Os últimos conselhos de Jesus aos seus discípulos continham uma promessa e uma orientação: “Permanecei na cidade até que do Alto sejais revestidos de poder” (Lc 24,49). A que Jesus se referia e qual seria essa promessa? Que força seria derramada sobre os discípulos a tal ponto de se tornarem
homens e mulheres revestidos de poder? Era a força do Espírito Santo, o poder do Alto.
O Espírito Santo seria o agente desse novo tempo. Ele seria o grande protagonista do nascimento da Igreja depois da Ressurreição. Como Jesus havia prometido, Ele ficará conosco até a vinda gloriosa de Jesus. “Eu permanecerei convosco até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Revestidos de sua graça, cada
homem e cada mulher seriam por Ele guiados e santificados e, assim, se tornariam homens e mulheres novos. Revestidos do poder do Espírito, cada um deles seria capaz de enfrentar grandes adversidades e teria a coragem de anunciar o Cristo sem medo; realizariam grandes obras e se tornariam grandes
instrumentos de Deus.
A Era do Espírito traria também um novo tempo a todas as mulheres. Assim inaugurou-se a “Era do Espírito” em Pentecostes; lá estavam elas no cenáculo aguardando o cumprimento da promessa de Deus. A partir dali Deus agiria de forma grandiosa tornando-as grandes evangelizadoras.
O Espírito Santo age de forma grandiosa
Em sua essência, como vimos anteriormente nos estudos feitos por Edith Stein, a mulher traz em si uma missão colocada sobre a descendência de Maria: de afugentar o mal e ser instrumento para edificação do Reino de Deus sobre este mundo. Assim, revestidas do poder do Alto, muitas mulheres assumiram tal missão se destacando na história dos primórdios da Igreja. Muitas delas, empoderadas do Espírito Santo, foram capazes de anunciar a Palavra com parresia:
Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele (At 1,13–14).
Não somente na Igreja primitiva como também na história da humanidade e de nossa fé católica existiram muitas mulheres que, movidas pelo Espírito, foram responsáveis e protagonistas de verdadeiras mudanças; mulheres que até hoje são lembradas. Sobre elas pairava o verdadeiro empoderamento, aquele que vem do Alto.
Mas o que significa a palavra empoderamento?
Empoderar (em + poder + ar) é um verbo que se refere ao ato de dar ou conceder poder para si próprio ou para outrem. […] Entre alguns dos principais sinônimos de empoderar estão: dar poder, conceder poder, dar autoridade, investir autoridade, dar autonomia, habilitar, desenvolver capacidades, promover, promover influência, afirmação, entre outros (SIGNIFICADOS, 2018).
O verdadeiro significado de empoderar advém de alguém que está sendo revestido de poder. Significa uma ação; não é um momento, é uma ação que dá continuidade.
Essa expressão tem sido muito usada para enfatizar a atuação de mulheres que se destacam na sociedade ou nos meios de comunicação. Mulheres que atualmente buscam desempenhar um papel nas esferas sociais, políticas, econômicas, entre outras.
Em alguns momentos, essa expressão é também utilizada para descrever o poder feminino, em uma conotação de corpo ou uma expressão de sedução, levando a mulher novamente a uma imagem reducionista do que ela de fato é.
A verdadeira mulher empoderada
Uma mulher verdadeiramente empoderada do Espírito Santo é aquela em que o próprio Espírito a reveste de poder e de força, agindo em primeiro lugar em seu interior, santificando-a e transformando-a em uma nova mulher. Uma mulher revestida do poder do Alto se torna, então, um grande bem para este mundo. É aquela que, revestida de virtudes e permeada da ação sobrenatural dos dons do Espírito Santo, é santificada, tornando-se, assim, instrumento de santificação no mundo por meio de suas ações. Temos visto na história da Igreja e na sociedade mulheres que testemunharam com suas vidas o Evangelho, e outras que, por meio de seus escritos e de uma presença edificante, deixaram um grande tesouro para nós.
Como já mencionado, Madalena foi uma das primeiras anunciadoras da Ressurreição e também um forte instrumento de Deus para anunciar a concretização de seu plano de amor pela humanidade. Hoje, reconhecida pela Igreja como “apóstola dos Apóstolos”, sua festa litúrgica é celebrada no dia 22 de julho, de modo a exaltar a figura feminina na Igreja. No Evangelho é tida como a mulher da qual saíram sete demônios, uma mulher que experimentou a libertação total em sua vida.
Depois disso, Jesus andava pelas cidades e aldeias anunciando a boa nova do Reino de Deus. Os Doze estavam com Ele como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e curadas de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Susana e muitas outras, que o assistiram com as suas posses (Lc 8,1–3).
