Maternidade

O dia em que me realizei como mãe

Não virei mãe da noite para o dia. Fui sendo mãe aos poucos

Que graça partilhar com vocês esse dia! Eu me realizei como mãe, foi quando eu me decidi a ser mãe. Tudo, na minha vida, virou enxoval. A minha alegria era ver vitrines de lojas de bebê, fazer leituras sobre o assunto… Quantos sonhos! Mas, em mim, algo fugiu do comum das mulheres. Sempre sonhei em adotar o meu primeiro filho. Achava que, assim sendo, ele seria mais respeitado e acolhido pelos irmãos e familiares. Esse sonho estava guardado em mim desde a infância, pois achava que era adotada.

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Minha mãe e minhas irmãs brincavam muito com esse tipo de conversa, pelo fato de eu ter muito poucas fotografias de quando era bebê. E quando criança, eu acreditava nas brincadeiras delas. Era comum ouvir comentários assim: “Essa menina foi achada na porta da rua”. Sem contar os comentários que descreviam as diferenças entre o meu comportamento e o de minhas irmãs.

Enquanto uma gostava de livros, a outra gostava de boneca. Eu adorava empinar pipas, jogar bola, rodar de bicicleta e, já naquela época, cuidar de crianças carentes. Vestir vestidos e andar de laçarote? Nem me lembro! Mas a calça jeans não saia do meu corpo. Assim, o que apenas uma impressão, tornava-se certeza.

Quando as inverdades foram sendo esclarecidas, passei a ouvir como foi o parto de minha mãe quando eu nasci. “Quase a mãe morre. Ô parto difícil! Que menina danada, colocou os pés primeiro! Desde pequena que ela ‘não é brincadeira’!” Em compensação, conta minha mãe, o médico disse: “Esta menina nasceu para enfrentar tudo que vier pela frente”.

Com o passar do tempo, cada filho foi ocupando o seu espaço na família com seus valores, acertos e desacertos. Não foi diferente comigo, ocupei o espaço que me foi permitido ocupar. Hoje, sou filha, irmã, prima, irmã de comunidade, cidadã, administradora, psicóloga, professora e tantas outras coisas que ainda não consegui ser. Fui criada em um lar cristão, onde a prática social era muito forte e os posicionamentos políticos também. Graças a Deus, meus pais não me apresentaram um evangelho distante dos jornais, muito menos da realidade social em que vivíamos. Assim foram os meus primeiros contatos com o mundo.

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O que esse relato tem a ver com o dia em que me realizei como mãe?

Tudo! Não virei mãe da noite para o dia. Fui sendo mãe aos poucos, por causa dos estímulos recebidos no ambiente ao qual sempre pertenci. Porém, o dia em que me realizei como mãe foi quando decidi adotar uma filha. Passei nove meses preparando o enxoval. Queria que fosse menina para vesti-la com todos os vestidos e enfeitá-la com todos os laços de que nunca fiz uso. Dar todo amor que, saindo de mim, fosse possível.

Que grande noite foi aquela do dia 6 de maio de 1991! Eu acabara de chegar da reunião do E.C.C. (Encontro de Casais com Cristo), quando, de repente, toca a campainha da minha casa. Abro a porta e vejo a minha menina de vestido e laçarote na cabeça. Ela recebeu o nome de Ana Carolina, nome de princesa, mas de uma menina que também nasceu para enfrentar os problemas que viessem pela frente e ser feliz. Achada na porta da rua, em contato com as estrelas e a lua, toda perfumada e graciosa.

Maria, Mãe de Jesus, antecipou a minha hora. Carol chegou! Dediquei-me em sua educação, tinha o dever de devolvê-la a Deus ainda mais linda.

Tracei metas e objetivos. Errei muito, mas acertei muito mais. Não perdi de vista que a minha educação teria como base valores religiosos, ensinamentos dos procedimentos que se referem à educação doméstica, que deveria dar a ela oportunidade ao lazer, à cultura , à dança e à música, que deveria acompanhá-la com rigor na escola e na escolha das suas amizades, preservando na relação mãe e filha o diálogo, o limite, o respeito, a confiança e o amor. Hoje, a minha filha tem 23 anos, é formada em Odontologia, trabalha e continua sendo uma jovem linda, que usa vestidos e laçarotes. Uma filha que se tornou autônoma emocional e intelectualmente e se empenha, diariamente, em cuidar da sua espiritualidade.

A vida não foi fácil, tanto para ela quanto para mim. Por ser uma bailarina, driblou os problemas vividos com maestria. Nem fugia nem potencializava, apenas vivia. Experimentei uma separação matrimonial dolorosa; em seguida, fiquei viúva, e essa menina chamada Carolina não sabia nem dó nem ré, mas ficava na ponta do pé. Já recitava Cecília Meireles, o que de fato aconteceu. Como eu tinha me decidido a me realizar como mãe, fincava meus pés no chão, e Nana, como ainda hoje a chamo, ficava na ponta do pé tornando mais leve os seus problemas de infância. Afinal, não conhecer o pai biológico e perder o pai que a adotara era um vazio difícil de ser preenchido. Futuro brilhante lhe espera, porque o presente e o passado foram bem ajustados. Sofremos juntas e recomeçamos a nossa vida de família juntas.

Casei-me pela segunda vez. Deus, que me convenceu de quem eu era, fez com eu testemunhasse que me rendi aos Seus pés e arrependi-me de meus pecados. Ele, assim, permitiu a cura das minhas feridas. Apresentou-me um lindo homem, um missionário gerado no coração da Canção Nova; mais uma vez, tive a graça de realizar-me como mãe.

Engravidei e dei à luz. Sou mãe de Davi, de 14 anos, e Jônatas de 12 anos. Acompanhada por um grande varão, educá-los não está sendo difícil, mas muito prazeroso. Conseguimos planejar e cumprir o que pensávamos para nossos filhos. Flexibilidade, paciência, bom exemplo de autoridade materna são ações que sempre busco viver. Trata-se de uma outra geração, outro casamento, de uma outra mãe.

O dia em que me realizei como mãe será sempre aquele em que eu cumpri bem a minha função.

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