Quatro virtudes

Como podemos aplicar as virtudes da fortaleza na nossa vida?

As virtudes aliadas à fortaleza

Na semana passada, nós tratamos da virtude cardeal da fortaleza. Comentamos que, junto às virtudes cardeais, existem as virtudes anexas, ou seja, aquelas que só se realizam se estiverem ligadas à primeira. Esse é o tema dessa semana: as virtudes anexas à virtude da fortaleza.

A essa virtude andam anexas quatro outras virtudes: duas que nos ajudam a praticar coisas árduas – a saber: a magnanimidade e a magnificência –; e duas que nos auxiliam a bem sofrer: paciência e constância. É o próprio São Tomás que as classificam como partes integrantes e anexas à fortaleza.

Como-podemos-aplicar-as-virtudes-da-fortaleza-na-nossa-vida

Foto Ilustrativa: MarioGuti by Getty Images

Magnanimidade

É chamada também disposição nobre e generosa para fazer grandes coisas para Deus e para o próximo. É exatamente o oposto do egoísmo, que é um elevar-se acima dos outros. O desinteresse é a marca do magnânimo.

Trata-se de uma alma nobre, com o ideal elevando em ideias generosas; é corajoso, sabe colocar sua vida em harmonia com seus ideais elevados.

São nobres sentimentos e ações. O magnânimo faz grandes ações de benevolência na liderança de equipes e pessoas. Nas coisas de Deus, tem metas elevadas de perfeição, que fica a todo custo procurando realizar. Tem uma busca incessante das virtudes. Tudo sem medo de comprometer seus bens, saúde, reputação e a própria vida.

O defeito oposto é a pusilanimidade, um temor excessivo de reveses, hesitação e falta de ação. Para evitar situações desagradáveis, a pessoa fica na inércia, fazendo nada ou quase nada, tendo assim uma vida inútil.

Vale mais expor-se a pequenas humilhações que ficar sem ação.

Magnificência

É empreender obras grandiosas, mesmo que resulte em grandes despesas.

Quando se pretende a Glória de Deus e o bem de nossos semelhantes, sobrenaturalizamos o desejo natural da realização de grandezas. Assim se vence o orgulho. Gastamos o que for preciso em bens públicos, obras de arte, construções de igrejas, hospitais, escolas e tudo o que favorecer o bem público. Busca-se superar o apego ao dinheiro e o desejo de aumentar os rendimentos. Uma excelente virtude para os que têm muitas posses! Também aos administradores, mostrando-lhes que o melhor emprego das riquezas, que a providência lhes confiou, é imitar a liberalidade e magnificência de Deus nas Suas obras.

São Vicente de Paulo não era rico. No entanto, quem pôde se igualar a ele em obras pelos necessitados?

Paciência

A paciência é a virtude que nos faz suportar, por amor de Deus e em união com Jesus Cristo, os sofrimentos físicos e morais.

Todos nós padecemos o suficiente para sermos santos, se o soubermos fazer corajosamente e por motivos sobrenaturais. Pelo contrário, preferimos reclamar, queixar-nos e praguejamos, às vezes, até a própria providência. Sofrer por orgulho ou cobiça também é o oposto da paciência. O verdadeiro motivo deve ser sempre a submissão à vontade de Deus.

Um poderoso estímulo é meditar sobre como Jesus sofreu e morreu por nós. Ele, o inocente, suportou as maiores torturas físicas e morais para nos resgatar, e nós, culpados, não nos rebaixamos a sofrer por conta dos próprios pecados e ainda para completar a Paixão do Divino Salvador. Eis aqui o segredo da paciência heroica dos santos e do seu amor à cruz.

Leia mais:
.: Conheça, reflita e se aprofunde sobre a virtude da prudência
.: Qual é o sentido que devemos dar à justiça na nossa vida?
.: Qual é a natureza da virtude de religião para nós cristãos?
.: Aprenda a buscar e encontrar Deus na sua vida diariamente

A paciência tem graus que correspondem à vida espiritual

O primeiro grau seria o sofrimento aceito como dom de Deus, sem murmurar nem se revoltar, com esperança nos bens celestes à lucrar. Aceitar querendo a própria conversão. Independente do que ocorrer, sujeita-se à vontade de Deus.

