Quando o ciúme se torna prejudicial para a pessoa?
O bebê, quando ainda está sendo amamentado no peito, e a mãe conversa com outra pessoa, às vezes se engasga e, com isso, logo chama a atenção da mãe. Pode até não ter engasgado por isso, mas descobre que, quando tosse, a mãe para e dá toda atenção a ele. O irmão mais velho também sente ciúme quando nasce mais um filho.
Pode parecer estranho, mas até os maridos, quando percebem que a esposa prioriza o bebê, também têm ciúmes. Uns manifestam seu ciúme falando do sentimento, outros adoecendo, brigando, errando para chamar à atenção, e outros negam o seu sentimento.
A manifestação do sentimento é importante e necessária, mas é mais significativa a auto-observação, ou seja, verificar o que você está temendo perder.
É uma ameaça real ou imaginária? É resultado do comportamento da pessoa que você ama ou é fruto da sua desvalorização pessoal?
Pare e pense
Procure avaliar se, na sua infância, adolescência ou juventude, o sentimento sempre foi presente. Os fatores desencadeantes do ciúme sempre são os mesmos? Você sentia ciúme dos seus amigos? Posse pelos seus melhores amigos? Sentia ciúme da atenção que as professoras ou outros adultos davam a um amigo? Seus pais tinham muito ciúme de você? Eles tinham muito ciúme entre si? Você aprendeu que ciúme é prova de amor e que por amor vale tudo?
As mulheres, pelos fatores sociais, são mais aceitas quando expressam ciúme; já os homens tendem a não o expressar, e buscam ainda negar o sentimento, deixando crescer dentro dele outros sentimentos negativos.
A análise do ciúme que você sente ou que alguém sente de você é importantíssima. O ciúme pode ser sintoma de uma doença mental, o que chamamos de “ciúme patológico”. Segundo Geraldo J. Ballone, “além da análise dos sintomas, investigando a natureza da preocupação de ciúme e a força da crença, é fundamental avaliar também o sofrimento gerado tanto para o indivíduo que o sente quanto o do outro que é o objeto desse ciúme; verificar o grau de incapacitação no trabalho, na vida conjugal, no lazer e na sociabilidade; ver ainda o risco de atos violentos e a qualidade global do relacionamento.”
O que pode gerar uma predisposição
Deve-se, ainda, considerar os fatores de predisposição emocional, como os sentimentos de inferioridade e insegurança, os transtornos psicológicos atuais ou anteriores, as experiências passadas de separação ou traição, traumas de relacionamento dos pais. Os fatores precipitantes merecem atenção, como é o caso do estresse atual, das perdas, mudanças e comportamentos provocativos do outro.
É sempre necessária uma avaliação cuidadosa e global em cada caso em particular. O que aparece no ciúme patológico é um grande desejo de controle total sobre os sentimentos e comportamentos do companheiro. Há ainda preocupações excessivas sobre relacionamentos anteriores, as quais podem ocorrer como pensamentos repetitivos, imagens intrusivas e ruminações sem fim, sobre fatos passados e seus detalhes.
Ciúme seria, então, um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos de alguma ameaça à estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo valorizado. As definições são muitas, tendo em comum três elementos: ser uma reação frente a uma ameaça percebida, haver um rival real ou imaginário, a reação visa eliminar os riscos da perda do objeto amado.
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Atitudes violentas
O potencial para atitudes violentas é destacado no ciúme patológico, despertando importante interesse na psiquiatria forense. As estatísticas policiais sobre as vítimas do ciúme patológico normalmente estão distorcidas, tendo em vista o fato de as mulheres raramente darem queixa das agressões que sofrem por esse motivo. O ciúme patológico pode até motivar homicídios, e muitas dessas pessoas sequer chegam aos serviços médicos.
Para Palermo, “a maioria dos homicídios seguidos de suicídio são crimes de paixão, ou seja, relacionados às ideias delirantes de ciúme patológico. São, geralmente, crimes cometidos por homens com algum problema psicoemocional, desde transtornos de personalidade, alcoolismo, drogas, depressão, obsessão, até a franca esquizofrenia” (Palermo, 1997).
Preste atenção no seu comportamento
Faça sua análise, não se culpe nem tente se rotular, muito menos rotule os outros. É importante verificar que, muitas vezes, os meios de comunicação de massa, por meio de novelas, filmes etc., dão aos artistas papéis de pessoas que têm ciúme patológico.
Os ouvintes desavisados correm dois riscos: achar que é natural desconfiar, bisbilhotar, invadir privacidade, perseguir ou começar a imitar comportamentos característicos da patologia por acreditar que, assim, terá o controle do comportamento do parceiro.
Outra variável que influencia o comportamento da população é que a infidelidade e a mentira estão presentes, com frequência, em vários personagens de telenovelas, o que pode gerar também a banalização dos relacionamentos afetivos ou alimentar as fantasias de traições e desconfiança excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no relacionamento interpessoal e afetivo. Aproveite para questionar que benefícios e malefícios as programações da TV têm trazido para a sua saúde mental.
Cláudia May Philippi
Membro da Comunidade Canção Nova – Segundo Elo