“Você encontrará refrigério para sua vida.”
Essa é a busca de todos nós: encontrar refrigério, repouso para a nossa vida. É o que impulsiona nossa busca pela felicidade em nossos relacionamentos, em nossos compromissos, em nosso trabalho… Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, o Evangelho de hoje. O próprio Senhor nos diz que, para termos refrigério em nossa vida, precisamos aprender com Ele. E, para isso, aponta dois caminhos principais: mansidão e humildade.
Em primeiro lugar, a mansidão. O profeta Zacarias havia anunciado um Messias manso (Zc 9, 9), e o Salmo 37 havia cantado que “os mansos herdarão a terra e gozarão de grande paz”. (Sl 37, 11). Jesus, naquele discurso que chamamos de “Sermão da Montanha”, ecoando o Salmo, declara que os mansos são bem-aventurados. Em hebraico, o termo usado para se referir a esses “mansos” é o mesmo que “pobres”. A mansidão é um aspecto da pobreza. É manso aquele que não faz justiça por si mesmo, mas confia sua defesa a Deus. Ele deixa o julgamento de sua bondade e justiça nas mãos de Deus.
Jesus viveu com mansidão até o fim de sua vida e nos ensina que, se quisermos encontrar descanso para nós mesmos, devemos fazer o mesmo. Em um mundo em que o abuso, a prepotência a lógica do mais forte e a violência parecem determinar o sucesso e a felicidade. O Evangelho nos mostra o caminho da mansidão, que não deve ser confundida com covardia e pusilanimidade.
Trilhar o mesmo caminho que Ele para encontrar o refrigério em sua vida
Para encontrar refrigério em nossa vida, Jesus nos mostra também o caminho da humildade, o termo indica rebaixamento. Deus rebaixa os que se exaltam e exalta os que se humilham, diz Jesus em outra passagem do Evangelho de Mateus. Muitas vezes, a atitude de se exaltar, em oposição à atitude de humildade, está relacionada ao comportamento religioso dos fariseus que buscam obter glória diante de Deus por meio de sua observância. A humildade, por outro lado, é a atitude do publicano no templo, como encontramos no Evangelho de Lucas, que é capaz de reconhecer sua própria condição diante de Deus. Ser humilde é reconhecer-se como um servo. Até mesmo Maria, no Magnificat, associa sua humildade ao fato de ser uma serva, e a ação de Deus é elevar os humildes.
No Evangelho de Mateus, Jesus coloca uma criança no meio e afirma que quem se tornar tão pequeno quanto essa criança, será o maior no reino de Deus. Jesus sempre viveu como um servo — ele não veio para ser servido, mas para servir —, e ensina aos discípulos que, para encontrarem refrigério em suas vidas, devem trilhar o mesmo caminho que Ele. Em um mundo em que o que conta é a imagem, onde a “síndrome do Self” afetou também padres e religiosos, em que a vida espiritual se reduziu ao “devocionismo” superficial e inconsistente (que alimenta as diversas psicopatologias e neuroses), o Evangelho nos ensina que, para ser feliz, é preciso conhecer a própria condição. Somos homens e mulheres frágeis e pecadores, mas amados incondicionalmente por Deus. Somente aqueles que conhecem a si mesmos diante de Deus — Santa Catarina de Siena também nos ensina isso —, são verdadeiramente felizes.
O Coração de Jesus é um ambiente encantador para os humildes
Quem conhece seus limites e fraquezas não tem necessidade de combatê-las ou reprimi-las, porque sabe que isso só faz adoecer ainda mais a si mesmo. O homem e a mulher humilde acolhe suas fragilidades e as “pronuncia”. Verbaliza sua “vergonha” dando nome a cada um de seus pecados, mas o faz dentro do Coração Amoroso de Jesus. Sabe que n’Ele encontrou o verdadeiro repouso. Quem tem medo de si mesmo, quem tem medo de acolher sua própria fraqueza viverá um contínuo “teatro” fingindo uma falsa busca de santidade. Cheio de “arrogância espiritual” e nunca poderá desfrutar da Ternura desse Coração transbordante de amor.
