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Qual a consequência da mentira no nosso cérebro?

Por definição, a mentira é o ato de mentir; de enganar, falsidade, fraude. O mentiroso é considerado o sujeito que possui o hábito de mentir.

Quando nos deparamos com uma criança mentindo, entendemos como um processo natural de tentativa de manipulação da realidade, em que a fantasia da criação se faz presente com uma maior intensidade em busca da satisfação de seus desejos. Cabem aos pais e responsáveis corrigir, orientar, amparar e apresentar a necessidade de aprender a lidar com a realidade; mesmo que não seja a desejada. Assim, evita-se que esse “pequeno ser humano”  possa entender que: se a realidade não for agradável, ele pode recorrer à mentira.

Usar o cérebro para imaginar histórias ajuda a aumentar a criatividade, mas é importante fazer isso com cautela. “Brincar” de mentir é saudável, só não pode ultrapassar as barreiras e acreditar naquilo que não existe de verdade. O bom e velho “faz de conta” tem a sua devida importância para o desenvolvimento. Porém, um faz de conta em que a fantasia é transparente para todas as partes envolvidas; evitando-se, assim, a ideia de enganar alguém.

Créditos: Rawpixel by GettyImages/cancaonova.com

Todo mundo mente?

Profissionais de diferentes áreas concordam que todo mundo mente, distorce e apresenta a verdade favorecendo um ponto de vista que lhe seja mais interessante. Atitude concebida como necessária para a manutenção das relações sociais, amparada na expressão “não dá para falar tudo que pensa o tempo todo”. Isso diz mais sobre o omitir julgamentos e pensamentos, a fim de evitar magoar o outro.

Essa busca de poupar o outro das decepções decepciona mais ainda, pois o mentiroso se torna uma pessoa indigna de confiança, desse modo, resulta no distanciamento e fim das relações.

Fisiologicamente falando, os lóbulos frontais são os grandes responsáveis pela manipulação dos pensamentos que representam uma importante aquisição neurobiológica da espécie humana. É nesta região que a decisão de omitir um fato, criar uma história ou mentir acontece. Essa mesma região também é responsável pelo nosso senso crítico, o famoso “juízo”, ou bom senso.

O risco para o mentiroso

A mentira exige mais do cérebro do que apenas o relato dos fatos. Para mentir, uma pessoa deve, primeiro, omitir a verdade, em seguida, elaborar uma fala alternativa convincente para o outro, ao mesmo tempo que se preocupa em esconder os sinais físicos do nervosismo. Ou seja, é um processo que implica em um maior uso dos recursos cognitivos do que quando se diz a verdade.

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Quando uma pessoa percebe que obteve êxito em seu empenho em mentir e conseguiu conduzir o entendimento da outra pessoa, corre-se o risco de sentir-se desafiada a praticar mentiras mais elaboradas. O risco, que o mentiroso corre, de ser desmascarado torna-se atrativo, pois é envolvido pela adrenalina e encanto por superar mais um obstáculo, o que o faz mais ousado nas próximas mentiras.

O mentiroso pode enfrentar uma patologia: a mitomania, que tem como principal característica a tendência incontrolável de contar mentiras, desde pequenos detalhes até histórias fantasiosas. No caso do mitômano, as mentiras não são para “levar vantagem” ou “enganar”, muitas vezes, podem esconder doenças psíquicas ou traços de uma personalidade fragilizada que precisa de ajuda especializada.

Comportamentos prejudiciais

Para a psicóloga Daniela Faertes, especialista em terapia cognitiva e mudança de comportamentos prejudiciais, os casos normalmente começam com mentiras menores — que a princípio soaria como se a pessoa tivesse necessidade de chamar atenção ou que remetesse a maior aceitação dentro de um grupo —, até que a quantidade delas  crescerá, a ponto do mentiroso começar a se perder nas próprias narrativas, sem mensurar mais este alcance.

Os mitômanos podem mentir para se beneficiar de alguma forma, mas, algumas vezes, pelo mau hábito em si, as histórias inventadas são contadas naturalmente, sobre assuntos triviais do cotidiano. Mas o fato ainda pode se agravar, quando os temas criados são mais complexos e a repercussão disso é maior.

Uma característica comum dos mitômanos é a necessidade de ter atenção, reconhecimento e, principalmente, admiração. As fantasias contadas tendem a ser para elevá-los de alguma forma. Por isso, está diretamente relacionada aos indivíduos com baixa autoestima. Mas há outras classificações de mitômanos.

Em todos os casos, necessitam de acompanhamento profissional para tratar o vício na mentira.

Karina Maria da Luz

Psicóloga