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No Carnaval, quando as máscaras se vão, o que resta?

Nas máscaras caídas, após uma grande noite de carnaval, podem ser encontrados pedaços de pessoas

Existe um velho ditado popular que diz: “Vão-se os anéis e ficam-se os dedos!”. Fazendo um trocadilho, podemos dizer que, no carnaval, vão-se as máscaras e ficam….?

Nas máscaras caídas, após uma grande noite de carnaval, podem ser encontrados pedaços de pessoas. Olhando mais de perto, encontramos as lágrimas daqueles que saíram envolvidos por uma máscara e, por alguns dias, transformaram-se em grandes atores fazendo o papel de uma vida que não lhes pertencia, e, por fim, caíram no chão, como o resto de suas fantasias.

No Carnaval, quando as máscaras se vão, o que resta?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A palavra “persona”, no uso coloquial, significa um “papel social” ou “personagem” vivido por um ator. É uma palavra italiana derivada do latim e que se refere a um tipo de máscara feita para ressoar a voz do ator (per + sonare = “soar através de”), permitindo que fosse bem ouvida pelos espectadores, assim como dar ao ator a aparência exigida pelo papel. A máscara é usada para fazer ecoar um personagem.

Você prefere ser ou representar?

Personagens, no entanto, são os objetos de uma história. Pode ser um homem ou animal, mas sempre é um ser fictício, um objeto ou qualquer coisa que o autor quer representar.

Personagens são encontrados em obras de literatura, cinema, teatro, televisão, desenho, videogames, marketing. Existem para isso, ou seja, são seres irreais que dão forma a uma ideia. Nós não somos personagens, não precisamos de máscaras para inventar nossas histórias, não precisamos nos servir delas para que a nossa voz seja ecoada, pois Deus nos criou à Sua imagem (cf. Gn 1,27), por essa razão, não devemos agir como escravos das máscaras que fomos colocando ao longo da vida.

Neste carnaval, você pode escolher entre o ser e o representar, mas se lembre de que todos nós somos frutos de nossas escolhas e devemos conviver com as consequências delas. Não são poucos os jovens que, durante esses dias de festa, decidem-se por representar com o uso das drogas, da violência e do sexo desregrado e sem limites; mas, no fim de 4 dias de “folia”, o ser está despedaçado, como objetos que foram usados e depois jogados fora.

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Portanto, ao longo do caminho, mesmo que pedaços de nós estejam no chão, somos chamados a recolher nossos cacos, levantar a cabeça, e recomeçar, sem máscaras, livres, pois já não somos mais escravos, mas filhos, e como filhos também somos herdeiros: isso é obra de Deus (cf. Gl 4,7).

Assim, vão-se as máscaras e ficam os filhos, eleitos, livres, criados à imagem e semelhança do Pai.

Ricardo Gaiotti
Advogado, Juiz Eclesiástico e Mestre em Direito Canônico pela Universidade de Salamanca (Espanha) e Mestre em Direito Civil pela PUC-SP