⛪PAPA FRANCISCO

Papa Francisco: o magistério dos gestos

Francisco: a partida de um líder espiritual

O falecimento do Papa Francisco tem causado grande comoção em todos os cantos do orbe! Nesta hora sensível da história da humanidade, a morte desse personagem gigante nos põe a todos – cristãos e não cristãos, crentes e não crentes – em atitude de reflexão. Por que, ainda hoje, em tempos de forte secularização, a morte de um Papa se torna a principal notícia a ser dada e o principal assunto a ser comentado em todos os meios de comunicação?

Créditos: Domínio Público

O ministério do Bispo de Roma, de per si, é permeado de fortes simbolismos. O homem que desempenha esse ofício goza de poder espiritual e político. Ele é o pastor de uma Igreja Particular, a Diocese de Roma, e por isso mesmo é o Papa da Igreja Católica Apostólica Romana. Além disso, ele é o soberano da cidade estado do Vaticano. Na figura do Papa estão conjugadas as forças efetivas e simbólicas do poder espiritual ou pastoral e do poder político.

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Durante todo o pontificado do Papa Francisco, o que mais tocou as mentes e os corações não foram tanto os seus discursos, sempre permeados de muito realismo e compromisso histórico-transformador, mas sim os seus gestos. Analisando, acuradamente, o seu papado é possível falar de um magistério dos gestos.

Ele anunciou, vigorosamente, o Evangelho, por meio de gestos concretos, aos católicos, aos cristãos de outras denominações, aos adeptos de outras religiões e aos não crentes.

O Gesto de Francisco: Encontro pela paz e solidariedade

De todos os feitos do pontificado do Papa Francisco, o que mais me fez refletir foi a sua visita ao Aiatolá Ali al-Sistani na periferia da cidade de Najaf, sul do Iraque, aos 6 de março de 2021! Enquanto Bispo de Roma e Sucessor do Apóstolo Pedro, consciente do seu dever apostólico, o Papa foi a uma das zonas mais perigosas do mundo, pôs a sua vida em risco e se encontrou com a grande autoridade espiritual e política do Iraque, pós-invasão dos EUA, para suplicar em favor da minoria cristã perseguida e das outras minorias religiosas presentes no território iraquiano.

A hermenêutica espiritual desse gesto é a seguinte: o Sucessor de Pedro, na cátedra da Igreja de Roma, intercedeu em favor de uma Igreja Mártir e, consciente da universalidade da sua missão, intercedeu em favor dos homens e mulheres de boa vontade que, mesmo não professando a fé cristã, são criaturas amadas de Deus!

Além do gesto acima mencionado, o Papa Francisco também parou à beira da estrada para abençoar doentes, comeu ao lado dos pobres, beijou os pés de presidiários condenados por crimes diversos, beijou os pés de líderes políticos africanos de territórios em conflito, foi ao encontro dos migrantes, fez chamadas telefônicas a pessoas que padeciam por dramas profundos etc.

A sentida comoção e a grande repercussão causadas pela morte do Papa Francisco são respostas espontâneas aos gestos que ele realizou durante o seu ministério pontifício. É impossível analisar o seu legado sem recordar um pensamento atribuído a São Francisco de Assis, santo que inspirou o seu pontificado: “Pregue o Evangelho a todo momento. Se necessário, use palavras”. Papa Francisco, a Igreja e o mundo lhe são, imensamente, agradecidos pela eloquência do seu magistério dos gestos!

Pe Robison Inácio de Sousa Santos
Diocese de Guaxupé-MG, doutorando em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.