São Ciro e Santa Julita são dois santos: mãe e filho que experimentaram o martírio. Você consegue imaginar uma mãe preparando seu filho para o martírio? Alguns podem pensar que é crueldade de Deus. Mas você precisa compreender que o martírio é, antes de tudo, uma experiência de amor. E, durante a execução do martírio, não é a pessoa que sofre, é um Outro que sofre no martirizado.

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Veja o que o professor Felipe Aquino nos ensina do martírio das santas Perpétua e Felicidade: ”Felicidade era escrava; estava grávida de oito meses e deu à luz a uma menina, no cárcere, dois dias antes de morrer. Nos seus gemidos durante o parto, um soldado, zombando lhe disse: “Se te queixas agora, o que será quando estiveres diante das feras?”; ao que ela respondeu: “Agora, sou eu que sofro, mas lá fora, um Outro estará em mim, e Ele sofrerá em mim eu sofrerei por Ele”.
Martírio, nos tempos de hoje, é algo ultrapassado e obsoleto?
Precisamos estar atentos aos tipos de martírio atuais. Claro que, infelizmente, os martírios físicos continuam acontecendo nos dias de hoje. Há, em diversas regiões do planeta, inúmeros relatos de intolerância, perseguição, tortura e morte por causa da fé. Talvez você não more numa região assim, mas precisa observar outros tipos de martírios atuais. Dentre esses, queria ressaltar o martírio de ‘desprezo’ de quem tem filhos, em especial adolescentes, e sabe bem como o desprezo de amigos pode ser penoso para eles. Se você educa seus filhos no conhecimento da nossa fé, saiba que também precisamos ajudá-los a suportar sofrimentos, contrariedades e desprezo.
Padre Paulo Ricardo, no artigo ‘Educando os filhos para o martírio’, nos ensina assim: “Prestamos um desserviço quando preparamos nossos filhos somente com o conhecimento da fé, sem um entendimento do custo que ela tem no século XXI — uma era de capitulação e apostasia que nos pede que ofereçamos ‘apenas uma pitada de incenso’ aos ídolos.”
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Vejamos, na prática, como santa Julita e São Ciro viveram essa realidade na história deles. Santa Julita vivia em Icônio com seu filho Ciro, nascido havia três anos, quando o governador de Licaônia, Domiciano, iniciou a aplicação dos editos perseguidores de Diocleciano. Julita procurou primeiro refúgio em Selêucia e depois em Tarso. Nessa cidade, Julita foi detida por ordem do governador da Cilícia, Alexandre. Ela se declarou cristã; começou aí o martírio. O governador usou o próprio filho dela, de 3 anos. nas torturas. Ele tomou-lhe o filho e mandou que ela fosse flagelada. Em meio aos tormentos, ela não se cansava de repetir: “Eu sou cristã”, e o pequeno Ciro se debatia para escapar dos braços do governador e voltar para junto de sua mãe, gritando: “Eu também sou cristão!” Furioso, Alexandre pegou o menino por um pé e o jogou violentamente sobre os degraus do tribunal, tendo então se quebrado o seu crânio. Julita, em vez de chorar e lamentar-se, agradeceu a Deus por ter visto seu filho morrer aureolado pela coroa do martírio. Os suplícios que, em seguida, lhe foram infligidos não abalaram sua confiança e sua constância. Enfim, ela foi decapitada.
Lendo essa história, fico a me questionar se nossa geração está preparando os filhos para os desafios
Uma resposta dessas como Ciro deu não é algo que se improvisa, é preciso estar disposto a enfrentar as pequenas mortes do dia a dia, unindo-as ao sacrifício de Cristo. Aprender a ofertar nossos pequenos sacrifícios e olhar para Jesus crucificado faz grande bem aos pequenos. Lembro-me de um fato: um dos nossos filhos levou um soco de um coleguinha. A professora lhe perguntou por que ele não revidou, e ele respondeu: “Por que não está certo”. Viu? Mesmo pequenos, eles sabem o que é certo e conseguem resistir. Outro fato: outro filho, já jovem, fez um trabalho ao qual ele se dedicou bastante, pois era algo em que ele acreditava, mas acabou se decepcionando com a nota que a professora lhe conferiu. Depois, refletindo melhor, me disse: “Pensando bem, meu objetivo não era a nota, mas sim falar de algo em que eu acredito”. Sim, é possível um jovem encontrar sentido nas contrariedades. Ele vai aprendendo nas pequenas coisas, mas para isso não basta uma imposição, é preciso os pais estarem presentes, ouvir, acolher as bravezas e ajudar a ir encontrando sentido. Muita escuta e conversa.
O bonito é que essa forma de vida é contagiosa; o heroísmo é contagioso, por isso muitos se convertiam diante do testemunho dos mártires. Uma certa santa já dizia: “Se uma alma se eleva, eleva o mundo inteiro. Vejo ainda muitos jovens seguindo o testemunho de uma maior radicalidade na fé por causa de amigos. E os perseguidores já carregavam na alma o sentimento de culpa e de fraqueza. Por isso Tertuliano escreveu ao imperador Marco Aurélio em 180: “Sanguis martirum, semem christianorum” (O sangue dos mártires é semente de novos cristãos). Por isso, depois de 260 anos de sangue derramado, “a espada romana curvou-se diante da cruz de Cristo”. A soberba águia romana fechou as suas asas (Daniel Rops).
Que tenhamos a mesma coragem e esperança para enfrentar os martírios modernos.
Santa Julita e São Ciro, rogai por nós!
Edvania Duarte Eleuterio
Missionária Comunidade Canção Nova