Exaltação da Santa Cruz

A cruz de Cristo e seu mistério se unem à cruz do cristão

Queridos filhos e filhas, a Igreja celebra, hoje, a Exaltação da Santa Cruz. Agora, em mais um ano, somos chamados a fitar o nosso olhar na Cruz de Jesus e viver, com afinco, tudo o que ela tem a nos ensinar.

O cristão, diante da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, deve ouvir com o coração a mais doce resposta que ela traz consigo: o amor. E não se trata de qualquer amor, mas de um DEUS que nos ama profundamente.

A ânsia em amar e salvar a humanidade levou Cristo a dar-se a si mesmo até o fim. Até a última gota de sangue. Graças a essa ação salvífica, o ser humano recebe a vida e encontra abrigo e consolo quando acometido pela experiência dolorosa de cruz. Aí está a grandiosidade de vivenciar o sacrifício de Cristo perpetuado na liturgia da Igreja.

O amor pela humanidade que o pregava à Cruz

Como batizados, somos convidados a unir nossas dores e momentos de cruz à Cruz redentora de Cristo Jesus. Somos integrados na Paixão de Jesus e em Sua morte. Assim o Filho nos salvou, retirando a sentença de morte que jazia. A entrega de Jesus em expiação pela humanidade revela o Seu amor aos homens e ao Pai, pois era o Seu amor pela humanidade que o pregava à Cruz, muito mais que os pregos cravados pelos soldados.

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Quando se fala sobre o sofrimento e o espaço que ele ocupa na vida do cristão, tem-se em mente, como paradigma, o sofrimento do próprio Cristo Jesus que se deu na Cruz; na verdade, Sua vida inteira foi uma constante oferta de sacrifício ao Pai, e, com isso, Ele ensina aos Seus seguidores que a vitória vem pela Cruz. Destarte, a cruz de cada dia se torna mais branda, pois, ao olhar para Jesus, os cristãos conseguem dar sentido aos seus sofrimentos.

Cristo, tendo redimido todo o ser humano em seu ato salvífico na Cruz, mostra ao homem Sua solidariedade para com ele. Dessa maneira, o homem, ocasionado pelo sofrimento, não está mais só, pois agora pode unir sua dor ao sofrimento redentor de Jesus Cristo.

O ensinamento de Cristo aos discípulos

A oferta da própria vida é a redenção, e muitos – como os discípulos, santos mártires entre outros – entenderam esse percurso como ensinado pelo próprio Cristo. Tem-se a tônica nos discípulos, em especial na vida de Paulo, como também os mártires que enriqueceram a Igreja ofertando todo o seu sofrimento por algo maior em que acreditavam, unindo-se ao Cristo sofredor.

O apóstolo Paulo, em sua missão profética, consagra todas as realidades existenciais ao seu ministério apostólico. Trabalho, liberdade e até mesmo o cativeiro que por vezes experimentou. Nada lhe parecia ser em vão, pelo contrário, ele prossegue confiante em sua missão, mesmo quebrantado pelos sofrimentos, agravados pela saúde e tantos outros males que o podiam afligir. Longe de o abater, para ele tudo isso é fonte de veemente alegria. “Agora, regozijo-me nos meus sofrimentos por vós, e completo o que falta às tribulações de Cristo.” (Cl 1,24).

Por isso, Paulo torna-se exemplo para o cristão que sofre, mas que não para no sofrimento, pois é capaz de enxergar através dele, enxergar a salvação. E a alegria do apóstolo brota dessa união esponsal com o sacrifício oblativo da doação de Cristo na Cruz. Quando um cristão sofre em espírito cristão, isto é, como Corpo Místico, já não sofre só, mas é o Cristo que nele sofre para estender a ele a obra da Redenção. “E, se vivo, não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.” (cf. Gl 2,19s).

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Encontrar a cruz é encontrar Cristo

Não há vida sem cruz, mas, no mistério da cruz, há uma alegria vitoriosa. Para um cristão, a dor e o sofrimento humanos só se compreendem e se aceitam quando se descobre o seu sentido último. A cruz de Cristo e seu mistério se unem à cruz do cristão, e isso dá uma inversão do significado da dor na existência humana. Pois o que era algo trágico e lúgubre se transforma em bênção. Encontrar a cruz é encontrar Cristo, fonte da ressurreição e horizonte aberto a uma alegria sem fim.

No Cristo, sofrimento e glória se unem (Rm 8,17-18; 2Cor 4,17-18; 1Pd 4,13). E o homem, ao entrar nessa dinâmica, experimenta grandes frutos, e o maior deles é o amadurecimento espiritual, pois, assim como a ressurreição de Cristo, revela a glória que está contida no próprio sofrimento de Cristo.

O homem completa, em sua carne, aquilo que faltou ao sofrimento de Cristo, não porque o sacrifício de Cristo foi incompleto, mas porque Ele abriu as portas para que o homem pudesse fazer a experiência redentora do sofrimento, que gera louvor de Deus. O sofrimento humano, quando unido ao sofrimento de Jesus, no amor, completa esse mesmo sacrifício.

O amor d’Ele nos redimiu

O sofrimento de Cristo na Cruz tornou-se redentor pelo fato de que Ele muito amou, e por muito amar, ofereceu-se ao Pai. Um amor autêntico e verdadeiro, que gera no coração uma eterna ação de graças pelos feitos e maravilhas do Senhor, mesmo quando o coração do homem é acometido por experiências dolorosas de sofrimento, pois sabe que Deus é capaz de realizar o que está no Salmo: “Transformastes o meu pranto em uma festa; meus farrapos em adornos de alegria, para minh’alma vos louvar ao som da arpa e ao invés de se calar, agradecer-vos: Senhor, meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!” (Sl 29,12-13).

Ou ainda na firme esperança de outro Salmo que reza: “Os que lançam as sementes entre lágrimas, colherão com alegria” (Sl 125). O amor é o ápice do louvor para a glória de Deus. Só o amor-doação é capaz de transformar o sofrimento em louvor.

Por fim, é preciso viver com intensidade essa Festa da Exaltação da Santa Cruz. Por amor, Jesus entregou-se na Cruz; por amor, Ele nos redimiu. Por amor, Ele fez esse caminho por primeiro, para que o ser humano, quando acometido por experiência de cruz, possa unir-se a Ele de forma esponsal, pois quem se decide por permanecer unido à Cruz de Jesus experimentará com Ele a vitória e a glória de Deus, afinal, a cruz entoa o louvor dos fortes, dos que amam até o fim.

Padre Gabriel Soares, sjs

 

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