Cristo Ressuscitado

Vivenciando a Oitava da Páscoa: A paz esteja convosco!

A Liturgia do Domingo de Páscoa nos chama a glorificar a Deus dizendo: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!”. Com efeito, a fé cristã nasce e se renova na experiência direta da realidade de Jesus Ressuscitado. A semana que se segue, chamada Oitava da Páscoa, deve ser vivida com entusiasmo e especial dedicação ao Anúncio da Salvação, proclamando que o Cristo Ressuscitado é o Caminho, a Verdade e a Vida; que não há salvação se não por Ele [1]. É nesse período que Jesus aparece aos onze para reafirmar a missão evangelizadora: “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura!” [2] e pronunciar em palavras concretas a necessidade do batismo: “Quem crer e for batizado será salvo” [3].

A notícia da ressureição atingiu cada uma das testemunhas de uma maneira particular. Para Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, o primeiro sentimento foi de medo [4]; já Pedro e João (o outro discípulo) viram os sinais da ressureição: as faixas no chão e o sudário que tinham colocado sobre a cabeça de Jesus, então acreditaram [5]; os discípulos de Emaús estavam com os olhos impedidos de reconhecer Jesus [6]; entre os Onze, houve aflição e choro [7], seguidos de incredulidade e dureza de coração [8]. Os quatro Evangelhos relatam os testemunhos das mulheres e dos discípulos diante da Ressureição. É que eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual Jesus deveria ressuscitar dos mortos [8], mas para nós não resta dúvida: Jesus não está morto, Ele ressuscitou [9].

Testemunhas da Ressurreição

Nos dias que se seguiram a Ressureição, nos quais celebramos na semana da Oitava da Páscoa, enche-se de esperança e ânimo o coração do cristão que verdadeiramente compreendeu que era necessário que o Filho do Homem fosse entregue às mãos dos pecadores para ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia [10]. O Catecismo da Igreja Católica (642) esclarece que tudo quanto aconteceu nestes dias pascais empenha cada um dos Apóstolos – e muito particularmente Pedro – na construção da era nova, que começa na manhã do dia de Páscoa. Como testemunhas do Ressuscitado, eles são as pedras do alicerce da sua Igreja. A fé da primeira comunidade dos crentes está fundada no testemunho de homens concretos, conhecidos dos cristãos, e a maior parte vivendo entre eles.

Crédito: Arthit Longwilai/cancaonova.com

Na Tradição da Igreja, os catecúmenos recebiam o batismo durante a Vigília pascal, de modo que a noite anterior ao Domingo da Ressurreição tornava-se para eles a sua “Páscoa”, a passagem do espírito à Graça. Os então batizados recebiam uma veste branca, que os distinguia por toda a Oitava da Páscoa, sendo retirada no domingo chamado in Albis depositis. Esse período do catecumenado era vivido assim pelos cristãos das primeiras gerações da Igreja, cujas tradições atualmente se refletem na liturgia da Quaresma. Hoje, embora não mais precisamente em vestes brancas, mantêm-se o sentimento de abandonar o modo anterior de viver e nos revestirmos do novo ser, que foi criado à imagem de Deus, na justiça e na santidade verdadeiras [11].

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É tempo de vida nova

A reflexão particular para a semana da Oitava da Páscoa deve ser sobre a vida nova que alcançamos com o testemunho da Ressurreição, sobre os impactos da oração, do jejum e da penitência praticados na experiência da Quaresma e do sentimento de alegria e exultação com que nos apresentamos como testemunhas do Cristo Ressuscitado.

O Papa Francisco nos ensina que este é o anúncio que a Igreja repete desde o primeiro dia: “Cristo ressuscitou!”. E, n’Ele, pelo batismo, também nós ressuscitamos, passamos da morte para a vida, da escravidão do pecado para a liberdade do amor. Eis a boa nova que somos chamados a anunciar aos outros e em todos os ambientes, animados pelo Espírito Santo. A fé na ressurreição de Jesus e a esperança que Ele nos trouxe é o dom mais bonito que o cristão pode e deve oferecer aos irmãos. O Cristo Ressuscitado é um anúncio constante, renovado e reanimado na Páscoa, mas que acompanha todo momento da vida cristã.

Por meio da experiência da Quaresma, dos sinais da Paixão de Cristo e do testemunho da Ressurreição, que possamos vivenciar constantemente a nossa fé, sendo testemunhas de uma vida plena em Jesus, acolhendo com o coração sincero as palavras pronunciadas aos discípulos que tinham medo: “A paz esteja convosco!” [12]. Que assim seja!

Citações do texto bíblico:
[1] (Jo 14, 6); [2] (Mc 16, 15); [3] (Mc 16, 16); [4] (Mc 16, 1-8); [5] (Jo 20, 5-8); [6] (Lc 24, 16; Mc 16, 12); [7] (Mc 16, 10); [8] (Mc 16, 14); [9] (Jo 20, 9); [10] (Lc 24, 6); [10] (Lc 24, 7); [11] (Ef 4, 22-24); [12] (Jo 20, 19).

Referências:

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. In textos fundamentais. Arquivo do Vaticano.
JOÃO PAULO II. Homilia na visita pastoral à paróquia romana de São Pancrácio. Roma, 22 abr. 1979.
JOÃO PAULO II. Homilia na Santa Missa em Bérgamo. Itália, 26 abr. 1981.
SAGRADA BIBLIA. Traducción y notas Facultad de Teología Universidad de Navarra. Edição Digital. Editora EUNSA. 2016.