Meio de Salvação

A Igreja, um desígnio eterno do Pai

Uma das personalidades que, de forma magistral, escreveu sobre a Igreja foi o Papa São João Paulo II. Ele realizou um número de 51 catequeses eclesiológicas, nas quais iremos comentar e apresentar para vocês neste e em textos futuros. Partiremos do nome, da convocação que o próprio Cristo realizou, fundando a Igreja.

A Constituição Dogmática Lumem Gentium, no número 2, deixa claro que foi em sua sabedoria e bondade que Deus criou o universo e elevou os homens à participação da vida divina. Embora caídos no pecado, Ele não os abandonou, mas sempre ofereceu auxílios para a salvação em virtude de Cristo, o Redentor. Desde a eternidade, o Pai desejou que os homens fossem a imagem e semelhança de seu Filho.

A Igreja foi fundada por Cristo por meio do Espírito Santo, para nos ajudar na busca pela salvação

A Igreja, desde a origem do mundo, foi prefigurada, foi preparada na história do povo de Israel e na antiga aliança. Ela é manifestada pela efusão do Espírito Santo e, no fim dos tempos, será gloriosamente consumada, quando todos os justos serão congregados junto do Pai na Igreja universal, afirma a Lumem Gentium número 2. 

A Igreja desígnio eterno do Pai

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

As origens do nome

É importante para nós sabermos como o próprio Jesus, o fundador da Igreja, a chamou. É no nome que se encontra o pensamento, o projeto e a missão da Igreja. Quando, no Evangelho de Mateus 16,18, Jesus fala sobre ela, diz o seguinte: “[…] tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Hades nunca prevalecerão contra ela”. Jesus usa um termo que, no texto grego de Mateus, se encontra como ekklesía, logo a expressão de Jesus é esta: “mou ten ekllesian”, ou seja, a minha Igreja. Provavelmente, pela boca do Senhor tenha saído o termo “qahalá” em aramaico, que é o equivalente ao termo usado pelo evangelista. O Senhor Jesus chama de sua Igreja esta mesma que, em Pedro, é colocado os alicerces (L’Osservatore Romano, n.30, 1991).

Ambos os termos qahál quanto o ekklesía significam reunião, assembleia. Porém, o verbete ekklesía tem correspondência com o termo kalein, que significa “chamar”. A Igreja é uma assembleia, ou seja, que foi convocada, chamada, ela é o povo eleito, chamado por Deus.

A palavra assembleia, tanto na linguagem semítica – faz parte do conjunto de línguas, inclusive da falada por Jesus – quanto em grego tem como característica a vontade daquele que a convocava e a finalidade para que ele convoca, assim, quando Jesus diz: a minha Igreja, a minha “assembleia”, ele põe nela a sua vontade e finalidade.

A finalidade da convocação

A Igreja tem um destino escatológico, ou seja, ela tem total relação com os acontecimentos últimos do homem, como a morte, o juízo particular, o purgatório, o inferno e o céu (L’Osservatore Romano, n.30, 1991). Desta forma, entende-se o que está escrito na Carta aos Hebreus: “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da cidade que está para vir” (13,14).

A Igreja apresenta-nos por meio dos sacramentos que são sinais visíveis da manifestação de Deus o que viveremos em plenitude no céu, na vida beatífica com os santos. A Igreja, ao mesmo tempo que está acontecendo aqui e agora, ela transcende o tempo e o espaço. O cristão põe na labuta a sua mão, mas com os olhos da fé “contempla” a realidade que há de vir (Catecismo da Igreja Católica, 770).

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Dessa forma, a Igreja é o sacramento universal da salvação que contém e comunica a graça invisível de Deus. Vive-se um exílio aqui na terra, pois ainda não temos a plenitude do Senhor, somos maculados pelo pecado, pelas doenças e fadigas próprias da natureza humana, mas aspiramos como igreja o advento pleno do Reino, “a hora em que ela será, na glória, reunida a seu Rei” (Catecismo da Igreja Católica, 769).

Igreja enviada por Cristo

Deus chamou os homens à participação da Sua vida, não individualmente, mas o quis constituir um povo reconhecido como seus filhos, que outrora estavam dispersos para congregá-los na unidade (L’Osservatore Romano, n.31, 1991). Ele quis também que esses saíssem em missão para buscar os que ainda não tiveram a graça desse encontro e ainda não se reconheceram parte dessa família. É o que está escrito no Evangelho: “[…] não só pela nação, mas também para congregar na unidade todos os filhos de Deus dispersos” (Jo 11,52).

O Cristo, antes de subir aos céus, funda a Igreja sobre Pedro como sacramento da salvação (AG, 871). Assim como Jesus foi enviado pelo Pai, Ele chama Seus apóstolos e os envia em missão: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28,19). 

O Decreto Ad Gentes, sobre a atividade missionária, vai dizer que a Igreja obediente ao mandato de Cristo e movida pela graça e caridade do Espírito Santo, cumpre sua missão quando se faz presente a todos os homens ou povos, a fim de levá-los à fé, à liberdade e à paz de Cristo, pelo exemplo de vida, pela pregação, pelos sacramentos e demais meios pela qual a graça acontece (AG, 871).

Foi desejo do Pai libertar a humanidade desse estado de queda e de inimizade com Cristo, e Sua vontade salvífica se realiza plenamente na cruz com a realização da sua missão dada pelo Pai, quando o Senhor disse: “Está consumado”. Foi também desejo de Cristo que essa salvação chegasse a todos por meio da Igreja.

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