O segundo grau trata-se de abraçar, de tal modo, o sofrimento, que a alegria estará aí. Acompanha Jesus em cada etapa de seu Calvário. Admira-O, louva-O, ama-O em todos os estados dolorosos em que se encontrou no mundo. No seu presépio, na solidão, no seu exílio, nos trabalhos da vida oculta, nas humilhações e fadigas da vida pública, sobretudo em sua longa e dolorosa paixão. Imbuídos dessas motivações, sentimo-nos mais corajosos frente à dor ou tristeza; estendemo-nos amorosamente sobre a cruz, ao lado de Jesus e por amor d’Ele. A esperança do céu torna mais suportável e alegre os sofrimentos.

Assim, chega-se ao terceiro grau. O desejo e amor do sofrimento por Deus, que desejamos assim glorificar, e pelas almas, por cuja santificação queremos trabalhar. É o que convêm àqueles chamados à vida apostólica. Assim como Nosso Senhor, que ofereceu a própria vida como vítima de expiação pelos nossos pecados. Oferecer-se como vítima e pedir a Deus mais sofrimentos, quer para reparar a glória divina, quer para obter algum favor para o outro. É preciso cuidar para que não se façam esses pedidos por meio de uma generosidade irrefletida que vem da presunção. Fazem-se em momentos de fervor sensível, e uma vez passado o fervor, sente-se a alma fraca para executar atos heroicos de submissão e aceitação que se tinha feito com tanta energia. Daí provém grandes tentações de desalento e até de murmúrios contra a providência. Não se deve pedir sofrimentos se não houver o acompanhamento de um diretor espiritual prudente.

A constância

É a virtude de lutar e sofrer até o fim, sem sucumbir ao cansaço, ao desalento ou à moleza.

A virtude não será sólida enquanto não tem a sanção do tempo, enquanto não está consolidada por hábitos profundamente arraigados.

Esse sentimento de cansaço produz, muitas vezes, o desânimo e a moleza. Então, o amor do prazer e a saudade de estar dele privado retomam o predomínio, e a alma deixa-se ir ao sabor das suas más tendências.

Para combater essa fraqueza, é preciso oração. Pedir a Deus a graça da constância, assim como Ele foi constante. Em seguida, é bom meditar sobre a vida eterna: vale a pena sofrer um pouco nesta vida, tendo em vista os bens que vamos adquirir para gozar de toda uma eternidade de delícias. Lembrar-se que Deus pede de nós os esforços e não os resultados. Mesmo, então, que os frutos não sejam grandes e aparentes. A constância não exclui, pois, o descanso legítimo. Tudo está em tomá-lo em conformidade com a vontade de Deus, segundo as prescrições da regra ou de um prudente diretor espiritual.

Meios de adquirir ou aperfeiçoar a virtude da fortaleza

Àqueles que são orgulhosos e presunçosos, é preciso insistir na desconfiança de si mesmos; aos tímidos e pessimistas, propõe-se com insistência a confiança em Deus: “O que era fraco aos olhos do mundo, escolheu-o Deus para confundir os fortes. O que era nada, para reduzir a nada o que era forte” (I Cor. 1, 27).

Fortalecer sempre a convicção das grandes verdades, tais como o nosso fim último e a necessidade de sacrificar tudo para alcançar esse fim. O horror ao pecado, único obstáculo ao nosso fim.

Não se deixar arrastar pelos sentimentos de momento, muitas vezes, resultado de nossas más inclinações, rotina ou interesse pessoal. Antes de tudo, pensar na eternidade. Diga para si mesmo: “Essa ação que vou praticar aproxima-me de Deus, da minha eternidade bem-aventurada?”.

É bom prever as dificuldades e encará-las, armar-se contra elas. Dificuldade prevista é dificuldade meio vencida.

Enfim, não nos esqueçamos de que não há nada que nos torne intrépidos como o amor de Deus. Se o amor torna a mãe forte e corajosa, quando se trata de defender seus filhos, que não fará o amor de Deus, quando se encontra profundamente enraizado na alma? Não foi ele que fez os mártires, as virgens, os missionários e santos?

Conteúdo baseado no livro COMPÊNDIO DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA – Autor Adolf Tanquerey