finados

Quarta parte: o sentido da morte para os cristãos

Irmão internauta, no artigo anterior, com base em um pensamento judaico, fizemos uma interessante reflexão sobre as qualidades que a morte pode adquirir. Vimos que ela pode ser comparada a um estrangulamento ou a um beijo. Se você não leu este artigo, gostaria de indicar esta leitura a você. Hoje, 2 de novembro, é dia dos fiéis defuntos, dia em que a Igreja Católica celebra a memória de todos os fiéis que já partiram dessa vida terrena. Trata-se de um momento propício para exercitarmos uma magnífica obra de caridade rezando e intercedendo por nossos irmãos na fé, amigos, parentes, enfim, todos os fiéis falecidos da nossa Igreja.

Cabe lembrar que, desde o segundo século, os cristãos já rezavam pelos falecidos de sua comunidade. Eles visitavam os túmulos dos mártires e intercediam por todos os que haviam morrido. Até hoje, encontram-se gravadas, nas paredes desses antigos túmulos, lindas orações feitas a Deus pelos mortos. Esse costume foi perdurando no seio da Igreja primitiva e acabou sendo transmitido por meio da tradição cristã pelos séculos seguintes.

Somente no século XIV, a Igreja de Roma definiu que a data de hoje (2 de novembro) seria especialmente reservada para que os fiéis vivos, unidos à sua Igreja, elevassem preces a Deus em sufrágio das almas dos fiéis falecidos. Esse dia, aliás, foi escolhido porque, no dia anterior (1º de novembro), a Igreja já havia dedicado, desde o século IX, a todos os santos (Dia de Todos os Santos).

Quarta párte: o sentido da morte para os cristãos

Foto ilustrativa: Rawpixel by Getty Images

Dia de oração e de intercessão pelas almas dos fiéis falecidos

Infelizmente, pode acontecer que muitos fiéis considerem essa importante data apenas como um mero dia de descanso, um feriado a mais no calendário. Nem o fazem por maldade, mas por falta de informação ou de catequese. É por esse motivo que se faz pertinente recordar o digníssimo propósito que levou a Igreja Católica a reservar esta data para tão nobre fim.

As duas datas acima citadas (1º de novembro – Dia de Todos os Santos; e 2 de novembro – Dia dos Fiéis Defuntos) estão intimamente ligadas entre si. Comumente, somos nós os vivos que pedimos a intercessão dos santos, aqueles que já contemplam a face de Deus para nos ajudar em diversas situações da vida. A Igreja afirma, inclusive, que a intercessão desses santos é o mais alto serviço que eles prestam ao desígnio de Deus. Sendo assim, não apenas podemos, mas devemos lhes pedir que intercedam por nós e por todo o mundo (cf. CIC 2683).

Por outro lado, sabemos que as almas dos nossos irmãos que morreram em estado de graça (sem pecado mortal), mas que não estão totalmente purificadas, precisam passar por um estado que os cristãos católicos denominam de “purgatório”. Contudo, esses que já morreram estão impossibilitados de fazer qualquer tipo de escolha. Em suma, não podem fazer mais nada em favor deles. É nesse ponto que entra a importância da nossa oração.

Salvação ou não salvação?

Com a morte, portanto, tudo estará definido quanto ao rumo que deveremos tomar. Sobrarão para nós apenas duas possibilidades, ou seremos salvos ou nos perderemos por toda a eternidade. Para os que se salvaram, já existe a garantia do céu. Porém, não se entra no céu com o menor indício de pecado. Sendo assim, todos aqueles que foram salvos, mas que não se encontram em um estado de santidade absoluta (a maioria dos que morrem) precisam passar por esse estado de purificação que foi falado acima. Relembrando, o purgatório não é um “lugar”, mas um estado.

Para os que se perderam, por mais duro que seja essa afirmação, o fim último é a morte eterna, o inferno. Nossas orações não poderão alcançá-los. Portanto, não rezamos pelos que se perderam, mas pelos que foram salvos. Você pode estar se perguntando agora: “Como vou saber se a pessoa foi salva ou não?” ou “E se a pessoa já foi salva, porque ainda devo rezar por ela?”. Tentarei responder a essas duas perguntas, porém, já quero afirmar de imediato que jamais deixe de rezar pelos que morreram.

