O impacto transformador de São João Paulo II no mundo
Neste mês especial em que celebramos o aniversário de canonização de São João Paulo II, refletimos sobre o impacto transformador de Karol Wojtyła. Esse grande Papa não apenas contribuiu para a abertura das portas para Cristo, mas pediu que as portas ficassem escancaradas. Sua vida é um exemplo para toda a humanidade assumir uma vivência da fé de maneira autêntica e corajosa.
João Paulo II que conheci
Tive a graça de me encontrar pessoalmente com João Paulo II em quatro ocasiões, experiências que marcaram profundamente minha vida espiritual. Antes disso, nunca imaginara que, um dia, estaria diante de um Papa. Cada encontro revelou uma presença carismática que transcendia formalidades.
Como missionário da Comunidade, fui enviado a Roma em 2002, acompanhando os últimos três anos de seu pontificado. No Pontifício Conselho para as Comunicações (atual Dicastério), participei de Assembleias anuais que incluíam audiências com ele. Nessas ocasiões, testemunhei sua capacidade de acolher carismas diversos, como destacou em documentos sobre a Igreja. Durante visitas Ad Limina, também tive acesso a momentos íntimos, como missas particulares, onde sua resiliência física contrastava com a serenidade interior que mantinha mesmo em meio ao sofrimento.

Créditos: Acervo pessoal / Rodrigo Luiz com São João Paulo II.
Suas breves palavras, embora simples, transmitiam autoridade espiritual, e seu olhar, profundidade humana. O olhar e a oração foram os elementos que mais me impactaram. Em uma missa privada em Castel Gandolfo, observei-o em profunda adoração diante do Santíssimo Sacramento, com um livro nas mãos e um silêncio que irradiava intensidade contemplativa — a Eucaristia era o centro de sua vida, conforme sempre ensinou.
“Não tenhais medo!” – Um chamado à coragem
Desde o início de seu pontificado, em outubro de 1978, João Paulo II proclamou com força: “Não tenhais medo! Abri as portas para Cristo!”. Essa exortação tornou-se um marco de sua liderança espiritual e um convite universal para superar os medos e desafios do mundo moderno. Ele acreditava que a Igreja não deveria se esconder ou ceder às pressões do secularismo, mas estar presente nas realidades do mundo, levando a mensagem de Jesus Cristo como resposta às aspirações mais profundas da humanidade.
Até então, minha geração, nascida na década de 80, não tinha conhecido outro Papa devido ao seu longo pontificado. Por isso a partida dele foi muito triste, mas, ao mesmo tempo, a certeza de sua santidade nos fazia senti-lo tão perto de nós. Suas palavras e gestos permanecem muito vivos.
O dia do funeral atraiu uma multidão à Praça São Pedro, desde simples fieis até as mais altas lideranças civis e religiosas do mundo. Eu estava lá quando houve o anúncio do falecimento de João Paulo II. O fundador da Canção Nova, Padre Jonas Abib, estava conosco. Devido ao agravamento da saúde do Papa, Padre Jonas quis estar próximo do Santo Padre naquele momento. Tínhamos acabado de sair da Rádio Vaticano e fomos para a Praça São Pedro quando acompanhamos a notícia dada pelo Cardeal Leonardo Sandri: “Caros irmãos e irmãs, às 21h37, o nosso amado Papa João Paulo II voltou à casa do Senhor. Rezemos por ele”.
Um pontificado marcado pela santidade e pela missão
João Paulo II, com seu testemunho de vida e magistério, ensinou a coragem para seguir a Jesus até às últimas consequências. Ele nos ensinou a dar sentido ao sofrimento, lutou para superar os muros de divisão e se doou para construir pontes de unidade. O terceiro pontificado mais longo da história evidenciou a força dos jovens na Igreja com o início das Jornadas Mundiais da Juventude.
A vida do Papa polonês deixou marcas de resiliência, esperança e misericórdia. Como Papa peregrino, percorreu o mundo, levando a mensagem de misericórdia e esperança, mesmo em meio a sofrimentos pessoais e desafios globais. Papa das famílias e da paz, colocou a Eucaristia no centro e, em tudo, se deixou conduzir por Maria. Impelido pelo Espírito Santo, soube acolher e impulsionar Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades para uma nova evangelização.
