É possível vivermos a pureza por meio da virtude da temperança
Essa virtude, anexa à da temperança, dá-nos três disposições que nos põe em abrigo de muitos perigos: a desconfiança de nós mesmos e a confiança em Deus; a fuga das ocasiões perigosas e a sinceridade na confissão.
A desconfiança de nós mesmos precisa ser acompanhada da confiança em Deus. Muitas almas caem na impureza por orgulho e presunção. Quem está persuadido de que não é capaz de ser casto por si mesmo repete a Deus a humilde oração de São Filipe Néri: “Meu Deus, desconfiai de Filipe; aliás, ele vos trairia”.
Essa desconfiança deve ser universal. Aos que já caíram, a experiência e a desconfiança de que podem cair novamente. Aos que nunca caíram, sempre pode haver uma primeira vez. Deve-se perseverar até o fim da vida, pois, enquanto houver calor vital, o fogo da concupiscência, mesmo debaixo das cinzas, pode voltar a queimar. Impõe-se até às almas santas, pois o demônio as quer fazer cair muito mais que as almas vulgares.
Confiar em Deus
Essa vigilância, contudo, deve ser acompanhada de absoluta confiança em Deus. Ele nunca nos permitirá ser tentados acima de nossas forças. Ele nos dá a graça, imediatamente, para suportar as tentações.
Seremos sempre tentados pelo mal, a fim de que nos aproximemos do socorro divino. Por isso, ao sentir a tentação, é preciso pedir o socorro divino. A devoção e o coração voltados para Deus nos alcançará as graças necessárias.
Não se deve, pois, temer demasiado a tentação, antes de ela vir, porque esse seria o meio de a atrair; nem quando nos assalta, porque, apoiando-se em Deus, somos invencíveis!
A fuga das ocasiões perigosas deve ocorrer, por exemplo, quando se tem um relacionamento muito próximo, com simpatia mútua, entre pessoas de sexo oposto, que podem ferir o dever de estado de cada um. Por exemplo, um homem casado, muito próximo a uma outra mulher que não seja sua esposa, ou uma jovem freira demasiado próxima a um homem, ou mulher casada a um sacerdote.
Não desconsidero a possibilidade de uma amizade sadia, mas ela nunca deve ser desculpa para encontros inúteis. Também é preciso prevenir-se nos encontros necessários.
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O grande e maior amigo da esposa deve seu próprio marido e vice-versa! De modo geral, leva-nos a humildade a evitar o desejo de agradar, o qual, infelizmente, tantas quedas nos prepara. Esse desejo, que vem juntamente com a vaidade e a necessidade de afeição, manifesta-se pelo culto exagerado da própria pessoa, pelo apuro minucioso no trajar, pelo porte dengoso e afetuoso, linguagem adocicada, olhares acariciadores, hábito de elogiar as pessoas pelas qualidades externas.
Mesmo as crianças, que tem exterior agradável, caráter jovial e afetuoso, podem também ser ocasião perigosa. Gostamos de ser-lhes carinhosos, e se não houver cuidado, deixamo-nos arrastar a familiaridades que nos perturbam os sentidos. Lembremo-nos de que essas crianças têm anjos da guarda que contemplam a face de Deus; que são templos vivos da Santíssima Trindade e membros de Cristo. Então, será mais fácil tratá-los com santo respeito, sem deixarmos de lhes testemunhar a maior dedicação.
Como viver a humildade?
Dá-nos a humildade para com o nosso diretor espiritual e a clareza de consciência tão necessária para evitar os laços do inimigo. Ele quer que guardemos os seus artifícios em segredo. A humildade de desvendar-se a uma pessoa capaz de descobrir os embustes do inimigos faz cair por terra seus planos, trazendo a descoberto suas intenções. Sobretudo, à castidade aplica-se essa máxima: quando a alma tem cuidado de descobrir com candura e humildade as suas tentações a um diretor, é advertida a tempo dos perigos a que se expõe, toma os meios sugeridos por ele, a tentação descoberta é tentação vencida. Guardado esses segredos, a fim de se resolver a si próprio, facilmente cai nos laços sedutores.
Por fim, a humildade nos ajuda a fazer uma boa e santa confissão. Deve ser sincera para a aquisição das virtudes infusas. Até porque, se não o for, não terá sido válida. Uma boa confissão é a porta de entrada para crescer na intimidade com Deus e no autoconhecimento. Só teremos o remédio adequado contra o pecado se nos aproximarmos da confissão com devoção, e com o firme propósito de nunca mais cometer os pecados graves. Nunca mais mesmo! Ela nos dará os meio para isso, desde que nos arrependamos a ponto de fazer esse propósito. E mesmo que cometamos tão logo confessar, o mesmo pecado, voltemos a nos confessar com os mesmos propósitos, pois, em pouco tempo, esses pecados serão superados.
Conteúdo baseado no livro COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA – Autor Adolf Tanquerey