Não existe oração que não seja ouvida por Deus

Respondendo à primeira pergunta, não podemos afirmar quais são as pessoas que já estão no inferno, sabemos apenas da sua existência. A Igreja, aliás, nunca citou nenhum nome que tenha ido para lá. Nem Judas Iscariotes, o traidor de Jesus, a Igreja afirma a sua perdição. Portanto, se a “Madre Igreja” não faz essa afirmação, muito menos nós deveríamos fazê-la.

Vamos supor que você reze por uma alma que tenha se perdido. Nesse caso, mesmo que a sua oração não possa alcançar aquela alma específica, isso não quer dizer que sua oração tenha sido inválida ou desperdiçada, pelo contrário, Deus acolherá sua oração e a transmitirá a outra alma que tem possibilidade de alcançar a salvação. Não existe oração que Deus não ouça. Portanto, não deixe de rezar pelos fiéis defuntos e tenha esperança da sua salvação.

Quanto à segunda pergunta, é preciso rezar pelas almas que já estão salvas, porque, mesmo salvas, como já foi falado, não significa que elas já estejam no céu. Mesmo que estejamos em estado de graça (sem pecado mortal), ainda existem em nós aquelas sombras de pecado que precisam ser eliminadas. O purgatório é, justamente, esse estado de purificação que as almas não totalmente santificadas precisam passar antes de alcançarem o céu. Cabe lembrar que a existência do purgatório é um dogma da fé católica.

Nossos irmãos mortos precisam da oração dos vivos

Perceba, caro leitor, a importância da oração de intercessão que fazemos nesse dia reservado aos fiéis defuntos. Intercedamos, no dia de hoje, com e muita esperança para cada alma, de modo que elas recebam a graça infinita de serem levadas para a presença de Deus. Somente nós, os vivos, que compomos a “Igreja Militante”, é que podemos fazer alguma coisa por nossos irmãos da “Igreja Padecente” (os que se encontram no purgatório). Assim, essas almas poderão alcançar a graça de participarem da “Igreja Triunfante” (a Igreja do céu).

O Sumo Pontífice, Papa Francisco, durante o Angelus do dia 2 de novembro de 2014, disse que, no dia dos fiéis defuntos, somos chamados a recordar de todos os que morreram, inclusive aqueles dos quais ninguém se lembra: vítimas das guerras e das violências, os pequeninos do mundo, os esmagados pela fome e pela miséria, os anônimos e indigentes, os irmãos e as irmãs assassinados por serem cristãos e os que se sacrificaram para servir ao próximo.

A tradição da Igreja sempre exortou para que fossem feitas orações pelos finados, oferecendo por eles a Celebração Eucarística. Esta, aliás, é a melhor ajuda espiritual que nós podemos oferecer por suas almas, particularmente por aquelas mais abandonadas. Segundo o Papa Francisco, o fundamento da oração de sufrágio encontra-se na comunhão do Corpo Místico.

Como funciona a questão das indulgências no Dia de Finados?

Neste dia 2 de novembro, de maneira muito especial, a Igreja permite que lucremos indulgência plenária para as almas que estão no purgatório. Exige-se para isso o cumprimento das três condições essenciais: confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice (pelo menos um Pai-Nosso e uma Ave-Maria).

Leia mais:
.:Primeira parte: o sentido da morte para os cristãos
.:Segunda parte: o sentido da morte para os cristãos
.:O que podemos fazer pelas almas dos fiéis defuntos?
.:Indulgências significado e uso

Busque, portanto, a confissão nos dias anteriores ao dia 2 de novembro. Já no dia dedicado aos fiéis defuntos, busque fazer uma piedosa visita a uma igreja ou a um oratório, participe da comunhão e ofereça sua oração na intenção do Santo Padre o Papa. A mesma indulgência plenária é concedida por meio da devota visita a um cemitério entre os  dias 1º e 8 de novembro, seguida da oração do Pai-Nosso e do Creio na intenção do Santo Padre.

Deus abençoe você e até a próxima!