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São João Paulo II foi um verdadeiro apóstolo da nova evangelização. Seu pontificado foi caracterizado por uma incansável busca pela unidade entre os povos e pela promoção da santidade. Ele canonizou mais santos do que qualquer outro Papa na história, enfatizando que a santidade é o chamado universal de todos os fiéis.
Além disso, sua vida foi um testemunho vivo de entrega. Mesmo em meio ao sofrimento físico causado pela doença nos últimos anos de sua vida, ele permaneceu firme em sua missão. Sua capacidade de transformar adversidades pessoais em oportunidades para anunciar o Evangelho inspirou milhões ao redor do mundo.
O Papa dos jovens e das famílias
João Paulo II tinha um carinho especial pelos jovens e pelas famílias. Ele foi o idealizador das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), eventos que continuam a reunir milhões de jovens em torno da fé cristã. Para ele, os jovens eram “a esperança da Igreja”, e os convidou a levar a Cruz de Cristo ao mundo. Um sinal do amor de Jesus pela humanidade.
A família também esteve no centro de seu magistério, defendendo-a como “a célula fundamental da sociedade”. Sua visão sobre a sacralidade da vida e a dignidade humana continua sendo um guia para enfrentar os desafios éticos e morais dos tempos atuais.
Karol Wojtyła: Um homem de oração e diálogo
Karol Wojtyła era um homem profundamente enraizado na oração. Sua espiritualidade mariana, expressa no lema Totus Tuus (“Todo Teu”), refletia sua total confiança na intercessão da Virgem Maria. Ele vivia uma intensa comunhão com Deus, especialmente na Eucaristia, que era o centro de sua vida espiritual.
Além disso, ele foi um grande promotor do diálogo inter-religioso e ecumênico. Durante seu pontificado, trabalhou para melhorar as relações da Igreja Católica com outras religiões, incluindo o judaísmo e o islamismo. Sua visita à Polônia, em 1979, é considerada um catalisador para a queda do comunismo na Europa Oriental, mostrando como fé e coragem podem transformar realidades políticas.
Lições para a geração atual
Agora, João Paulo II é santo, e sua santidade é um grande legado para a geração atual. Há um enorme magistério a ser conhecido e vivenciado, sua história de superação de momentos difíceis como perda de familiares, regimes ditatoriais. Por meio da arte, da razão e da fé, Karol Wojtyla vivenciou o amor e a responsabilidade. Ele nos aponta a sacralidade da vida ao afirmar que “o corpo foi criado para transferir para a realidade visível do mundo o mistério oculto da eternidade em Deus”.
São João Paulo II nos deixou lições preciosas sobre como viver nossa fé diante de um mundo cada vez mais caótico. Ele nos ensinou que a verdadeira felicidade está no dom de si mesmo e que não devemos nos conformar com uma vida marcada pela mediocridade ou superficialidade espiritual. Seu exemplo nos inspira a abraçar os desafios com esperança e confiança em Deus. Ele nos lembra que abrir as portas para Cristo significa permitir que Ele transforme nossa vida e nos capacite a ser luz para os outros.
Celebramos São João Paulo II como um farol de esperança para os tempos atuais. Karol Wojtyła foi mais do que um líder religioso; ele foi um homem que viveu radicalmente o Evangelho e nos mostrou que é possível escancarar as portas para Cristo mesmo diante das adversidades. Que seu legado continue a inspirar gerações a viver com coragem, fé e amor incondicional.
O Papa João Paulo II morreu em 2 de abril de 2005, aos 84 anos, encerrando um pontificado de 26 anos. Foi sucedido pelo Papa Bento XVI, que anunciou a beatificação de João Paulo II em maio de 2011. Três anos depois, em 2014, foi canonizado pelo Papa Francisco e passou a ser chamado de São João Paulo II.
Rodrigo Luiz dos Santos
Missionário na Canção Nova, Rodrigo Luiz formou-se em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova. É casado com Adelita Stoebel, também missionária na mesma comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.