A vida de oração precisa ser o norte do líder cristão
Certa vez, meu bispo perguntou–me por que um determinado grupo de oração na diocese atraía tanta gente. Eu respondi que era porque ele tinha um programa bem planejado para o ano inteiro e também um notável coordenador, apoiado por um núcleo unido e cheio de dons.
Um líder cristão deve ser, sobretudo, um homem ou uma mulher de visão, assim como toda a congregação religiosa começou com uma pessoa que teve a visão do que Deus queria que ele ou ela fizesse, e que depois atraiu as pessoas a trabalharem juntas para implementarem essa mesma visão, que depois foi realizada por intermédio de uma variedade de obras e instituições. Infelizmente, tem acontecido, hoje, que só as obras e as instituições permaneceram, enquanto o espírito da comunidade foi se enfraquecendo gradualmente, e aquela visão do início se tornou, há muito tempo, uma relíquia do passado.
O que um líder precisa ter?
Um líder precisa ter, obviamente, o poder de liderar, de atrair outros para acompanhá-lo, tanto pelo que diz e faz como pelo que ele é, como os fundadores de nossas congregações religiosas. Isso por si só, porém, não é o suficiente, porque o poder pode corromper e um líder pode tornar-se como nossos ditadores modernos ou chefes de seitas, que levam os seus seguidores à destruição e até mesmo ao suicídio em massa. Mas um líder deve ter também a humildade de um seguidor, suficientemente gentil para reunir pessoas ao redor dele, fazendo-as sentir seu valor e motivando-as a trabalhar juntas, delegando-lhes seu poder.
Isso é bem diferente de muitos grupos cristãos que continuam se multiplicando feito cogumelos, por causa de uma luta interior de poder e da falta de coerência interior. Acima de tudo, um líder precisa ser uma pessoa de visão e discernimento, que não apenas tem seus “seguidores” atrás dele e com ele, mas que também os conduz confiante e alegremente para o que está à frente dele: o Reino de Deus e Sua Glória, pois “por falta de visão o povo vive sem freios” (Prov 29,18).
Leia mais:
.: Como retomar a vida de oração?
.: A missão de fé dos leigos na vida cotidiana e na Igreja
.: Documentário: ‘Leigos, protagonistas de uma Igreja em saída’
.: A missão do leigos na Igreja
Homens e mulheres segundo a Palavra de Deus
O que torna autêntica, portanto, a visão de um líder para o trabalho de seu grupo de oração ou de seu ministério para a liderança de seu núcleo e para ele mesmo em sua posição como líder principal é o carisma de discernimento. Este é um dom do Espírito Santo, pelo qual a pessoa tem a capacidade de discernir se as mensagens e as visões, as decisões e as ações que afetam o trabalho do grupo ou do ministério, e as vidas pessoais de seus membros, estão de acordo com a vontade de Deus, embora pareçam muito santas e religiosas. É preciso se questionar: são verdadeiramente inspiradas pelo Espírito Santo ou são resultados de preconceitos pessoais, gostos ou desprezos, trazendo à tona o que é apenas do espírito humano, ou até da influência do espírito maligno sob o disfarce de um anjo de luz? O próprio apóstolo Paulo não se surpreendeu que mesmo satanás coloque a máscara de um anjo de luz (cf. II Cor 11, 14).
Para se abrir ao carisma do discernimento e para crescer nele, o líder deve ser um homem ou uma mulher da Palavra. Como o Mestre, a Palavra feito carne, o líder deve de certa forma encarnar a Palavra de Deus em seus ensinamentos e decisões, pois, talvez, a única Bíblia que muitos lerão ou ouvirão seja a “Bíblia aberta” que eles veem nele. Como líderes devemos nos comprometer em ler a Sagrada Escritura diariamente e, como a Santíssima Virgem Maria, guardá-lá, meditá-la e deixá-la produzir frutos em nossa vida, tornando-nos sal da terra e luz no alqueire.
Padre Rufus Pereira