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Diferença entre o Espírito Santo e a graça de Deus

Espírito Santo, Senhor e fonte de vida

A Igreja Católica professa a sua fé em Deus que é Uno e Trino. O Símbolo niceno-constantinopolitano afirma o seguinte: “Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos […]. E no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele falou pelos profetas”. Com isso, torna-se artigo de fé e todo católico deve acreditar na existência de um Deus, que são três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Que fique claro que: não professamos três deuses, mas cremos na Trindade que é Una. É o que o Catecismo da Igreja Católica nos ensina que cada uma das Pessoas trinitárias é Deus por inteiro1. O Espírito Santo, ou seja, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade é, muitas vezes, chamada de Graça de Deus, ou, em muitos momentos, nos referimos a Ele em oração pedindo a graça do Espírito Santo, não está errado usarmos essas expressões. Contudo, para melhor entendermos que existe uma diferença entre a Graça e o Espírito Santo, neste artigo, vamos fazer essa distinção que nos ajudará a compreendermos melhor a nossa fé.

Diferença entre o Espírito Santo e a graça de Deus

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Os nomes do Espírito Santo

Para conhecer um pouco mais a natureza da terceira Pessoa trinitária, faz-se necessário compreender os nomes pelos quais Ela é reconhecida. Em Deus só há uma inteligência, um vontade, um poder, porque só há uma natureza e não mais que isso. Ademais, a Igreja professa que o Espírito Santo habita o interior do homem e age nesse homem, sendo Ele o penhor das virtudes e dos dons. Tomás de Aquino, fala-nos de três nomes que são dado à terceira Pessoa divina, que são: Espírito Santo, Amor e Dom2. Vamos verificar a especificidade de cada um desses nomes.

A terceira Pessoa da Trindade quando chamada de Espírito Santo podemos entender essas duas palavras separadamente. Essas palavras podem também ser denominadas para as outras duas Pessoas Trinitárias, porque Elas são Espírito e também são santas. Mas quando tomadas essas palavras juntas, designam somente a última Pessoa trinitária3. A doutrina católica afirma ainda sobre o Espírito Santo, que este procede do Pai e do Filho; além disso, o Pai e o Filho constituem um só princípio do Espírito Santo, com uma espiração única e comum aos dois4; e por fim, que o Espírito Santo não é feito, nem criado, nem engendrado, mas procede do Pai e do Filho.

Um segundo nome que dar-se à terceira Pessoa da Trindade é Amor. A palavra amor pode ser usada para Deus em três sentido: essencialmente, sendo assim, comum às três Pessoas; nocionalmente, com isso, atribuído ao Pai e ao Filho, pois a atividade amorosa de ambos, dá origem ao Espírito Santo; e, pessoalmente, aqui convém somente ao Espírito Santo, como termo passivo do amor do Pai e do Filho. Diante disso, pode-se dizer que o Pai e o Filho se amam no Espírito Santo5.

O terceiro nome dado à derradeira Pessoa divina é Dom. Muitos Padres da Igreja se referiram ao Espírito Santo como Dom, mas também as Sagradas Escrituras usam dessa expressão para falar da terceira Pessoa Trinitária. Vejamos o que o Evangelista São João diz: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!”6 São Lucas também nos apresenta essa mesma expressão quando ele escreve: “Respondeu-lhes Pedro: ‘Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo.”7 Com isso, começamos a notar as expressões que são utilizadas para a terceira Pessoa da Trindade, podendo assim, compreender um pouco mais de quem falamos quando usualmente usamos o nome Espírito Santo.

Por fim, quero ainda deixar registrado aqui outras inúmeras expressões que a Igreja usa para falar também do Espírito Santo, são elas: Espírito Paráclito, Espírito Criador, Espírito de Cristo, Espírito da Verdade, Virtude do Altíssimo, Dedo de Deus, Hóspede da Alma, Selo, Fonte viva, Fogo, Caridade, Unção Espiritual, Luz Beatíssima, Pai dos Pobres, Doador de Dons e Luz dos Corações. Com essa variedade de nomes, podemos entender um pouco da missão do Espírito Santo e também deixar claro que, teologicamente, entende-se o Espírito Santo como Graça Incriada. Esse conceito é fundamental para fazermos a distinção da Graça criada, da qual falaremos a seguir.