Não podemos confundir “narcisismo recalcado” com santidade. São coisas distintas. O Coração de Jesus é um lugar insuportável para os narcisistas que estão sempre sentados no trono “santidade”, apontando o dedo da acusação contra seus irmãos. Mas esse mesmo Coração é um ambiente encantador para os humildes que confessam seus pecados com confiança, porque têm consciência de sua condição e reconhecem o profundo Amor de Deus que não pede outra resposta senão, amor também.
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Um outro elemento, neste trecho de Mateus, é o fato de Jesus ter sido surpreendido pelo Pai. É uma coisa linda: o Mestre de Nazaré sendo surpreendido por um Deus que é cada vez mais imaginativo e inventivo em seus esquemas e sua lógica, que desinstala todos nós, inclusive seu Filho. De fato, a experiência espiritual nos permite chamar Deus de “Torrente de Engano”, pois Ele nos desconcerta em tudo.
O lugar vazio dos grandes é preenchido pelos pequenos
O que aconteceu? O Evangelho acaba de relatar um período de contratempos, um ar ruim está soprando: João é preso, Jesus é duramente desafiado pelos representantes do Templo. Os habitantes das aldeias ao redor do lago, após a primeira onda de entusiasmo e milagres, se afastaram. E aqui, nessa atmosfera de derrota, um inesperado avanço se abre diante de Jesus. Uma súbita reviravolta que o enche de alegria: Pai, eu te bendigo, te louvo, te agradeço, porque te revelaste aos pequeninos.
O lugar vazio dos grandes é preenchido pelos pequenos: pescadores, pobres, doentes, viúvas, crianças, publicanos, os favoritos de Deus. Jesus não esperava por isso e fica surpreso com a novidade; a admiração o invade e ele se sente feliz. Ele descobre a ação de Deus, assim como antes sabia descobrir, no íntimo de cada pessoa, a angústia e a esperança, e para elas sabia inventar palavras e gestos de vida como resposta, aqueles que o amor nos faz chamar de “milagres”.
Ele traz aquele pão de amor que todo coração humano cansado precisa
O Senhor revelou essas coisas aos pequeninos… Mas de que coisa se trata? Um pequenino, uma criança, entende imediatamente o essencial: se você o ama ou não. Afinal de contas, esse é o segredo simples da vida. Não há outro mais profundo. Os pequeninos, os pecadores, os últimos da fila, as periferias do mundo entenderam que Jesus veio trazer a Revolução da Ternura: vocês valem mais do que muitos pardais, vocês têm o ninho em suas mãos.
Venham a mim, todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Deus não é difícil: Ele está ao lado daqueles que não conseguem, Ele traz aquele pão de amor que todo coração humano cansado precisa… E todo coração está cansado. Venha, eu lhe darei descanso. E não lhes apresentarei um novo catecismo, com regras superiores, mas com o conforto de viver. Duas mãos nas quais você poderá descansar sua vida cansada e respirar com coragem. Meu jugo é suave e meu fardo é leve: palavras que são música, boas novas. Jesus veio para apagar a antiga imagem de Deus. Não mais um dedo acusador apontado para nós, mas dois braços abertos.
Aprender com Jesus!
Ele veio para tornar a religião leve e fresca, para tirar os fardos de nossas costas e nos dar as asas de uma fé que nos liberta. E fardos que até mesmos a religião coloca sobre nós. Jesus é um libertador de energias criativas e, portanto, é amado pelos pequeninos e pelos oprimidos da Terra. Aprendam de mim, que sou manso e humilde de coração, ou seja, aprendam de meu Coração, de minha maneira gentil e indomável de amar. Com Ele aprendemos o alfabeto da vida; na escola do coração, a sabedoria de viver.
Irmãs e Irmãos, o Coração de Jesus é aventura de um Deus que decidiu amar como homem, como eu e você e, assim nos provocar, por meio da mansidão e humildade, a Revolução da Ternura. A reescrever a história com o Alfabeto da Vida!
Dom Cristiano Sousa OSB Cam – Mosteiro de Fonte Avellana , Itália.