intenção reparadora

A devoção ao Imaculado Coração de Maria

No sábado seguinte à solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que é celebrada na segunda sexta-feira depois da solenidade de Corpus Christi, comemoramos, anualmente, a memória ao Imaculado Coração da Santíssima Virgem Maria. A devoção ao Imaculado Coração de Maria remonta aos inícios da Igreja, tendo em vista que as suas raízes são bíblicas e fazem parte da tradição da Igreja.

Nas Sagradas Escrituras, encontramos duas referências ao Coração Imaculado. No Evangelho segundo São Lucas, considerado o “pintor” da Virgem Maria, a primeira menção do Coração de Maria se dá depois do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo — quando Ela ouviu as palavras dos pastores a respeito do Menino divino: “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19).

E a segunda se dá depois de Nossa Senhora e São José encontrarem o Menino Jesus no meio dos doutores no Templo de Jerusalém  — quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: “Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição”. Respondeu-lhes ele: “Por que me procurá­veis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?”. Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera. Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração (Lc 2, 48-51).

A festa do Imaculado Coração de Maria

A semente do Evangelho, plantada pelos apóstolos e discípulos de Jesus Cristo, germinou na doutrina dos Santos Padres, nos primeiros séculos da Igreja. Desenvolveu-se com os teólogos e místicos na Idade Média. Nos séculos seguintes, surgiram outros grandes devotos do Imaculado Coração de Maria. Como São Bernardo, Santa Gertrudes, Santa Brígida, São Bernardino de Sena e São João Eudes. Este último é considerado o maior apóstolo da devoção ao Imaculado Coração.

No ano de 1648, o Padre João Eudes obteve a aprovação da celebração da festa do Imaculado Coração de Maria, na diocese de Autun, França. A partir disso, a devoção tornou-se cada vez mais conhecida e a celebração da festa foi aprovada em várias dioceses.

No início do século XIX, a Santa Sé mostrou-se oficialmente favorável ao culto ao Imaculado Coração. Em 1805, o Papa Pio VII autorizou a celebração da festa para todas as dioceses e congregações religiosas. Em 1855, o Papa Pio IX aprovou a Santa Missa e o Ofício próprios do Imaculado Coração de Maria. No século XX, 8 de dezembro de 1942, na solenidade da Imaculada Conceição de Maria, o Papa Pio XII consagrou a Igreja e todo o gênero humano ao Imaculado Coração. Três anos depois, estendeu a festa do Imaculado Coração de Maria para toda a Igreja Católica.

A reparação ao Imaculado Coração da Virgem Maria

Nossa Senhora começou a revelar a devoção reparadora ao seu Imaculado Coração, a partir da sua segunda aparição em Fátima, Portugal, 13 de junho de 1917, aos três pastorinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta. A Santíssima Virgem disse à Lúcia, a mais velha das três crianças: “Ele [Jesus] quer estabelecer no mundo a devoção do meu Imaculado Coração”1. Logo depois de ouvir essas palavras, Maria apareceu aos pastorinhos com um coração na mão, todo cercado de espinhos. As três crianças compreenderam que aquele era o seu Imaculado Coração. Os espinhos e ofensas cometidas contra Ela precisavam de reparação.

Créditos: Arquivo CN

Na aparição seguinte, 13 de julho, a Santíssima Virgem concedeu a Lúcia, Francisco e Jacinta uma visão do Inferno. Na qual os demônios e as almas dos condenados gritavam e gemiam de dor e desespero. Após conceder-lhes esta terrível e assustadora visão, a virgem Maria disse aos pastorinhos: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração”2.

Nas suas aparições em Fátima, Nossa Senhora não revelou como deveríamos reparar as ofensas ao seu Imaculado Coração. Mas, prometeu que voltaria para pedir esta devoção reparadora. No entanto, as três crianças foram ensinadas a oferecer orações. Especialmente o Santo Rosário (Terço), penitências e sacrifícios pela conversão dos pecadores.

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A revelação a devoção reparadora

Somente depois de oito anos, 10 de Dezembro de 1925, em Pontevedra, Espanha, a Virgem Santíssima apareceu a Lúcia. Então, postulante na casa da Congregação de Santa Doroteia, hoje conhecida como Santuário das Aparições e local de peregrinação, revelou a devoção reparadora dos Cinco Primeiros Sábados do mês. Todavia, Lúcia hesitava em tornar pública a devoção reparadora. Após dois anos, em dezembro de 1927, por ordem de seu confessor, Lúcia deu a conhecer as palavras da Virgem Maria a respeito da devoção reparadora ao seu Imaculado Coração:

“Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar, e dize que todos aqueles que durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço, e Me fizerem quinze minutos de companhia, meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas”3.

