Aos 22 anos, em novembro de 2002, fui diagnosticada com um tumor no braço esquerdo, cujo nome era Rabdomiosarcoma Embrionário, um câncer raro em adultos. Nessa época, cursava o 3º ano de Nutrição, em Campinas (SP), e só restava mais um ano para me formar.
Saber que estava com câncer foi um choque, pois não tenho histórico familiar, era muito nova e tinha uma vida inteira pela frente, mas tentei encarar da melhor maneira possível. No entanto, no dia em que fui ao médico para saber mais informações a respeito desse tumor, ele me disse que, com o tratamento, não poderia ter filhos. Nessa hora, meu mundo desabou, senti-me impotente e não tive forças, nem mesmo para sair do lugar. Já namorava o Lucas e tudo o que vinha à minha cabeça era que, provavelmente, esse fator atrapalharia nosso futuro juntos. Mas aos poucos, fui me acalmando e entregando toda a minha vida nas mãos de Deus e de Nossa Senhora.
Tatiana Aquino testemunha sua luta contra o câncer
Sempre quis saber a verdade sobre tudo o que ia acontecer comigo, sempre pedi aos médicos que me acompanhavam que eles fossem sinceros e me contassem tudo o que iria acontecer ao iniciar o tratamento de quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Assim foi feito. Antes de cada tratamento, me informavam de todos os sintomas e, assim, podia me preparar para receber cada um deles. Confesso que não foi nada fácil, pois, além de enjoos, vômitos, falta de apetite e dores, a queda de cabelo mexeu bastante comigo. Foi uma fase difícil, com um pouco de revolta e indignação, mas com muita fé e esperança. Depois de um ano de tratamento intenso, fui curada e pude seguir minha vida normalmente. A cada dois anos, repetia todos os exames necessários para saber como estava minha saúde.
Terminei a faculdade em 2004 e me casei em 2006. Fui abençoada por Deus com duas filhas lindas: Isabela (2010) e Gabriela (2012).
Em 2014, 12 anos depois do primeiro diagnóstico, fomos pegos de surpresa por uma recidiva do tumor, ainda no braço esquerdo. Mais uma vez, todos os medos e inseguranças vieram à tona e com maior intensidade. Havia apenas dois anos que minha sogra, Maria Zila, tinha falecido por complicações dessa doença que apavora muito as pessoas. Estávamos muito sensibilizados e ainda de luto, mas ela foi uma inspiração para mim. Mulher forte, guerreira, que tinha como principal motivo para seguir em frente o seu esposo, os filhos e os netos; por isso não entregou os pontos facilmente. Então, mais uma vez, entreguei-me a Deus e à Nossa Senhora, clamando por misericórdia. Em nenhum momento pedia que Deus tivesse misericórdia de mim, e sim das minhas filhas que eram tão pequenas e dependiam muito de mim.
Assista ao testemunho de Tatiana Aquino:
Com fé, venci todos os meus medos e enfrentei mais essa batalha, fazendo uma cirurgia que durou mais de 12 horas. Foram quatro meses de quimioterapia e um mês de radioterapia que terminou em dezembro de 2014. Depois desse tratamento, precisaria fazer o controle da doença a cada três meses. Em março de 2015, fomos mais uma vez surpreendidos por mais uma recidiva. O tumor ainda estava ali no braço, mas estava descendo, o que era menos pior, apesar da sua agressividade.
Nesse momento, achei que já haveria a amputação, mas os médicos ainda queriam tentar mais uma vez, com um tratamento que não é novo, porém, no Brasil, vem sendo feito há pouco tempo: a químio-perfusão; resumidamente falando, é uma quimioterapia local feita em centro cirúrgico, permitindo que entre uma grande concentração de medicamento pelo sangue, atacando diretamente o tumor e não passando para o resto do corpo, pois essa concentração de medicamento seria muito tóxica e poderia até levar a uma parada cardíaca. Graças a Deus, consegui fazer essa químio em junho de 2015. Esperei mais três meses para fazer um novo exame.
Infelizmente, foram três meses de dor e sofrimento, porque meu braço ficou muito inchado e o edema fazia uma pressão muito grande. Eu tinha choques constantes por todo o braço e um formigamento que não tinha fim. Tive de aumentar muito todas as doses de medicação, entre elas a morfina. Enfim, o dia do exame chegou. Eu precisava ter 100% de necrose tumoral, mas graças a Deus, só tive 90%. Muitos devem estar pensando: “Mas como ‘graças a Deus?'”. Sim! Graças a Deus chegou a hora de cortar o mal pela raiz. Fazer a amputação não era só acabar com o câncer, mas para mim, significava ter qualidade de vida, principalmente poder pegar minhas filhas no colo de novo, e dar um abraço bem forte e demorado nelas, coisa que eu não podia fazer, pois o braço ficava em uma tipoia o tempo todo, e doía ainda mais se encostasse nele.
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A amputação foi feita no fim de outubro de 2015 e foi um sucesso! No começo, foi mais traumático, pois tinha de me adaptar com a falta do braço, fisicamente falando. Mas não conseguia me adaptar com a dor fantasma, ou seja, para mim o braço continuava no mesmo lugar, posição e com as mesmas dores que eu sentia antes da amputação. Pouco a pouco, fui vencendo todas as etapas. Hoje, posso dizer que as dores reduziram bastante e já estou até fazendo o desmame das medicações que eu tomava. Faço tudo que fazia antes: dirijo, cozinho e cuido das minhas filhas que conseguiram passar por tudo isso sem traumas, sabendo lidar muito bem com a situação e, principalmente, aceitando as novas condições em que me encontro: amputada.
Hoje, eu só tenho a agradecer, primeiramente a Deus e Nossa Senhora; agradecer ao meu marido, Lucas, e minhas filhas pela paciência, amor e carinho comigo. Agradecer a toda minha família pelo apoio, pois sempre estiveram ao meu lado em todos os momentos; agradecer aos meu amigos próximos e não próximos que torceram por mim; agradecer por todas as orações feitas para que eu ficasse curada.
Tudo o que passei foi um grande aprendizado de paciência, perseverança, união, amor e, principalmente, fé. Tenho certeza que me tornei uma pessoa melhor e mais humana.
Para você que está lendo este depoimento, não desista de lutar por sua família, seus filhos, amigos e por você mesmo. A hora de todos nós vai chegar um dia, mas não precisamos nos entregar na primeira dificuldade, seja ela qual for. Temos de erguer a cabeça e nos entregarmos nas mãos de Deus, pois só Ele sabe o que é melhor para nós e também o quanto conseguimos aguentar esse sofrimento.
Confie também nos médicos que estão acompanhando você, pois não tenho dúvidas de que Deus também vai estar agindo por meio deles. Além disso, o que me ajudou muito e foi fundamental na minha recuperação, foi o cuidado com a minha saúde mental. Fiz terapia quando achei necessário e nunca deixei a tristeza falar mais alto. Assim, consegui vencer, dia após dia, todos os meus medos, fraquezas e inseguranças com fé e esperança.
Hoje, considero-me uma pessoa feliz, pois estou ao lado daqueles que amo e que me fazem bem, independente de qualquer deficiência física que, para mim, é só um detalhe.
Vanda Tatiana Romani Aquino