Na Palavra vemos claramente que não somente Maria Madalena, mas todo aquele grupo de mulheres, experimentou uma grande mudança de vida. A graça e a libertação na história de Maria Madalena foram tão grandiosas que fizeram dela uma notável propagadora de Jesus Cristo, por isso podemos afirmar que ela foi uma mulher empoderada do Espírito Santo.
A Igreja reconheceu seu papel nos primórdios do cristianismo e sua influência na vida dos primeiros cristãos. Por um decreto da Igreja, sua festa consta no calendário litúrgico, reconhecendo, assim, seu valor na evangelização da Igreja primitiva.
A Igreja, tanto no Ocidente como no Oriente, reservou sempre a máxima reverência à Santa Maria Madalena, primeira testemunha e evangelista da Ressurreição do Senhor, celebrando-a contudo de modos diversos. Na nossa época, dado que a Igreja é chamada a refletir de forma mais profunda sobre a dignidade da mulher, a nova evangelização e a grandeza do mistério da misericórdia divina, pareceu oportuno também que o exemplo de Santa Maria Madalena fosse mais convenientemente proposto aos fiéis. Com efeito, esta mulher, conhecida como aquela que amou Cristo e foi também muito amada por Cristo, chamada por São Gregório Magno “testemunha a misericórdia divina” e por São Tomás de Aquino “apóstola dos Apóstolos”, hoje pode ser vista pelos fiéis como paradigma da missão das mulheres na Igreja. Por conseguinte, o Sumo Pontífice Francisco estabeleceu que doravante a celebração de Santa Maria Madalena deve ser inscrita no Calendário Romano Geral com o grau de festa, e não já de memória, como é hoje (SARAH, 2016).
Maria Madalena passou a ser uma mulher plena e integrada quando Jesus a libertou dos sete demônios que a escravizavam. Poderíamos dizer que antes Maria Madalena era uma mulher aprisionada; não sabemos com certeza quais eram os demônios que a torturavam, mas constatamos que, antes de se tornar uma grande mulher, ela precisou passar por um processo de libertação. São Gregório (apud RICARDO, 2015), em seus escritos a respeito dessa passagem bíblica, aponta os sete demônios da vida de Madalena como sendo os sete vícios:
E o que se entende por sete demônios, senão todos os vícios? Como todo o tempo é compreendido por sete dias, por esse número certamente se representa a universalidade. Portanto, sete demônios tinham Maria, a qual foi cheia de todos os vícios.
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Poderíamos nos referir aos vícios como os sete pecados capitais: orgulho, inveja, avareza, ira, luxúria, gula e preguiça. Quando pensamos em sete pecados ou sete demônios, entendemos também que se tratava de uma mulher aprisionada por amarras que não permitiam que a mulher sonhada por Deus
viesse à tona. O encontro dela com Jesus foi libertador e fez vir para fora essa nova mulher. O número sete, na Bíblia, tem um significado importante, pois se trata de um número que indica plenitude, ou seja, os sete demônios amarravam a vida de Madalena de forma total. Para que ela fosse uma mulher cheia do Espírito Santo, era necessário que acontecesse a libertação dos demônios que aprisionavam sua alma.
O mesmo processo de libertação precisa acontecer dentro de cada uma de nós, e para isso devemos entrar em um caminho de profundo autoconhecimento e cura interior. Este caminho permitirá detectar os verdadeiros vícios que nos escravizam e as raízes que eles lançaram dentro de nós. São os nossos verdadeiros lados sombrios, demônios interiores que nos impedem de caminhar em um processo de libertação interior e santificação de nossas almas. Existem prisões interiores e opressões que só podem ser curadas pelo amor infinito de Deus.
Uma mulher cheia do Espírito Santo permite que Ele adentre esses lugares obscuros, cure o que está ferido, liberte o que está amarrado e faça sair para fora a mulher nova escondida em casulos espirituais.
Talvez os sete demônios em nós estejam relacionados a situações mal resolvidas de nossas vidas. Fatos e acontecimentos que somente um autoconhecimento profundo, um caminho de aceitação, perdão e superação poderá nos libertar. A mulher nova, empoderada do Espírito Santo, não tem medo de percorrer esse processo e será capaz de vencer seus vícios, traumas e medos e, assim, alcançar significado em sua vida.
Quero lhe apresentar um percurso de libertação que incluiu a vivência de alguns verbos que nos ajudarão a caminhar em direção à libertação de nossos vícios, medos, inseguranças e também nos auxiliarão na busca para nos tornarmos realmente mulheres curadas e cheias do Espírito Santo.
“Conhece-te, aceita-te, supera-te!”