A devoção dos sábados em honra a Maria

A consagração dos sábados a Santíssima Virgem faz parte da tradição da Igreja. O fato de Maria pedir a devoção reparadora dos primeiros sábados foi uma providencial confirmação dos Céus da antiga piedade mariana. O sábado como dia especialmente dedicado a Nossa Senhora é uma tradição que remonta, muito provavelmente, aos primórdios da Igreja. “A presença da Missa de Nossa Senhora nos Sábados, no missal romano de São Pio V, de 1570, mostra a antiguidade desta prática que consiste em honrar especialmente a Santa Mãe de Deus nesse dia da semana”4.

Apoiados nesta bela e piedosíssima tradição, os membros das confrarias do Rosário consagravam, todos os anos, quinze sábados consecutivos em honra a Virgem Maria. Durante esses sábados, “eles se aproximavam dos sacramentos e cumpriam exercícios de piedade particulares em honra dos quinze mistérios do Santo Rosário. Em 1889, o Papa Leão XIII concedeu, a todos os fiéis, uma indulgência plenária a ser ganha durante um desses quinze sábados”5.

A consagração dos Sábados e a devoção

O grande Papa São Pio X aprovou e encorajou a devoção dos Primeiros Sábados. Em 10 de Julho de 1905, o Papa Pio X indulgenciou a devoção mariana. Em 13 de Junho de 1912, o Pontífice concedeu “indulgência plenária, aplicável às almas dos defuntos, no Primeiro Sábado de cada mês, por todos aqueles que, nesse dia, se confessarem, comungarem, cumprirem exercícios particulares de devoção em honra da bem-aventurada Virgem Maria, em espírito de reparação”6.

Por desígnio da divina Providência, cinco anos depois, no dia 13 de Junho de 1917, Lúcia, Francisco e Jacinta testemunharam a primeira grande manifestação do Imaculado Coração de Maria, vendo-o “cercado de espinhos que pareciam enterrados nele. (…) Depois desta visão, os Pastorinhos intuíram:] Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria ultrajado pelos pecados da humanidade que queria reparação”7.

Os termos usados pelo Papa São Pio X são quase os mesmos do pedido de Nossa Senhora à Irmã Lúcia. Principalmente, quando ressaltam “a extrema importância da intenção reparadora, única capaz de afastar e apaziguar a cólera de Deus”8.

Depois de conhecer um pouco mais sobre a consagração dos Sábados e a devoção ao Imaculado Coração, percebemos que, nas suas aparições em Fátima e Pontevedra, a Virgem Maria não é inovadora, e sim deu a nós uma confirmação do Céu a respeito da devoção mariana. Além disso, Nossa Senhora deu um novo impulso à devoção dos Primeiros Sábados. Unindo-a com a devoção ao seu Coração Imaculado.

Como praticar a devoção dos Cinco Primeiros Sábados?

Foi a própria Virgem Maria quem nos ensinou a praticar a devoção reparadora das ofensas ao seu Imaculado Coração. Para praticar perfeitamente esta devoção — durante cinco Primeiros Sábados de cinco meses seguidos, na intenção geral de reparar os nossos próprios pecados e os de toda a humanidade cometidos contra o Imaculado Coração de Maria —, devemos realizar quatro atos de piedade:
1 – Confissão: devemos confessar-nos preferencialmente no Primeiro Sábado do mês. No entanto, caso seja impossível, ou muito difícil, podemos confessar até com oito dias ou mais antecedência. No entanto, deve-se estar em estado de graça no Primeiro Sábado do mês, para poder comungar nesse dia.

