a fundo no assunto. Contramaré mesmo, pois nos dias atuais, humildade é sinônimo de fraqueza. Você vai ver que é bem o contrário.
Vale lembrar ainda, que todo aquele que não tem a humildade, portanto, o orgulhoso, como já foi explicado, traz em si a doce ilusão de ser Deus, ou portador de atributos divinos.
Para compreender a linguagem dos Santos a este propósito, é necessário distinguir entre a humildade em si, e a humildade como fundamento das outras virtudes.
São Tomás ensina, que a virtude da humildade é inferior às virtudes teologais, (fé, esperança e caridade), pois tem a Deus por objeto direto. É inferior também a certas virtudes morais, como a prudência, a religião, e a justiça legal que diz respeito ao bem comum; mas é superior às outras virtudes morais (exceto talvez a obediência), por causa do seu caráter universal, e porque nos submete à ordem divina em todas as coisas.
Se porém, se considera a humildade, enquanto chave que abre os tesouros da graça, e o fundamento das virtudes, é, no dizer dos Santos, uma das virtudes mais excelentes.
A chave que abre os tesouros da graça
A alma humilde não se alegra nas graças que lhe dá, antes, pelo contrário, refere a Deus toda a glória que delas provém. Os soberbos monopolizam as graças para o seu proveito e fazem dela um título de glória para si mesmos. Por outro lado, a humildade esvazia-nos a alma de amor próprio e vanglória, e assim prepara nela para a graça uma vasta capacidade, que Deus sumamente deseja encher; porque, como diz S. Bernardo, “há estreita afinidade entre a graça e a humildade”.
Fundamento de todas as virtudes
A humildade é, se não a mãe, ao menos a que nutre todas elas, sob um duplo aspecto, a saber: sem ela não há virtude sólida, com ela todas as virtudes se tornam mais profundas e perfeitas. Como o nosso orgulho é o maior obstáculo à fé, (veja só!!!) é certo que a humildade torna a nossa fé mais pronta, mais fácil, mais firme, e até mais esclarecida. É reciprocamente a fé, mostrando-nos a infinita perfeição de Deus e o nosso nada, confirma-nos na humildade.
O mesmo se diga da esperança: o orgulhoso confia em si mesmo e confia demais nas próprias forças; quase nem pensa em implorar o auxílio divino. O humilde, pelo contrário, põe toda a confiança em Deus, porque desconfia de si mesmo. A esperança, por sua vez, torna-nos mais humildes, porque nos mostra que os bens celestiais estão de tal modo acima das nossas forças que, sem o auxílio onipotente da graça, os não poderíamos alcançar.
A caridade tem por inimiga o egoísmo; é pois, no vácuo de nós mesmos, ou seja, em nosso esvaziamento, que aumenta o amor de Deus; e este, por sua vez, torna mais profunda a humildade, porque nos sentimos felizes em nos eclipsarmos diante daquele que amamos. Não há nada mais sublime que a caridade, porém, só quem é humilde a prática. Do mesmo modo, para exercitar a caridade para com o próximo, não há meio mais seguro que a humildade, que lança um véu sobre os seus defeitos, e nos faz ter compaixão das suas misérias, em vez de nos indignarmos contra ele.
A religião é mais perfeitamente praticada quando se vê que tudo se deve aniquilar e sacrificar a Deus.
A prudência exige a humildade
Os humildes refletem e a consultam antes de fazer qualquer coisa. A justiça não se pode praticar sem humildade, porque o orgulho exagera os seus direitos em detrimento dos do próximo.
A fortaleza cristã, verdadeiramente só existe naqueles que, conscientes da própria fraqueza, se apoiam no Único que os pode fortificar.
A temperança e a castidade, já vimos que supõem a humildade. A mansidão e a paciência não se praticam bem, senão quando se sabem aceitar as humilhações.
Assim pois, se pode dizer que sem humildade não há virtude sólida e duradoura, e que por ela, ao contrário, todas as virtudes crescem e se enraízam mais profundamente na alma.
Conteúdo baseado no livro COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA – Autor Adolf Tanquerey