Canonista comenta

Decreto sobre o sacramento da confissão

A paz de Cristo a todos vocês, meus irmãos e irmãs! Senti-me na obrigação de partilhar com vocês sobre um decreto que foi emitido, na sexta-feira, pelo Vaticano. Gostaria que você tomasse conhecimento, para que vivamos bem este tempo quaresmal.

Quem é cristão católico sabe que o meio ordinário, para que recebamos o perdão de Deus, é o sacramento da reconciliação, da confissão; neste tempo quaresmal, é normal que as nossas comunidades paroquiais realizem os mutirões de confissão para as pessoas se confessarem e viverem bem a Páscoa.

Com certeza, você estava se preparando para receber a sua confissão sacramental, para viver bem a Páscoa, mas nós fomos acometidos por essa pandemia, e a Igreja precisou rever, junto com as autoridades civis, alguns procedimentos: missas foram suspensas com a participação do povo, e o sacramento da confissão ficou um pouco comprometido.

Pensando nisso, a Igreja, por meio da penitenciária apostólica, que é um órgão do Vaticano, juntamente com o Santo Padre Papa Francisco, emitiu um decreto sobre o sacramento da confissão.

Decreto sobre o sacramento da confissão

Foto ilustrativa: ijeabby Getty Images

O que acontece para nós cristãos católicos a partir desse decreto?

Se você está em pecado mortal/grave, ou seja, em pecado que fere os 10 mandamentos da Lei de Deus, e encontra-se no drama, precisando do sacramento da reconciliação, mas não pode o receber por causa da realidade do coronavírus, é preciso viver de uma maneira diferente.

Com esse decreto, a Igreja diz para você que é possível receber o perdão de Deus e retornar ao estado de graça se você confessar os seus pecados a Ele. Como falei no começo, o modo ordinário para se confessar é com o padre, de forma individual, mas a Igreja prevê, em algumas circunstâncias muitos particulares, a possibilidade da confissão comunitária. Você já ouviu falar e, talvez, tenha participado de alguma confissão assim. Em casos extremamente graves, a Igreja permite a absolvição comunitária, a fim de que você confesse os seus pecados a Deus e receba a possibilidade de voltar ao estado de graça.

Então, eu queria partilhar com você que esse decreto de hoje dá para nós esta possibilidade: vivermos essa confissão que tem uma condição chamada votum sacramenti, ou seja, um propósito do penitente de confessar seus pecados graves assim que tiver oportunidade, já que no momento ele está impedido de ir até um sacerdote.Você sabe que, ao final da confissão, o padre nos dá uma penitência, não no sentido de pagar o que você fez, mas para você se colocar, de novo, em comunhão com Deus e expressar o seu desejo de conversão, exercendo alguma prática de piedade, fazendo alguma oração. É esse sentido: restabelecer a harmonia com Deus, que se quebrou com o pecado.

Então, a penitência que nós vamos fazer para a confissão, nesse tempo, é que, quando passar essa pandemia do coronavírus, na primeira oportunidade, você vai buscar o sacerdote e vai se confessar. A Igreja não está tirando essa obrigatoriedade, ela só está tirando a parte jurídica que você tem de ir ao padre, porque assim foi instituído pelo sucessor de Pedro, com Jesus quando se refere às chaves.

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Padre, como fazer isso? Como é se confessar com Deus? Isso não é do nosso costume.

Você vai entrar no seu quarto, fazer o seu momento inicial de oração, com uma invocação do Espírito Santo, da forma como você achar melhor. Depois, tome o Salmo 50 ou 51, a depender da tradução da Bíblia – aquele Salmo que fala sobre a confissão dos pecados, a piedade e a misericórdia de Deus –, faça o seu exame de consciência, passando de mandamento por mandamento, do primeiro até o décimo, e você vai perceber em quais desses você ofendeu a Deus. No final, você fará um ato de contrição – pode ser o que você reza na missa: “Confesso a Deus todo poderoso…”, e depois faz uma oração de louvor pelo perdão recebido e fica em paz.

Coloque o seu coração na presença de Deus e fique em paz, porque, hoje, a Igreja está nos dando essa possibilidade, de estarmos em estado de graça, em comunhão com toda a Igreja, para viver bem esse fim de Quaresma, e também a Páscoa do Senhor que se aproxima.

Espero que eu tenha sido claro com você, que tenha sido orientador, porque, hoje, esse decreto foi assinado. Daqui de Roma, gostaria de partilhar com vocês sobre essa realidade, que é uma grande graça para todos nós católicos, receber do nosso Papa esse gesto de amor, saber que a Igreja está sofrendo e muitos fiéis vão ficar sem a confissão sacramental nesta Quaresma. Por isso, a Igreja dá essa nova modalidade para confessarmos os nossos pecados e retornarmos ao abraço do Pai.

Que Deus abençoe você e sua Quaresma.

Padre Donizete Heleno Ferreira, missionário da comunidade Canção Nova em Roma, doutorando em Direito Canônico.

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