O sol ainda não nasceu e já faz calor. O dia promete ser quente. Numa pequena casa na cidadezinha de Nazaré, uma bela mulher termina a sua oração e ainda na penumbra começa a moer grãos de cevada no moinho, para preparar o pão para os próximos dias. Seu filho ainda dorme ali, quase ao seu lado, e seu marido está do lado de fora, rezando. A mulher gira diligentemente uma pedra sobre a outra e só se ouve o som dos grãos sendo esmagados, virando farinha, e o canto de um ou outro pardal que pousa no telhado da casa.
Em alguns minutos, a família se reunirá e, sentados no chão, Jesus, Maria e José farão sua refeição, não sem antes agradecer a Deus. Quando terminarem, José irá para a oficina, que fica ao lado da sua casa, consertar o cabo de uma ferramenta que um vizinho deixou no dia anterior e em seguida andará quase dois quilômetros com uma viga de madeira nos ombros até a casa de um parente seu, onde o carpinteiro está finalizando a construção do telhado. Jesus o acompanhará e a imagem do seu pai com o madeiro sobre os ombros se repetirá anos depois, de forma dramática e sangrenta, no sacrifício redentor da humanidade.
A simplicidade e a doçura da Sagrada Família
Com um pouco de pesquisa e do uso da imaginação, não é difícil compor o que poderia ser o começo de um dia qualquer da Sagrada Família de Nazaré. Numa casa de taipa de apenas um cômodo, com uma oficina improvisada ao lado, José, Maria e Jesus rezavam, faziam as refeições, trabalhavam, dormiam, conversavam e, acima de tudo, amavam-se intensamente.
Em contraponto, não é necessária muita pesquisa para que possamos imaginar como era o ambiente daquela casa, basta examinarmos os Evangelhos e meditarmos sobre as santas vidas de José, Maria e Jesus. Compreenderemos então que não poderia haver nada ali que não fosse virtuoso: os olhares, as conversas, os sorrisos, os afazeres e, de maneira marcante, o serviço que eles se prestavam mutuamente, cada um contribuindo para a felicidade do outro.
O matrimônio como sacramento do serviço
A Igreja nos ensina que o matrimônio é um Sacramento do Serviço, uma vez que a pessoa desenvolve sua vocação servindo o outro – no caso do matrimônio, o cônjuge e os filhos. Muito disto podemos colher contemplando, em nossa imaginação, a simplicidade e a doçura que imperavam naquela casinha em Nazaré. José já estava acostumado a servir, a começar por sua profissão. A ele recorriam aqueles que queriam fazer um banco, uma escada, uma viga para um telhado, consertar uma ferramenta.
Certamente José trabalhava na própria oficina, mas também fazia serviços na casa de seus clientes. Justo e temente a Deus como ele era, podemos assumir que esse serviço era realizado com ainda mais esmero quando se destinava ao cuidado da sua família. Com que devoção não teria ele trabalhado para fazer um baú de madeira onde Maria guardaria os víveres, ou ainda um banco para sentar-se mais confortavelmente quando sua esposa virginal estava perto do fim da gravidez!
A virtude do serviço exemplificada em Maria
E por falar em Maria, que mestra do serviço! Não titubeou em, já grávida, ir de Nazaré até Ein Kerem, para auxiliar Isabel. Na Bíblia, as duas localidades estão pertinho uma da outra, no mesmo versículo, mas Maria teve que subir as montanhas numa trilha íngreme de quase cento e cinquenta quilômetros, numa viagem a pé que durava quase uma semana. Podemos esperar da Mãe do Salvador um esforço menor para servir seu esposo e seu divino filho?
A vida em Nazaré era dura, exigente, mas não havia cara feia da parte de José quando tinha que trabalhar até mais tarde para garantir que houvesse dinheiro para o pão do dia seguinte. Da mesma maneira, não havia murmuração de Maria ao remendar pela quarta ou quinta vez a roupa do menino Jesus, que, brincalhão e traquina como toda criança, quase sempre voltava para casa com a roupa e os joelhos sujos e rasgados. Se algum dia José caiu doente com febre, Jesus e Maria adoeceram com ele, compadecendo-se de seu sofrimento. Quando Maria estava exausta dos afazeres domésticos – muito diferentes dos de hoje e certamente muito mais numerosos – podemos vislumbrar José, mesmo cansado da sua própria labuta, assumindo a preparação da refeição para que sua esposa pudesse descansar um pouco as pernas.
A harmonia do lar de Nazaré
No lar de Nazaré não havia disputa nem cálculos matemáticos entre os esposos. Eles queriam se gastar um pelo outro, seja no serviço braçal, da vida, seja no serviço do amor, com o cuidado, a ternura e a paciência sempre presentes, não importavam as circunstâncias. No início do nosso percurso formativo para os casais, convidamos você a deixar-se deslumbrar pela beleza do lar de Nazaré., olhando para aquela família, seus sorrisos, seus silêncios, suas orações. Depois, contemple esse casal tão santo:
Como José conduzia aquela família? Como era a sua postura? Como ele se dirigia à sua esposa e ao seu filho adotivo? Justo como ele era, temente a Deus, homem orante e discreto, puro, casto, prudente e obediente, sabemos que ele era o “espelho da paciência”, o “modelo dos trabalhadores”, a “honra da vida de família”. José não deu nada menos do que tudo o que tinha em seu cuidado com Maria e Jesus.
Leia mais:
.:A Misericórdia Divina está sempre ao nosso alcance
.:Como podemos ter uma vida nova em Cristo?
.:Vivenciando a Oitava da Páscoa: A paz esteja convosco!
.:Jesus Ressuscitado: Caminho, Verdade e Vida
Maria, a esposa virtuosa e mãe amorosa
Que tipo de esposa era Maria? Que tipo de mãe? Como Maria realizava suas obrigações domésticas? Maria é a Rainha das Virtudes, e em cada ato seu, por mais trivial que seja, podemos aprender a ser mais virtuosos. Obediente como ninguém, Maria certamente obedecia a seu esposo. Se enfrentavam um período de vacas mais magras que o usual, não havia ninguém mais humilde que Maria, nem mais paciente, nem mais pobre. Se o dia fosse especialmente estafante, seu amor tornava tudo uma oferta agradável a Deus.
Não precisamos usar muito a nossa imaginação para sabermos quais os traços mais marcantes daquele lar: ali prevalecia Deus, e a oração estava presente em todas as situações. Respirava-se amor, doação, serviço e ternura. Do nascer ao pôr-do-sol, cada um buscava fazer o maior bem possível pelo outro, sem nunca exigir ou desejar nada em troca. Justamente por isso, não havia em Nazaré nem em qualquer outro lugar do mundo um lar mais alegre do que aquele.
Equipe Formação Portal Canção Nova