modelo da igreja

A Apresentação de Nossa Senhora e a vida consagrada

Na memória da Apresentação de Nossa Senhora no Templo, meditemos sobre o mistério de uma vida totalmente consagrada a Deus

No dia 21 de novembro, celebramos memória litúrgica da Apresentação de Nossa Senhora no Templo de Jerusalém. Neste dia, “Maria mostra-se-nos como o templo em que Deus depositou a sua salvação e como a serva que se consagra completamente ao Senhor”1. A memória da Apresentação da Bem-Aventurada Virgem Maria, uma das festividades mais queridas da tradição oriental desde o século IV, passou a ser celebrada também no Ocidente a partir do século XIV.

Por ocasião desta celebração, comemoramos também o dia da Vida Contemplativa, ou dia Pro Orantibus, que foi instituído pelo Papa Pio XII em 21 de novembro de 1953. Nesta data, recordamos os irmãos e irmãs de vida consagrada que abraçaram a vida contemplativa e renovam, hoje, seus votos. A celebração da consagração total da Menina Maria ao Senhor no Templo é uma ocasião oportuna para agradecermos a Deus pelo dom de tantas pessoas que, nos mosteiros, se dedicam totalmente a Ele na oração, no silêncio e no escondimento do mundo.

Créditos: sedmak / GettyImagens

Ao voltar o nosso pensamento para estas vocações, podemos perguntar: que sentido e que valor tem uma consagração tão radical em nosso tempo? Pois, hoje, são numerosas e urgentes as situações de pobreza, de necessidade material e espiritual, que afligem um número incalculável de pessoas. “Por que ‘se fechar’ para sempre dentro dos muros de um mosteiro e privar assim os outros da contribuição das próprias capacidades e experiências? Que eficiência pode ter a sua oração para a solução dos numerosos problemas concretos que continuam a afligir a humanidade?”2.

Os mosteiros de vida contemplativa oferecem-se a nós como verdadeiros “oásis”

Não obstante estes questionamentos, muitas pessoas deixam suas famílias e abandonam carreiras profissionais promissoras para abraçar a regra austera de um mosteiro de clausura, suscitando a admiração de familiares, parentes, amigos e conhecidos. O que leva essas pessoas a dar um passo tão difícil e exigente? Certamente, o que leva essas pessoas a uma entrega tão radical é a compreensão de que o Reino dos Céus é um “tesouro” pelo qual vale verdadeiramente a pena abandonar tudo3. “Estes nossos irmãos e irmãs testemunham silenciosamente que, no meio das vicissitudes quotidianas, por vezes bastante agitadas, o único apoio que jamais vacila é Deus, rocha inabalável de fidelidade e amor”4.

Por vezes, sentimos necessidade de sair da rotina quotidiana das grandes cidades em busca de espaços propícios para o silêncio, a oração e a meditação. Nesses momentos, os mosteiros de vida contemplativa oferecem-se a nós como verdadeiros “oásis”, nos quais nós, que somos peregrinos nesta Terra, podemos chegar melhor às fontes do Espírito e matar a nossa sede ao longo do caminho para a Pátria Celeste. “Estes lugares aparentemente inúteis, são, ao contrário, como os ‘pulmões’ verdes de uma cidade: fazem bem a todos, também a quantos não os frequentam e talvez ignoram a sua existência”5. Podemos dizer o mesmo das Novas Comunidades e dos Novos Movimentos, que surgiram na Igreja Católica depois do Concílio Vaticano II. Neles, o Espírito Santo tem saciado a sede de muitos homens e mulheres que padecem neste mundo sequioso.

Contemplamos como Mãe e modelo da Igreja

Por todas as vidas consagradas, demos graças ao Senhor, que, na sua Providência, quis as comunidades de clausura e as novas comunidades e movimentos, para o bem da Igreja e da humanidade. Conscientes de sua importância para a Igreja e o mundo, não deixemos faltar a estas obras de Deus o nosso auxílio espiritual, com nossas orações, penitências e sacrifícios, e também material, para que elas possam realizar bem a sua missão, que consiste em manter viva, na Igreja, a fervorosa expectativa da segunda vinda de Cristo6.

Além disso, para que não lhes falte o necessário, invoquemos com confiança a poderosa intercessão da Virgem Maria que, na memória litúrgica da sua Apresentação no Templo, contemplamos como Mãe e modelo da Igreja. Nós a veneramos como modelo da Igreja, porque a Virgem Maria reúne em si todas as vocações: a virgindade consagrada e o matrimônio, a vida contemplativa e a ativa.

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Maria, Templo vivo de Deus

Assim, podemos dizer que a Virgem Maria foi o primeiro Templo vivo de Deus, no mistério da Encarnação do Verbo7, e a primeira monja, a primeira contemplativa da Igreja, depois da vinda do Espírito Santo em Pentecostes8. No seio virginal da Mãe de Deus, o Filho do Altíssimo se fez homem e, durante a gestação, encontrou nele as suas delícias. Na sua casa humilde, em Nazaré, Jesus Cristo passou a maior parte de sua vida terrena.

Todos esses motivos nos ajudam a compreender que a vida escondida de uma consagração, longe de nos afastar dos desígnios do Pai, nos ajuda a cumprir mais fielmente a Sua vontade, a exemplo de Jesus9 e de Maria10, que Lhe foram fiéis até o fim11.

Nossa Senhora da Apresentação, rogai por nós!

Por fim, recordamos que, no dia 21 de novembro de 1964, o Papa Paulo VI renovou a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria e declarou-a Mãe da Igreja12. Por isso, esta data é muito significativa para nós e é mais do que um chamado para que renovemos a nossa consagração a Santíssima Virgem Maria e a imitemos em sua entrega total a Deus, como admoestou-nos o Papa São Paulo VI: “Exortamos todos os filhos da Igreja a renovar pessoalmente a sua própria consagração ao Coração Imaculado da Mãe da Igreja, e a viver este nobilíssimo ato de culto com uma vida cada vez mais conforme à Vontade Divina, e em espírito de serviço filial e de devota imitação da sua celeste Rainha”13.

Referências

1PAPA JOÃO PAULO II. Angelus, 21 de Novembro de 1999, 2.
2PAPA BENTO XVI. Angelus, 19 de Novembro de 2006.
3Cf. Mt 13, 44.
4 PAPA BENTO XVI. Op. cit.
5 Idem.
6 Cf. At 1, 10-11; cf. 1 Tes 4, 16-17.
7 Cf. Lc 1, 26-38.
8 Cf. At 2, 1-13.
9Cf. Lc 22, 42; cf. Mt 26, 39.
10 Cf. Lc 1, 38.
11Cf. Jo 19, 25.
12 Cf. Discurso do Papa Paulo VI na clausura da terceira sessão do Concílio Ecumênico Vaticano II, 21 de Novembro de 1964.
13PAPA PAULO VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, 15.

Natalino Ueda, sacerdote diocesano, incardinado na Arquidiocese de Cuiabá, formado em Filosofia e Teologia, pós-graduado em Logotetapia e Análise Existencial, é o autor do blog Todo de Maria, que tem como temas principais a consagração a Santíssima Virgem Maria, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, e a devoção mariana.