Santo Agostinho, certa vez, disse: “Conhece-te, aceita-te e supera-te!”. Cada um desses verbos, e outros que conheceremos, provenientes do desdobramento de cada um deles, nos apontará um percurso de autoconhecimento, aceitação e superação de nossa história. Verdadeiros passos que nos conduzem à liberdade interior e que nos farão pessoas mais livres e, como resultado, abertas à ação sobrenatural do Espírito Santo.
Caminhando fielmente com cada passo que nos será apontado e tomando consciência de nossos principais vícios e também das nossas feridas, certamente sairemos de nossos casulos interiores como mulheres novas. Repletas do Espírito Santo, poderemos nos utilizar de ferramentas importantes para nosso crescimento espiritual, que são dons de santificação.
Durante este caminho, vamos trabalhar especificamente ferramentas valiosas: a cura interior e a ação dos dons de santificação; serão dois instrumentos importantes para a construção dessa nova mulher. Uma mulher curada é aquela que se reconcilia com sua história e se liberta de seus demônios e vícios interiores, no entanto, uma mulher empoderada do Espírito Santo é aquela que não somente busca essa cura interior como também aprende a ter sua vida conduzida pelo Espírito Santo.
É preciso coragem e perseverança
Será necessária certa coragem e perseverança para enfrentar esse processo; vencer os vícios, medos e traumas requer um desejo, uma constância autêntica de alguém que deseja ter uma vida reconstruída, como aconteceu com Maria Madalena. Precisaremos também travar uma luta espiritual árdua para
vencer nossos demônios interiores, ou seja, os vícios que não nos permitem avançar.
A oração sempre será uma ferramenta essencial nessa trajetória, porém somente ela não será suficiente se nos empenharmos em detectar os esconderijos de nossas sombras, traumas, pecados e vícios.
Nas Sagradas Escrituras vemos a figura de Maria Madalena como uma mulher de coragem, e essa foi a grande graça que a levou à superação de suas misérias. Uma mulher que lutou pela sua transformação pessoal e enfrentou o preconceito que havia contra a mulher naquela época, tendo a coragem de caminhar ao lado de Jesus. As escolhas de Madalena foram essenciais para o seu processo de libertação. Ela sabia que ao lado do mestre conseguiria vencer suas fraquezas. Podemos afirmar que ela foi uma mulher forte porque teve coragem de enfrentar suas misérias e se reerguer.
Maria Madalena, a mulher libertada por Jesus das amarras de sete demônios e batizada pelo Espírito Santo, se torna plena, integrada e, por isso, consegue deixar um exemplo e um grande rastro de fé para todas nós.
A grande prisão espiritual de Maria Madalena não deixava que ela enxergasse seus vícios e pecados, bem como não lhe permitia ser uma mulher de coragem. Aquele que é dominado pelos vícios não consegue sozinho se desvencilhar deles; é necessária a graça de Deus. Uma vez livre, ela pode ser quem realmente era, com todos os seus talentos e virtudes. A coragem daquela mulher foi potencializada depois que ela viveu um processo de libertação, em que o próprio Deus imprimiu nela um Espírito de fortaleza, que significa coragem. A virtude da fortaleza em Maria foi potencializada em Pentecostes pelo dom da fortaleza no derramamento do Espírito Santo.
Embora a virtude da fortaleza tende por si mesma a robustecer a alma contra toda classe de dificuldades e perigos, não acaba de o conseguir totalmente enquanto permaneça submetida ao regime da razão iluminada pela fé (modo humano). É preciso que o dom da fortaleza lhe arranque todo o motivo de temor ou indecisão ao submetê-la a moção direta e imediata do Espírito Santo (modo divino), que lhe dá confiança e segurança inquebrantável (MARÍN, 2017, p. 161).
O Espírito Santo a revestiu de uma graça tão sobrenatural que a fez sair de seu comodismo, passar por cima do preconceito e, com ousadia, anunciar a Ressurreição do Senhor.
O Espírito Santo a revestiu de parresia, que significa, ousadia, coragem, intrepidez. Podemos dizer que ela foi empoderada do Espírito Santo e repleta do dom da fortaleza. Esse dom talvez seja o mais evidente e o mais presente na vida de mulheres que realmente se deixam conduzir pelo Espírito Santo; um importante auxílio para aqueles que querem construir uma vida nova.
Desse modo, já quero adiantar, por agora, o primeiro dom, que será uma ferramenta necessária para que você chegue até o fim neste caminho de cura interior e de empoderamento do Espírito Santo: o dom da fortaleza.
Trecho extraído do livro “Mulheres empoderadas do Espírito”, de Rogerinha Moreira.