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Gestação e saúde emocional: como lidar?

Gestação: nove meses de uma experiência que envolve sentimentos diversos, mudanças físicas e emocionais, novas responsabilidades, medos, alegrias, descobertas. Além da adolescência e do climatério, a gestação é uma das três fases críticas na vida da mulher por tamanha diversidade de alterações. Com elas, chegam também questionamentos: será que darei conta? Serei uma boa mãe? E como ficará minha vida? Como será daqui para a frente?

Esses questionamentos são parte desse tempo que, povoado por tantas alterações, favorecem uma maior vulnerabilidade emocional nas gestantes, trazendo uma sensibilidade mais aflorada e medos mais expressivos. Mesmo aquelas que já têm filhos trazem dúvidas; e que bom que elas existem, desde que não tragam consigo prejuízos emocionais.

Nesse sentido, é essencial que as gestantes possam ter uma atenção especial com suas emoções, especialmente se já existem aspectos como ansiedade, depressão, perdas recentes, lutos ainda não elaborados ou outros sofrimentos.

Gestação e saúde emocional: como lidar?

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Relatos sobre a gestação

Mais do que falarmos sobre o que a psicologia fala acerca da gestação, trouxe também a partilha de duas mães e suas experiências sobre a gestação e a maternidade.

Rogéria Nair está em sua primeira gestação e conta um pouco de sua experiência: “Minhas emoções na gestação ficaram completamente alteradas. Eu, que sou uma mulher firme, passei, de uma hora pra outra, à sensibilidade, ao choro por razões que eu nunca choraria. Emoções que se afloram para o bem como sentir o bebê mexer, conversar com alguém próximo, mas, ao mesmo tempo, para o mal quando alguma situação sai do controle, quando o cansaço bate e a irritação chega”.

O outro relato é de Edvânia Duarte, que já viveu várias experiências em suas cinco gestações: “Cada gestação e parto são únicos. Recordo-me que após o nascimento do meu primeiro filho, sentia-me angustiada em pensar que minha vida, a partir daquele momento, iria se resumir àquele cansaço, noites sem dormir e várias limitações. Era um contraste com toda a expectativa e alegria da chegada daquele lindo bebê. Fui aprendendo que era apenas uma fase, que tudo passava em alguns meses e que tudo só ia ficando mais fácil. Quando veio o segundo filho, a segurança com relação a isso fez com que eu me recuperasse muito mais prontamente. A consciência do que ocorre naturalmente com as mães me ajudou muito, e hoje sempre digo às novas mamães: ‘Vai passar. Aguenta firme!’. Cada gestação e parto são únicos. Com meu terceiro filho, após duas perdas gestacionais, passei a gravidez toda com medo de repetir essa experiência que foi muito dolorosa e cheia de insegurança a respeito do seu bem-estar. Foram essenciais para mim profissionais e amigos, além do meu marido, que me ajudavam a perceber o que era fantasia da minha cabeça e o que era real. Pude passar bem por essa fase, e hoje meu filho é cheio de saúde e seguro do amor que sentimos por ele”.

Nesse sentido, é muito importante que a mulher não deixe de observar suas emoções e acompanhar alguns passos:

Cuide de sua saúde física:

O acompanhamento pré-natal é essencial. A parceria com seu médico ajudará, e muito, para que você possa expressar as dificuldades e dúvidas, e até mesmo que ele consiga identificar sinais de alterações emocionais que necessitem, por exemplo, de psicoterapia.

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Como anda sua saúde emocional?

Antes mesmo da gestação estava tudo bem? Havia algum histórico de situações emocionais importantes como ansiedade, depressão, luto, situações de medo ou de preocupação excessiva? Os medos estão mais intensos? Você tem conversado sobre isso com alguém?

Emoções instáveis

As emoções instáveis são bem comuns nesta fase, ou seja, em alguns dias você chorará, em outros sentirá raiva, em outros parecerá mais triste. Isso vai acontecer, e o mais importante é que essas emoções sejam respeitadas e acolhidas.

Reorganização da vida

Planejar é a palavra-chave. Sempre que possível, vá colocando no papel o que é necessário fazer. Das finanças às roupinhas do bebê, das coisas simples às mais complexas.

Converse com outras mães

A experiência de outras mães sempre é importante, mas a sua vivência é apenas sua. Muitas mães sofrem com as “lições de moral” de outras mães ou amigas. Algo do tipo “se eu fosse você…”. Tenha certeza que sempre desejamos acertar, e se houver erro, não temos manual de instruções para uma gestação e maternidade perfeitas.

Busque uma rede de apoio

Mães mais experientes, grupos de apoio, amigos ou familiares são pessoas que poderão ajudar bastante nessa caminhada.

Críticas e opiniões excessivas

Cuidado para não absorver críticas e opiniões excessivas: filtrar as informações é bastante importante. Por vezes, alimentamos nossa ansiedade com tanta coisa que se ouve e tantas críticas.

Sentimento de culpa

Se os estados emocionais se alterarem demais, se observar a tristeza se prolongando, fale com seu médico e busque ajuda. Não sinta culpa por estar triste. Talvez você ouça a famosa frase: “Mas você deveria estar feliz com sua gravidez”, quando na verdade não está. Se isso acontece com você, fale sobre isso, converse com seu médico. Parece até que estou sendo repetitiva, mas é muito importante que pessoas qualificadas possam ouvi-la.

Não sabemos tudo nem temos o domínio sobre tudo: aceitar isso já é o primeiro passo. A beleza da gestação traz também suas dúvidas e seus medos. Quando a gestação vem acompanhada de preparo, tudo ficará melhor e mais equilibrado, favorecendo assim o vínculo mãe-bebê.


Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro dos Santos é Psicóloga Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora da Comunidade Canção Nova, reúne 20 anos de experiência profissional, atuando nas cidades de São Paulo, Lorena e Cachoeira Paulista, além do atendimento on-line para o Brasil e o Exterior. Dentre suas especializações estão Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Psicologia Organizacional. Instagram:  @elaineribeiro_psicologa