No ato da confissão, é indispensável a intenção de reparar as ofensas contra o Imaculado Coração de Maria. Esta intenção reparadora, não precisa se dita ao confessor, mas apenas colocada, em oração, antes da confissão. O Senhor disse a Irmã Lúcia que, se esquecermos a intenção reparadora, podemos colocar esta intenção na próxima confissão. Todavia, devemos aproveitar a primeira ocasião que tivermos para nos confessar;

2 – Terço Mariano: rezar o Terço, meditando qualquer um dos mistérios (gozosos, dolorosos, luminosos ou gloriosos), faz parte da devoção dos cinco Primeiros Sábados. Também deve ser rezado na intenção da reparação ao Imaculado Coração de Maria;

3 – Meditação dos mistérios do Rosário: Nossa Senhora pediu que fizéssemos companhia a ela durante pelo menos 15 minutos, meditando sobre os 15 mistérios do Rosário, igualmente na intenção da reparação ao seu Imaculado Coração. Esta meditação não precisa ser de todos os 15 (ou 20, no caso de meditar os mistérios luminosos,) mistérios do Rosário. Podemos meditar sobre apenas um, dois, três ou mais mistérios, conforme a nossa escolha pessoal;

A comunhão é essencial

4 – Comunhão: a comunhão reparadora é um ato essencial da devoção ao Imaculado Coração de Maria. Recordemos que a comunhão milagrosa, dada a Lúcia, Francisco e Jacinta pelo Anjo da Guarda de Portugal, no outono de 1916, teve um caráter eminentemente reparador. Este caráter reparador evidencia-se na oração ensinada pelo Anjo da Paz, que repetiu seis vezes, três vezes antes e três vezes depois da comunhão dos pastorinhos:

“Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido; e pelos méritos infinitos de seu Sacratíssimo Coração e do Imaculado Coração de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores.”

Na devoção dos cinco Primeiros Sábados, a intenção reparadora é importantíssima em todos os quatro atos de piedade. As ofensas contra o Imaculado Coração de Maria também ofendem gravemente o Sacratíssimo Coração de Jesus. Caso não seja possível fazê-la no sábado, pode também ser feita no domingo seguinte ao primeiro sábado do mês. Mas desde que seja por motivos justos e com a autorização de um Sacerdote.

O poder e a eficácia da devoção ao Imaculado Coração

A devoção dos Primeiros Sábados em reparação das ofensas cometidas contra o Imaculado Coração de Maria nos foi revelada para salvação dos pecadores, de muitas almas do Inferno. Muitas almas se perdem em nosso tempo. Multiplicam-se os ataques contra a dignidade, os privilégios e as honras devidas a Nossa Senhora. Além disso, há uma diminuição considerável do culto mariano em quase toda a Igreja.

A intenção reparadora nos dias de hoje

Em nossos dias, a impiedade das pessoas com a Virgem Maria é pior do que em qualquer período histórico da Igreja. Sendo assim, a intenção reparadora na prática da devoção dos Cinco Primeiros Sábados é muito mais necessária. Conscientes disso, reparemos as ofensas cometidas contra o Imaculado Coração de Maria. Tão ultrajado pela ingratidão dos homens, através da devoção que ela mesma nos ensinou.

Em sua carta a Dom Manuel Maria Ferreira da Silva, Arcebispo titular de Gurza, escrita no dia 27 de maio de 1943, a Irmã Lúcia nos ajuda a compreender melhor o poder e a eficácia sobrenaturais da devoção ao Imaculado Coração de Maria: “Os Santíssimos Corações de Jesus e Maria amam e desejam este culto [para com o Coração de Maria] porque dele se servem para atrair todas as almas a eles e isto é tudo o que desejam: salvar as almas, muitas almas, todas as almas”.

Imaculado Coração de Maria, rogai por nós!

“Nosso Senhor me dizia, há alguns dias: ‘Desejo ardentemente a propagação do culto e da devoção ao Coração de Maria, porque este Coração é o ímã que atrai as almas para mim, a fornalha que irradia na terra os raios de minha luz e de meu amor, fonte inesgotável de onde brota na terra a água viva de minha misericórdia'”9.

Conscientes da eficácia sobrenatural da reparação dos cinco Primeiros Sábados, peçamos a Virgem Maria, com insistência e perseverança, as boas disposições de nossas almas, para bem praticarmos essa devoção.

Referências e notas:
1 SANTUÁRIO DE FÁTIMA. A segunda aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria (13.06.1917), p. 4.
2 Idem. A terceira Aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria em 13 de julho de 1917, p. 6.
3 CAPELA. A devoção reparadora dos cinco primeiros sábados do mês.
4 Idem, ibidem.
5 Idem, ibidem.
6 Idem, ibidem.
7 Idem, ibidem.
8 Idem, ibidem.
9 Idem, ibidem.