Repare que, em qualquer situação, quando existe certeza e segurança da resposta, a pergunta sempre é respondida prontamente e com convicção. Não é necessário pensar muito sobre aquilo que, para nós, é óbvio ou essencial. Igualmente, ninguém precisa recordar que se faça aquilo que consideramos primordial que seja feito. Digamos que está sempre sob os nossos olhos a necessidade que consideramos imprescindível ou prioritária.
Sendo a oração o nosso assunto, você tem certeza ao responder por que é preciso rezar? Não procuramos aqui a resposta “certa” ou a dos livros, mas aquela que nos motiva a entender que, se precisa, tem que fazer. Se precisa, não esquece nunca de fazer. Finalmente, se entende que rezar faz parte de vida tanto quanto comer, dormir ou respirar.
Se a sua resposta não é tão forte a ponto de sair do intelecto e mover o coração para a ação, busquemos orientações da Palavra de Deus e dos santos para adquirir a certeza de fé de que rezar é necessário e provocar uma renovação de vida.
Qual é a necessidade de rezar? De termos um tempo para oração?
A resposta mais simples sobre a necessidade de rezar é: Jesus nos orienta a isso! Sendo Deus, lembre-se que não é possível pensar que foi uma observação meramente casual. É uma orientação que deve ser seguida, um conselho ou, pode-se até dizer, um mandamento: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,41). Em outros momentos (Lc 18,1), Ele contou parábolas para mostrar a importância de rezar e perseverar na oração.
Como vimos em outro artigo desta série, a oração nos aproxima de Deus. A partir deste “chegar mais perto”, entramos em diálogo para pedir o que nos convêm, ou, como tão bem sintetizou Santo Agostinho: “Deus não nos aconselharia pedir se não quisesse dar”. Essa aproximação, através da oração em estado de graça, alimenta a nossa alma com toda sorte de bens espirituais fazendo com ela fique cada vez mais saudável, cada vez mais cristificada, cada vez mais dócil ao Espírito Santo, pois, assim como a alma dá vida ao corpo, a oração é quem dá vida à alma. São João Crisóstomo lembra que, “assim como o corpo não pode viver sem a alma, assim a alma sem a oração está morta e exala mau cheiro”. Ele diz que exala mal cheiro, porque aquele que não reza logo começa a se corromper pelos vícios e pecados.
A oração nos aproxima de Deus
Quando Jesus nos orienta a rezar, é com a própria vida da alma que Ele está preocupado. Aquele que não reza busca sua vida onde ela não está, por isso não a encontra. Como em Jeremias (2,13), Deus pode dizer que aquele que não reza “abandonou-me a mim, fonte de água viva, e para si preferiu cavar cisternas, cisternas defeituosas que não retêm a água”.
A oração é, portanto, fundamento de vida, base de salvação. Santo Tomás de Aquino ensina que, como a alma é superior a tudo que é material ou corpóreo, inclusive superior a todas as obras exteriores de serviço a Deus, a oração está acima de qualquer outra ação que possa ser realizada, pois “rezando, o homem entrega a sua alma a Deus, submetendo-a por reverência a Ele”. Ou seja, através da oração, finalmente reconhecemos, concretamente, que Deus é Deus e, de verdade, submetemo-nos a Ele.
Essa submissão, longe de nos diminuir, deveria ser fonte de intensa alegria. Deus nos ama mais que nós mesmos e tem o poder e o desejo de fazer o que for melhor para nós. É o que nos diz Santo Afonso de Ligório quando exorta para que “estejamos certos que, querendo o que Deus quer, estamos querendo o nosso maior bem”. Ao rezar, e rezando com perseverança, temos o auxílio de Deus para conseguirmos praticar as virtudes e vencer as tentações, pois, segundo o mesmo Doutor da Igreja, “para observar inteiramente todos os preceitos divinos, não bastam as luzes recebidas anteriormente, nem as meditações e os propósitos que fizemos”, mas é a oração diária que nos concede, por parte de Deus, forças para cumprir o que queremos e devemos fazer.
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Vencendo as tentações
Veja que já se introduziu a outra necessidade da oração: vencer as tentações. A oração é, portanto, uma poderosa arma espiritual. Segundo Santo Tomás, “depois do batismo, a oração contínua é necessária ao homem para poder entrar no céu. Embora sejam perdoados os pecados pelo batismo, sempre ainda ficam os estímulos ao pecado, que nos combate interiormente, o mundo e os demônios que nos combatem externamente”. Somente rezando, pode-se resistir. Isso é tão importante que São Gelásio atribuía a queda dos anjos, que se tornaram demônios, à falta de oração. Mesmo sendo criados em estado de graça, não perseveraram e, segundo o santo, “receberam em vão a graça divina; e porque não rezaram, caíram”.
Disso podemos entender que só é possível resistir às tentações, rezando. E, como já vimos, Deus condicionou certas realizações da providência à oração. A oração é condição necessária e imprescindível para resistir às tentações. Em linguagem popular, pode-se dizer que ou se reza ou, fatalmente, se cairá em pecado. Santo Afonso explica que “as luzes recebidas, as considerações e os bons propósitos que fazemos, servem para que rezemos nas ocasiões iminentes de desobedecer à lei divina e, assim, possamos obter o socorro divino, que nos conservará incólumes do pecado.” Repito: servem para que rezemos.
Caminho de oração
Deste modo, é possível vencer as tentações, desde que perseveremos no caminho da oração, pois, como diz Santo Tomás, “o que é possível com o auxílio divino não se pode dizer simplesmente que é impossível”. São João Crisóstomo vai mais longe e afirma que somos culpados e merecemos castigo se não usarmos da oração para nos manter íntegros: “Não poderá ser desculpado aquele que não quis vencer o inimigo, abandonando a oração”. Inversamente, e muito coerentemente, o mesmo santo afirma que “Deus nunca nega os benefícios a quem ora, ele que nos provoca pela sua piedade a que não deixemos de orar”.
Listamos, portanto, vários motivos pelos quais devemos, necessariamente, rezar e rezar diariamente: é uma orientação do Cristo para a saúde e salvação da nossa alma; é o mais alto ato de religião que podemos praticar, muito acima de quaisquer obras exteriores; coloca-nos, voluntariamente, sob o cuidado e a providência de Deus, escutando-O e vivendo sob Sua vontade, que é melhor do que nossas próprias decisões e vontades; é o único meio de mantermos nossas promessas e propósitos válidos e realizáveis; é a arma espiritual que, se não nos mantêm livre das tentações, certamente, impede-nos de cair em pecado.
No próximo artigo desta série, examinaremos como os santos doutores nos ensinam a fazer a oração bem feita e completa! Até lá, se você tem sede e pressa, convido-o a entender e viver melhor as virtudes que nos levam diretamente a Deus por meio desta outra série: Virtudes Teologais.