Vamos permanecer debruçados, ainda um pouco mais, sobre a humildade. Logicamente, o nosso objetivo não é causar cansaço em você, que vem nos acompanhando há muitas semanas, mas sim procurar realçar o brilho da humildade, tão ofuscado nos dias atuais, confundido com fraqueza de personalidade ou fragilidade de metas.
Não sei se você ainda se lembra, mas, nas semanas anteriores, demonstramos como o orgulhoso é exatamente definível como sendo uma pessoa que acredita ser Deus, ou, pelo menos, portador de atributos divinos. Caso não se lembre, clique aqui pra ver o texto.
Hoje, vamos dar mais dicas ainda de como podemos trabalhar esse engano que se passa na esmagadora maioria da sociedade.
Primeiro passo é combater o orgulho
No princípio, as pessoas que se decidem pela virtude da humildade começam combatendo em si o orgulho. Procuram estar abertos aos outros, respeitando qualquer pessoa que seja e sendo benevolente a ela. Abrem-se à busca e ao conhecimento das causas das coisas, e amam a criação da forma com que Deus a pensou e ordenou. Isso tudo atentos a si mesmos, não se colocando em um pedestal por fazerem isso.
Aqueles que já estão conseguindo dar alguns passos na humildade, passam a uma nova fase: esforçam-se por imitar a humildade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para isso, é necessário meditar muitas vezes, admirar e esmerar-se em reproduzir os exemplos de humildade que Jesus nos deu na vida oculta, na sua vida pública, na sua vida padecente, e que não cessa de nos dar na sua vida eucarística.
Vida oculta x vida pública de Jesus
Na vida oculta, o que Jesus sobretudo praticava era a humildade de obscuridade. Ele ocultava Seus atributos divinos no seio da Virgem Maria; sofreu em silêncio, sendo Deus, as loucuras do édito de César; nasceu na mais completa pobreza, depois de não ter encontrado entre os homens estalagem. Submeteu-se a toda a lei. Ainda pequeno, foi obrigado a fugir de Herodes. Passou trinta anos ajudando sua mãe nos trabalhos domésticos, e seu pai nos serviços de carpintaria, subjugando-se ao comum dos homens que devem trabalhar duro para ganhar seu sustento. Ele, o Supremo Senhor do universo, que a tudo poderia ter, num piscar de olhos.
Na Sua vida pública, não cessou Jesus de praticar o esquecimento de si mesmo na medida compatível a sua missão. Rodeou-se de pessoas rudes e sem instrução, de pescadores e um publicano. Procura sempre estar entre os pobres e pecadores.
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Mesmo sendo rei, Ele teve humildade o tempo todo
Vive de esmolas e não tem casa própria. Seu ensino é simples, profundo, capaz de atingir a todos que se abrem. Utiliza de parábolas e exemplos do cotidiano. Não se faz admirar, senão instruir e mover corações. Ao fazer milagres, exige o silêncio.
Foge das popularidades. Julga as pessoas a partir do julgamento do Pai. Esquecido de si mesmo, sacrifica-se, constantemente, por Deus e pelos homens.
É isso mesmo que aparece ainda mais na sua vida padecente, em que pratica a humildade, tornando-se objeto desprezível. Jesus, a mesma santidade, quis tomar sobre si o peso de nossas iniquidades, e sofrer a pena que lhes era devida, como se fora culpado.
Traído por Judas, do qual amou todo o tempo; desamparado por seus apóstolos, não os cessa de amar; preso, maltratado, coberto de injúrias e feridas, não se queixou. Apesar de toda situação, permaneceu em silêncio; e quando respondeu, permaneceu na verdade, no amor, procurando converter a todos. Teria possibilidade de fazer milagres e mudar a sua sorte, mas permaneceu submisso à vontade do Pai.
Reflita sua postura
Com tudo isso, pense: que direito temos nós de proferir alguma reclamação ou queixa, nós que somos tão culpados, ainda quando alguma vez fôssemos injustamente acusados?
Por fim, na vida eucarística de Jesus, reproduz-se esses diferentes exemplos de humildade. Ele, no sacrário, está escondido, mais que no presépio, mais ainda que no Calvário. E quantas afrontas, quantos insultos não recebe no sacramento do seu amor, não somente da parte dos incrédulos que se recusam a crer na Sua presença, dos ímpios que profanam Seu corpo sagrado, mais ainda dos cristãos que, por fraqueza e covardia, fazem comunhões sacrílegas das próprias almas que lhe são consagradas e, por vezes, esquecem-No e deixam-No a sós no sacrário.
Por Adolf Tanquerey
Conteúdo baseado no livro Compêndio de Teologia Ascética e Mística