Ninguém combate parado; o soldado parado perde a guerra. Entendemos, então, que combater é movimentar-se, é ter atitudes, sair do estado de comodismo. Estar isolado socialmente não significa ter que estar estagnado em si mesmo. Em tempos difíceis, em circunstâncias de pandemia e tantos atritos políticos e sociais, percebemos que somos chamados a viver uma fé autêntica no Ressuscitado.
Uma vez que não podemos estar reunidos na comunidade eclesial, esta que tantas vezes nos fortalece, o desafio torna-se manter uma vida mergulhada em Deus em nossa realidade atual. A nossa casa é uma Igreja doméstica, lugar onde Deus habita – como dizia São João Paulo II – e ali Ele deseja ser celebrado. No entanto, devemos considerar que celebrar a presença de Deus em nossa casa não é somente pararmos para, piedosamente, assistir à Santa Missa pela TV ou outro ato religioso, mas somos convidados a celebrá-Lo em cada ato do nosso dia a dia. Deus tem sido celebrado na maneira como você trata a si mesmo, os seus pais, filhos, irmãos?
O Catecismo da Igreja Católica, nº 142, cita um trecho da Dei Verbum onde diz: “Por sua revelação, o “Deus invisível, levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos, e com eles se entretém para os convidar à comunhão consigo e nela os receber” (DV 2). A resposta adequada a este convite é a fé”. Deus está, a todo momento, atraindo você, porque deseja ser seu Amigo, Ele sabe que somente quando você se render a Ele encontrará a saciedade dos anseios mais profundos do seu limitado coração. A fé é a entrega total a Ele, mesmo enquanto lutamos, pois devemos fazer a nossa parte. “Pela fé o homem submete completamente sua inteligência e sua vontade a Deus.” (Catecismo da Igreja Católica, 143)
Combatente e confiante em Deus
Será que, diante de tantas notícias caóticas, estamos lançando o nosso olhar de confiança a Deus ou paramos no caos? São Francisco de Sales, no livro “Palestras Íntimas”, ensina-nos que a confiança nasce de um coração que conhece a si mesmo, pois vê claramente suas realidades e percebe-se necessitado de abandonar-se n’Aquele que tudo pode. “Quanto maior for esse conhecimento, maior será a nossa confiança na bondade e misericórdia de Deus, porque entre a misericórdia e a miséria há uma certa ligação, e esta é tão grande a ponto de uma não poder se exercer sem a outra. […] Vedes, portanto, que quanto mais miseráveis nos vemos, maior motivo temos para confiar em Deus, visto não termos em nós coisa nenhuma que possamos gloriar-nos. É pelo conhecimento das nossas imperfeições que conseguimos a desconfiança de nós próprios” (p. 59). É tempo de confiarmos nossos limites Àquele que é Senhor de todas as coisas.
Muitos reclamam do isolamento social, mas não percebem que vivem a tanto tempo isolados em si mesmos, e isso denota uma fé imatura, pois está centralizada no egoísmo e na busca de si. O Deus que acreditamos é o Deus que se doa, entrega-se a todo instante em Amor àqueles que não merecem, como você e eu. Acreditar n’Ele é assumir a vida d’Ele em nós, pois a fé verdadeira é a configuração n’Aquele que creio. É importante termos a consciência de que não basta ter uma fé individualista e fechada em si mesmo, porque crer em Deus até o demônio crê: “Crês que há um só Deus. Fazes bem. Também os demônios creem e tremem” (São Tiago 2,19). Nossa fé, contudo, deve ser vivida, praticada, manifestada e externalizada em atos concretos. Será que tenho percebido aqueles que estão precisando de minha ajuda? É sempre bom relembrarmos do que dizia São Tiago: “Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma” (São Tiago 2,17).
Permaneça ao lado de Deus sempre
O combate da fé é um caminho que se traça ao lado do próprio Deus, e Ele vai modelando a alma combatente, permitindo realidades de provas para que a fé seja, de fato, purificada e verdadeira, não apenas fundamentada naquilo que se vê e nas facilidades da vida. Por isso, cabe a nós, quando não entendermos o que se passa, vivermos o abandono em Deus, dando a Ele o nosso fiat como Maria. A Santíssima Virgem Maria é aquela que nos “precede na peregrinação da Fé” (Lumen Gentium 58)
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Em cada situação difícil que ela viveu, Maria jamais deixou de crer que Deus estava cuidando de todas as coisas. A fé não anula as dificuldades, mas nos fortalece para as encararmos, lançando um olhar além dos próprios desafios. Sejam quais foram os seus desafios, não permita que o seu coração deixe de acreditar que existe um Deus que está ao seu lado para levantá-lo e mostrar-lhe que além da dor há vida plena.
O teólogo Garrigou Lagrange, em seu livro “A Mãe do Salvador e nossa vida interior”, diz que, em todas as fases da vida de Nossa Senhora, ela acreditou. “Na Natividade, ela vê seu Filho nascer em um estábulo, e crê que Ele é o Criador do Universo” (p. 112). Ele diz também que, quando Maria está aos pés da Cruz, Ela acredita que está verdadeiramente diante do Filho de Deus. Ela recebeu “a fé infusa, a mais alta que jamais existiu” (p. 112).
Sigamos o exemplo de Maria
Maria foi aquela que melhor soube combater na fé diante das adversidades da vida. Somos filho dela. Sigamos seu exemplo, pois, ao agirmos assim, honraremos nossa linhagem de sermos consagrados pelo batismo e predestinados a combater, tendo na alma, já nesta terra, o gozo de celebrar a Vitória do Ressuscitado motivados pela sedenta espera de, um dia, estarmos diante de Suas chagas gloriosas.
“A nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, proporciona-nos um peso eterno de glória incomensurável.” (II Coríntios 4,17)
Sermos combatentes na fé, em tempos difíceis, é nos colocarmos em marcha mesmo quando não vemos sinais de êxito no caminho, pois compreendemos que a Glória Eterna é reservada para aqueles que marcharam até o fim. A pior derrota é quando nós mesmos nos declaramos derrotados, entregando-nos ao desânimo, fazendo-nos de vítimas para justificar a nossa covardia. Eu escrevi em meu livro ‘O Segredo de Ser Você’ que “… acreditar é muito mais que um simples mecanismo mental de pensar positivo. É confiar que Deus está cuidando de tudo e permanecer Nele, porque a fé é uma adesão aos planos do Senhor e me leva a esperar Naquele que está acima de tudo” (p. 78). Se o combate é difícil, é que porque Deus quer forjar soldados valentes. Não volte atrás! Não assuma o fracasso uma vez que já tens a vitória da Cruz em suas mãos!