Quem não conhece São Francisco de Assis? Cristãos ou não, a história desse rico jovem italiano — que tudo abandonou para, em nome de Jesus, ser pobre com os pobres —, continua tocando corações pelo mundo afora e suscitando em muitos o desejo de viver essa radicalidade do Evangelho.
Nascido em 1182, no centro da Itália, Jean Bernardone queria se tornar um cavaleiro e levou uma vida um tanto quanto dissoluta. Quando soldado, foi feito prisioneiro e seu retorno a Assis foi marcado por uma grande conversão. Seu novo olhar sobre as mundanidades de seu meio mudou completamente seu jeito de ser. Um apelo do Céu “Vai e reconstrói a minha Igreja”, o levou a consertar igrejas ao redor de Assis. Pouco a pouco, vai entender de qual reconstrução essa Voz falava.
Muitas são as histórias que podemos partilhar sobre nosso querido santo de Assis. Mas uma delas, em particular, merece a nossa atenção: o seu encontro com um leproso. Tomás de Celano, um frei que escreveu a biografia de Francisco, conta que “certa vez, indo a cavalo perto de Assis, veio-lhe ao encontro um leproso. Embora tivesse muito horror dos leprosos, fazendo-se violência, apeou e ofereceu-lhe uma moeda, beijando-lhe a mão. Após ter recebido dele o beijo da paz, montou a cavalo e prosseguiu seu caminho. Desde então, começou, cada vez mais, a desprezar-se, até conseguir, pela graça de Deus, a mais perfeita vitória sobre si mesmo. Poucos dias depois, levando consigo muito dinheiro, dirigiu-se ao leprosário e, reunindo todos os leprosos, deu a cada um uma esmola, beijando-lhes a mão”.
O que podemos aprender com essa passagem?
São Francisco era pobre de coração
Primeiro, entre Francisco e o leproso havia muita diferença e uma grande distância física e social. Francisco desceu do cavalo para se colocar ao seu nível, para estar em pé de igualdade com aquele pobre coitado. Este foi um passo importante: ele deixou de lado as suas seguranças e seu status social.
Segundo, beijando o leproso, Francisco vence a luta contra o “homem velho”. Através desse gesto de fraternidade, seu medo desapareceu. É como se ele tocasse esse homem impuro para ser limpo de seus medos e traumas. Depois de tocar o leproso, Francisco se levanta para começar uma nova vida. Com seu beijo, a distância entre os dois homens desaparece para dar lugar à comunhão.
Um terceiro aprendizado: este encontro opera em Francisco uma grande transformação em seu ser. Em seu testamento, ele afirma que o Senhor o enviou aos leprosos e, desde então, “tudo o que era amargo se transformou em doçura”. Francisco se torna cada vez mais misericordioso com os pobres de seu tempo. Essa atitude mostra seu caminho de maturidade, onde começa-se a perceber uma grande coerência entre sua transformação interior e seu comportamento exterior com os outros. Beijar um leproso é uma manifestação visível de sua purificação interior.
A coragem de Francisco
Como quarta e última lição, gostaria de destacar a coragem de Francisco. Ele entendeu que sua vida não podia se limitar a dizer: “seria necessário”, “seria bom”, “seria importante”… Percebeu que não tinha tempo a perder com questionamentos vazios que o impediriam de agir concretamente. No seu processo de conversão, Francisco não espera. Aquele que era seu inimigo, o leproso, tornou-se seu próximo. Esse homem deixou de ser apenas mais um enfermo contagioso; a partir de então, ele passou a ter uma identidade, um nome, uma família, uma história, sonhos… Beijando-o, Francisco, aprendeu a conhecê-lo e a amá-lo.
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Obrigado, Francisco, por esse e tantos ensinamentos dados através de seus atos.
Nosso querido amigo de Assis morreu no dia 3 de outubro de 1226. Sua radicalidade evangélica continua sendo uma fonte de inspiração e de renovação para a Igreja. Também a nós, de certo modo, o Senhor continua dizendo: “Vai e reconstrói a minha Igreja”.
São Francisco de Assis, rogai por nós!