Não posso crer sem ser carregado pela fé dos outros; e pela minha fé, contribuo para também carregar a fé deles
Neste programa ‘Luz da Fé’, quero refletir com você sobre o número 166 do Catecismo da Igreja Católica, que nos ensina o seguinte:
Nós cremos
166. A fé é um ato pessoal: a resposta livre do homem à iniciativa de Deus que se revela. Ela não é, porém, um ato isolado. Ninguém pode crer sozinho, assim como ninguém pode viver sozinho. Ninguém deu a fé a si mesmo, assim como ninguém deu a vida a si mesmo. O crente recebeu a fé de outros, deve transmiti-la a outros. Nosso amor por Jesus e pelos homens nos impulsiona a falar a outros de nossa fé. Cada crente é como um elo na grande corrente dos crentes. Não posso crer sem ser carregado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo para carregar a fé dos outros.
O Catecismo da Igreja nos ensina que eu “não posso crer sem ser carregado pela fé dos outros”. Isso nos leva a recordar aquela passagem no Evangelho segundo Lucas, no capítulo 5 (também presente em Mateus 9 e Marcos 2), que narra o fato dos amigos que carregavam um paralítico na maca e abriram – diante da multidão – um buraco no telhado da casa onde Jesus se encontrava para descer e levar o amigo necessitado até diante do Senhor.
Tanto Lucas, como Mateus e Marcos, ao narrar essa passagem, usam a seguinte expressão: “Vendo a fé que eles tinham”, ou seja, Jesus viu a fé dos amigos daquele paralítico e não somente a fé daquele homem preso a sua maca. Aqueles amigos do paralítico tinham fé, por isso que fazem todo um esforço para levá-lo até a presença de Jesus. Literalmente, aquele paralítico foi curado e carregado pela fé de seus amigos.
A Igreja nos ensina que a fé é um ato pessoal, porém, não é um ato isolado. Por isso, precisamos tomar cuidado com certos pensamentos e frases do tipo: “Ah! Eu me relaciono com Deus do meu jeito!”, ou ainda: “Eu não vou à Igreja, prefiro me relacionar com Deus na minha casa mesmo”.
Não, meus irmãos! É dentro da Igreja, é estando inserido na comunidade de fé, junto com nossos irmãos, que professam o mesmo Credo que professamos, é assim que devemos viver. A sua fé, meu irmão, deve sustentar a minha. E a minha fé, por sua vez, também deve sustentar a sua. E isso acontece quando vivemos na Igreja, na comunidade de fé. Isso acontece quando participamos da vida da Igreja e dos sacramentos; e dentro da comunidade, temos a oportunidade de olhar ao redor e ver tantos irmãos – que assim como nós – também sofrem, lutam e jamais deixam de acreditar. Isso tudo sustenta a nossa fé!
Assembleia na carpintaria
Contam que, na carpintaria, houve uma vez uma estranha assembleia. Foi uma reunião das ferramentas para acertar suas diferenças.
O martelo exerceu a presidência, mas os participantes lhe notificaram que teria de renunciar. A causa? Fazia demasiado barulho e, além do mais, passava todo o tempo golpeando. O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que também fosse expulso o parafuso, dizendo que ele dava muitas voltas para conseguir algo. Diante do ataque, o parafuso concordou, mas por sua vez, pediu a expulsão da lixa. Dizia que ela era muito áspera no tratamento com os demais. A lixa acatou, com a condição de que se expulsasse a trena, que sempre media os outros segundo a sua medida, como se fora a única perfeita.
Nesse momento, entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou o seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, a trena e o parafuso. Finalmente, a rústica madeira se converteu num fino móvel. Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembleia reativou a discussão. Foi, então, que o serrote tomou a palavra e disse:
– Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha com nossas qualidades, como nossos pontos valiosos. Assim, não pensemos em nossos pontos fracos, e concentremo-nos em nossos pontos fortes.
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A assembleia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para limar e afinar asperezas e a trena era precisa e exata. Sentiram-se, então, como uma equipe capaz de produzir móveis de qualidade. Sentiram alegria pela oportunidade de trabalhar juntos.
Assim acontece na Igreja. Ela não é tão somente um “corpo” formado por pessoas frágeis e pecadoras, mas é nela [Igreja] que Deus também se utiliza daquilo que cada um traz de valioso dentro de si. O Senhor faz uso da preciosa fé de cada um numa vivência eclesial.
Por isso, eu digo a você: venha para a Igreja! Não viva sua fé como um ato isolado, “sozinho num canto”. Permita que sua fé seja carregada pela fé dos seus irmãos. E saiba: Deus também lhe dá a graça de sustentar a fé de outros, a partir do seu testemunho de fé.
Você, que há muito tempo se distanciou da Igreja, eu lhe digo: volte! Volte para sua paróquia, volte a frequentar a comunidade, volte a atuar numa pastoral da Igreja e, enfim, volte a servir com amor e alegria. Se há muito tempo você deixou de ir à Santa Missa, volte! Esse é o convite que a Igreja faz a você no dia de hoje.
Um forte abraço!