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Doutrina Social da Igreja: a pessoa humana no desígnio de amor de Deus

As alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens de hoje, especialmente dos pobres e de todos aqueles deixados às margens da sociedade, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Jesus Cristo. Não há cenário nenhum, verdadeiramente humano, que não encontre amparo no Evangelho, porque a comunidade é formada por homens, os quais, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em direção do reino de Deus, pois receberam a mensagem da salvação para comunicá-la a todos. Por esse motivo, a Igreja está intimamente ligada à pessoa humana e à sua vida em sociedade.

O próprio Cristo orou por nós, confirmando ao Pai o cumprimento de sua misericórdia: “Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste” (Jo 17, 22-23). A Santíssima Trindade é inacessível à razão humana, mas revela uma certa semelhança entre a união das Pessoas Divinas e a união dos filhos de Deus, na verdade e na caridade.

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Foto Ilustrativa: DigtialStorm by Getty Images

Amor trinitário, origem e meta do pessoa humana

Ao procurar penetrar mais fundo no interior de si mesmo, o homem parece frequentemente mais incerto a seu próprio respeito. E, descobrindo gradualmente com maior clareza as leis da vida social, hesita quanto à direção que deve seguir. Muitas vezes, os dizeres de Jesus Cristo vão contra tudo aquilo que o mundo nos ensinou em nosso crescimento social. A ambição, o egoísmo e a busca incessável por riquezas materiais não são compatíveis com o amor, a generosidade e santidade que o caminho de Deus nos revela. Como acontece em qualquer processo de crescimento, afastar-se do mundano para seguir o divino traz consigo imensas dificuldades.

Enquanto, por um lado, o homem se vê como a mera criatura que é, certamente limitado, por outro sente o ilimitado chamado a uma vida superior. Atraído pelas mais variáveis situações cotidianas, o cristão se vê obrigado a escolher entre os valores sociais e a renunciar a lições do Evangelho. A meta da vida religiosa é, sem dúvida, perseverar no caminho do divino, livrando-se das tentações mundanas.

A salvação cristã: para todos os homens e do homem todo

A salvação que Deus oferece aos Seus filhos requer livre resposta e adesão. Nisso consiste a fé pela qual o homem se entrega livre e totalmente ao Senhor, respondendo ao Seu amor proveniente, concreto aos irmãos e com firme esperança, porque é fiel Aquele cuja promessa aguardamos.

Cada um de nós, movido pela fé com que acredita ser conduzido pelo Espírito Santo, esforça-se por discernir nos acontecimentos, nas exigências e aspirações em que participa juntamente com o próximo, quais são os verdadeiros sinais da presença ou da vontade de Deus. É a fé que ilumina todas as coisas com uma luz nova e faz conhecer o desígnio divino.

Logo, o primeiro passo para o caminho da salvação é do homem, que recebe e aceita a verdade cristã em seu coração. Depois disso, inicia-se uma luta diária, repleta de desafios e tentações, que exigem de nós o emprego da oração para aumentar nossa fé, de forma que possamos sentir a presença de Deus em todo o momento de dificuldade e identificar a vontade divina, como filhos obedientes aos ensinamentos do pai.

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O discípulo de Cristo qual nova criatura

O discípulo de Cristo adere, na fé e mediante os sacramentos, ao mistério pascal de Jesus, de sorte que o seu homem velho, com as suas más inclinações, é crucificado com Cristo. Como nova criatura, ele fica habilitado na graça a caminhar em uma vida nova. A Sagrada Escritura ensina que o homem foi criado à imagem de Deus, capaz de conhecer e amar o seu Criador.

Apesar da imperfeição humana, somos por nossa própria essência uma boa criação, como tudo o mais que Deus criou. É que após criado por Deus num estado de santidade, o homem, seduzido pelo maligno, logo no começo da sua história abusou da própria liberdade, levantando-se contra Deus e desejando alcançar o seu fim fora d’Ele. Portanto, o discípulo de Cristo torna-se nova criatura, à semelhança daquele criado diretamente pelas mãos de Deus, retornando ao seu estado original de Santidade.

Transcendência da salvação e autonomia das realidades terrestres

Não há conflito entre Deus e o homem, mas uma relação de amor na qual o mundo e os frutos do agir do homem são objeto de recíproco dom entre o Pai e os filhos, e dos filhos entre si, em Cristo Jesus. Graças a Ele, o mundo e o homem alcançam o seu significado autêntico e originário.

O cristão que se apresenta conforme a imagem do Filho, que é o primogênito, recebe as orientações do Espírito Santo, que o torna capaz de cumprir a lei nova do amor. Com efeito, já que Cristo morreu por todos nós e a vocação de todos os homens é realmente uma só, alcançar a santidade, devemos carregar conosco que o Espírito Santo nos dá a possibilidade de agir além do que pede as relações humanas, mas principalmente atender os desígnios do amor de Deus.

A pessoa humana no desígnio de amor de Deus

Toda visão totalitária da sociedade e qualquer ideologia puramente mundana do progresso são contrárias à verdade integral da pessoa humana e ao desígnio de Deus na história. Em verdade, se é possível resumir a vontade de Deus, essa se resume na manifestação do Seu amor. O próprio Cristo nos ensinou que os mandamentos são a demonstração do amor à Deus e a prática do amor ao próximo. Saibamos, portanto, amar, para que possamos cumprir, de forma fiel e definitiva, o desígnio do amor de Deus por nós.

REFERÊNCIAS:

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.

PAULO VI. Constituição Pastoral Gaudium et spes. Dado em Roma em 07 de dezembro de 1965.

 

 


Luis Gustavo Conde

Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos; palestrante focado na doutrina cristã; advogado, tecnólogo e professor. Dúvidas, sugestões e agendamento de formações: luisguconde@gmail.com