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A graça de Deus, ou seja, a graça criada

A graça pode ser entendida de diversas formas, tentaremos aqui sintetizar algumas definições para nos orientar na distinção entre graça de Deus (graça criada) e Espírito Santo (graça incriada). No entendimento bíblico, a graça pode ser compreendida como: condescendência, benevolência, dom gratuito, encanto, atrativo e agradecimento por benefícios recebidos. Contudo, em sentido teológico, a palavra graça pode ser entendida como um dom gratuito por parte de Deus e imerecido por parte do homem. Ou ainda, entende-se por um dom sobrenatural que Deus por sua livre benevolência, concede a uma criatura racional para sua salvação8.

O Catecismo claramente nos ensina que a “graça é o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá para responder seu convite: tornar-nos filhos de Deus, filhos adotivos, participantes da natureza divina, da Vida Eterna.”9 Esclarecendo o que o catecismo nos disse, a graça nos faz adentrar na vida divina, na intimidade da Trindade. E é através do Batismo que começamos a fazer parte dessa vida divina. Também através do sacramento da Penitência e da Unção dos Enfermos, retomamos essa intimidade com a Trindade, caso tenhamos perdido a graça, efeito do pecado grave na vida do homem.

Como dom sobrenatural, a graça depende exclusivamente da iniciativa de Deus, não cabe ao homem nenhum mérito ou direito. Ela ultrapassa qualquer capacidade humana, está acima das forças intelectuais ou volitivas. A graça santificante ou deiforme, é o dom gratuito de Deu, pelo qual somos curados do pecado e através dela santificados. Por isso, afirma o Apóstolo: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação.”10 Essa graça que nos santifica é, além disso, dom habitual, uma disposição para aperfeiçoar a própria alma e fazê-la capaz de viver com Deus e agir segundo seu amor.

Por fim, encerro fazendo mais uma afirmação esclarecedora do Catecismo, quando diz que “a graça é antes de tudo e principalmente o dom do Espírito que nos justifica e nos santifica […]”11. A graça vale lembrar que está intimamente ligada a justificação do homem frente a Deus. Justificação essa que comporta a remissão dos pecados, a santificação e a renovação do homem interior.

Por isso, meus irmãos, podemos notar que a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, ou seja, o Espírito Santo é graça incriada, sempre existiu com Deus, está com Ele desde toda a eternidade e com Ele é uno. E esse Espírito Santo está estreitamente relacionado com o que entendemos agora como graça criada. Essa não existiu desde sempre, mas foi como o próprio nome já disse, criada por Deus em favor do homem. Embora ambas realidades estejam ligadas, há sim uma diferença como podemos notar nessas linhas que escrevi até aqui de maneira sintética.

Espero ter ajudado a você, caro leitor, a fazer essa distinção entre a terceira Pessoa divina, o Espírito Santo e a graça criada que é dom de Deus.

Referências:

1Cf. CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000, n. 253.
2Cf. AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Aldo Vannucchi et al. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2010. v. I. Texto bilíngue: latim-português, q. 36-38.
3Cf. MARÍN, Antonio Royo. O grande desconhecido: o Espírito Santo e seus dons. Campinas: Ecclesiae, 2017.
4Cf. AQUINO, 2010, v I, q. 36, a. 4.
5Cf. AQUINO, 2010, v I, q. 37, a. 2.
6Jo 4,10
7At 2,38
8Cf. OTT, Ludwig. Manual de Teología Dogmática. 5. ed. Barcelona: Helder, 1966.
9CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000, n. 1996.
102Cor 5,17-18
11CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000, n. 2003.