Você reza?

Por que eu preciso rezar?

Repare que, em qualquer situação, quando existe certeza e segurança da resposta, a pergunta sempre é respondida prontamente e com convicção. Não é necessário pensar muito sobre aquilo que, para nós, é óbvio ou essencial. Igualmente, ninguém precisa recordar que se faça aquilo que consideramos primordial que seja feito. Digamos que está sempre sob os nossos olhos a necessidade que consideramos imprescindível ou prioritária.

Sendo a oração o nosso assunto, você tem certeza ao responder por que é preciso rezar? Não procuramos aqui a resposta “certa” ou a dos livros, mas aquela que nos motiva a entender que, se precisa, tem que fazer. Se precisa, não esquece nunca de fazer. Finalmente, se entende que rezar faz parte de vida tanto quanto comer, dormir ou respirar.

Por que eu preciso rezar

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Se a sua resposta não é tão forte a ponto de sair do intelecto e mover o coração para a ação, busquemos orientações da Palavra de Deus e dos santos para adquirir a certeza de fé de que rezar é necessário e provocar uma renovação de vida.

Qual é a necessidade de rezar? De termos um tempo para oração?

A resposta mais simples sobre a necessidade de rezar é: Jesus nos orienta a isso! Sendo Deus, lembre-se que não é possível pensar que foi uma observação meramente casual. É uma orientação que deve ser seguida, um conselho ou, pode-se até dizer, um mandamento: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,41). Em outros momentos (Lc 18,1), Ele contou parábolas para mostrar a importância de rezar e perseverar na oração.

Como vimos em outro artigo desta série, a oração nos aproxima de Deus. A partir deste “chegar mais perto”, entramos em diálogo para pedir o que nos convêm, ou, como tão bem sintetizou Santo Agostinho: “Deus não nos aconselharia pedir se não quisesse dar”. Essa aproximação, através da oração em estado de graça, alimenta a nossa alma com toda sorte de bens espirituais fazendo com ela fique cada vez mais saudável, cada vez mais cristificada, cada vez mais dócil ao Espírito Santo, pois, assim como a alma dá vida ao corpo, a oração é quem dá vida à alma. São João Crisóstomo lembra que, “assim como o corpo não pode viver sem a alma, assim a alma sem a oração está morta e exala mau cheiro”. Ele diz que exala mal cheiro, porque aquele que não reza logo começa a se corromper pelos vícios e pecados.

A oração nos aproxima de Deus

Quando Jesus nos orienta a rezar, é com a própria vida da alma que Ele está preocupado. Aquele que não reza busca sua vida onde ela não está, por isso não a encontra. Como em Jeremias (2,13), Deus pode dizer que aquele que não reza “abandonou-me a mim, fonte de água viva, e para si preferiu cavar cisternas, cisternas defeituosas que não retêm a água”.

A oração é, portanto, fundamento de vida, base de salvação. Santo Tomás de Aquino ensina que, como a alma é superior a tudo que é material ou corpóreo, inclusive superior a todas as obras exteriores de serviço a Deus, a oração está acima de qualquer outra ação que possa ser realizada, pois “rezando, o homem entrega a sua alma a Deus, submetendo-a por reverência a Ele”. Ou seja, através da oração, finalmente reconhecemos, concretamente, que Deus é Deus e, de verdade, submetemo-nos a Ele.

Essa submissão, longe de nos diminuir, deveria ser fonte de intensa alegria. Deus nos ama mais que nós mesmos e tem o poder e o desejo de fazer o que for melhor para nós. É o que nos diz Santo Afonso de Ligório quando exorta para que “estejamos certos que, querendo o que Deus quer, estamos querendo o nosso maior bem”. Ao rezar, e rezando com perseverança, temos o auxílio de Deus para conseguirmos praticar as virtudes e vencer as tentações, pois, segundo o mesmo Doutor da Igreja, “para observar inteiramente todos os preceitos divinos, não bastam as luzes recebidas anteriormente, nem as meditações e os propósitos que fizemos”, mas é a oração diária que nos concede, por parte de Deus, forças para cumprir o que queremos e devemos fazer.

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Vencendo as tentações

Veja que já se introduziu a outra necessidade da oração: vencer as tentações. A oração é, portanto, uma poderosa arma espiritual. Segundo Santo Tomás, “depois do batismo, a oração contínua é necessária ao homem para poder entrar no céu. Embora sejam perdoados os pecados pelo batismo, sempre ainda ficam os estímulos ao pecado, que nos combate interiormente, o mundo e os demônios que nos combatem externamente”. Somente rezando, pode-se resistir. Isso é tão importante que São Gelásio atribuía a queda dos anjos, que se tornaram demônios, à falta de oração. Mesmo sendo criados em estado de graça, não perseveraram e, segundo o santo, “receberam em vão a graça divina; e porque não rezaram, caíram”.

Disso podemos entender que só é possível resistir às tentações, rezando. E, como já vimos, Deus condicionou certas realizações da providência à oração. A oração é condição necessária e imprescindível para resistir às tentações. Em linguagem popular, pode-se dizer que ou se reza ou, fatalmente, se cairá em pecado. Santo Afonso explica que “as luzes recebidas, as considerações e os bons propósitos que fazemos, servem para que rezemos nas ocasiões iminentes de desobedecer à lei divina e, assim, possamos obter o socorro divino, que nos conservará incólumes do pecado.” Repito: servem para que rezemos.

Caminho de oração

Deste modo, é possível vencer as tentações, desde que perseveremos no caminho da oração, pois, como diz Santo Tomás, “o que é possível com o auxílio divino não se pode dizer simplesmente que é impossível”. São João Crisóstomo vai mais longe e afirma que somos culpados e merecemos castigo se não usarmos da oração para nos manter íntegros: “Não poderá ser desculpado aquele que não quis vencer o inimigo, abandonando a oração”. Inversamente, e muito coerentemente, o mesmo santo afirma que “Deus nunca nega os benefícios a quem ora, ele que nos provoca pela sua piedade a que não deixemos de orar”.

Listamos, portanto, vários motivos pelos quais devemos, necessariamente, rezar e rezar diariamente: é uma orientação do Cristo para a saúde e salvação da nossa alma; é o mais alto ato de religião que podemos praticar, muito acima de quaisquer obras exteriores; coloca-nos, voluntariamente, sob o cuidado e a providência de Deus, escutando-O e vivendo sob Sua vontade, que é melhor do que nossas próprias decisões e vontades; é o único meio de mantermos nossas promessas e propósitos válidos e realizáveis; é a arma espiritual que, se não nos mantêm livre das tentações, certamente, impede-nos de cair em pecado.

No próximo artigo desta série, examinaremos como os santos doutores nos ensinam a fazer a oração bem feita e completa! Até lá, se você tem sede e pressa, convido-o a entender e viver melhor as virtudes que nos levam diretamente a Deus por meio desta outra série: Virtudes Teologais.