“O Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade quer dos Bispos quer da multidão dos fiéis” (Lumen Gentium, 23).

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A eleição do Papa
A eleição do Papa tem seu caminho principal no Conclave. Duas perguntas, após uma eleição papal válida, precedem a vestição do novo bispo de Roma pela primeira vez com as vestes papais: Acceptasne electionem de te canonice factam in Summum Pontificem? (Aceitas tua eleição canônica como Sumo Pontífice?); Quo nomine vis vocari? (Como queres ser chamado?)
Se a eleição for aceita, a multidão de fiéis ouvirá então o cardeal protodiácono pronunciar estas palavras em latim que ressoarão por todo o mundo: Annuntio vobis gaudium magnum; Habemus Papam: Eminentissimum ac reverendissimum Dominum, Dominum …, Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem …, qui sibi nomen imposuit … “. “Anuncio-vos uma grande alegria; Temos um Papa: o Eminentíssimo e reverendíssimo Senhor …, Cardeal da Santa Igreja Romana …, que se impôs o nome de ….”. Estas palavras normalmente são pronunciadas da sacada central da Basílica de São Pedro. O nome do novo Papa continua sendo a primeira palavra gravada na mente não apenas dos cristãos.
O novo Papa da Igreja Católica e o nome de Leão XIV
Após o falecimento do Papa Francisco, no dia 21 de abril, o Cardeal Robert Francis Prevost foi eleito o novo Papa da Igreja Católica, adotando o nome de Leão XIV. O nome, segundo a crença católica, simboliza liderança, sabedoria e a defesa intransigente da fé. O nome foi usado por 13 papas antes de Prevost, com destaque para o histórico São Leão I, conhecido como Leão Magno, que ocupou o sumo pontificado entre 440 e 461.
O Papa Leão XIV é o mais recente pontífice a seguir a tradição de adotar esse nome, que também é associado a papas como Leão XIII, notável por sua influência no mundo moderno por conta da encíclica Rerum Novarum, que abordou a Doutrina Social da Igreja.
O menos americano dos cardeais americanos
Pouco mais de um mês após o final do Conclave, o fundador da Comunidade de Sant’Egidio, Andrea Riccardi, comentou os primeiros dias do pontificado do sucessor do Papa Francisco diante de correspondentes estrangeiros em Roma, na sede da Associação de Imprensa Estrangeira, no Palazzo Grazioli: “Leão XIV é um Papa universal, diria um Pontífice mais adequado para um mundo global. Ele é calmo e determinado, mas não será um restaurador”. E continuou: “Os cardeais elegeram entre si o menos americano dos cardeais americanos” – enfatizando como sua primeira característica a “pluralidade” das raízes de Francis Robert Prevost. Leão é um Papa tão mestiço que parece artisticamente criado. Ele nasceu na América do Norte, mas toda a experiência que teve no Peru é forte nele, primeiro como missionário e depois como bispo. Sua internacionalidade “incorpora a própria natureza universal da Igreja Católica“, acrescentou.
O conhecimento do mundo, adquirido em sua experiência como Prior Geral dos Agostinianos, no entanto, não fez de Prevost “um homem desenraizado“, mas um verdadeiro pastor.
Papa Leão XIV, sua personalidade original
Segundo Riccardi, que também foi Ministro para a Cooperação Internacional e Integração da Itália, não é possível entender Leão sem falar – entre continuidades e divergências – do Papa Francisco, que primeiro o consagrou bispo e depois o nomeou cardeal. Jorge Bergoglio foi o homem da profecia, de uma Igreja em saída, um revolucionário que administrou a Cúria em detalhes e de uma maneira muito pessoal.
Diante das correntes internas que agitam o mundo eclesial, fica claro que “Leão XIV não é o homem da restauração, mas um Papa […] que deverá ajudar a Igreja a sair de um clima de controvérsia e divisões. Prevost é um homem calmo, que medita e que imediatamente recordou o pontificado de seu antecessor e a sinodalidade. Portanto, o fio que o une a Francisco é muito forte: não é o anti-Bergoglio, pelo contrário, já está continuando o programa de seu antecessor com sua personalidade original“.
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Uma liderança moral pela paz
O tema da paz foi imediatamente o mais reiterado pelo Papa Leão, especialmente no que diz respeito à guerra na Ucrânia, uma vez que a Igreja Católica e o Papa continuarão a exercer uma liderança moral pela paz, mas sem tomar partidos, o que o Pontífice não pode fazer. Um exemplo disto está no fato de que a Rússia disse não às negociações junto à Santa Sé, mas depois o presidente Vladimir Putin fez um telefonema privado para o Papa Leão.
O diálogo com o judaísmo também continuará na esteira dos Pontífices anteriores. Certamente, no contexto atual, depois de 7 de outubro e do bombardeio que continua em Gaza, o desafio está em distinguir entre o governo de Israel, o judaísmo em Israel e o judaísmo internacional. Leão será um Papa que deverá viajar muito. Em primeiro lugar, ele irá à Turquia para o aniversário dos 1700 anos do Concílio de Niceia, depois parece que ele também vai querer visitar a Argentina, o Uruguai e o Peru, um país muito tocado pela questão da migração para os Estados Unidos.
Busca pela unidade dos cristãos
Por fim, outro desafio crucial certamente será o da unidade dos cristãos. Se no nome “Francisco” já estava expresso o programa do pontificado de Bergoglio, “não podemos remontar a figura de Leão XIV à de Leão XIII, mas em todo caso o novo Papa assumirá a herança dos Papas do Concílio”.
O papado de Leão seguirá um passo diferente, no cenário de um mundo dramaticamente novo, marcado por tantos conflitos e desejos de paz.
Mons. André Sampaio de Oliveira
Doutor em Direito Canônico Pontifícia Universidade Gregoriana – Roma
Prof. Direito Canônico Oriental no Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico e Priest na Arquidiocese RJ.