Muitas vezes, há uma enorme distância entre o que professamos com nossos lábios e o que vivemos, especialmente na rotina, nos hábitos que se repetem exaustivamente ao longo dos anos. Creio que a maioria dos católicos não se levanta nem vai dormir sem rezar ao menos uma vez o Pai-Nosso, no qual suplica que seja feita a vontade de Deus e que Seu Reino venha até nós. Muitos desses mesmos católicos, contudo, levam suas vidas conduzidos por outras “orações”, a exemplo de duas frases presentes em duas canções bastante populares: A primeira diz que “o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído” e a segunda diz “deixa a vida me levar, vida leva eu”.
Elas refletem um modo bem comum de viver a vida, como uma sucessão de fatos, um atrás do outro, sem sentido aparente, sem um mistério que a envolva, sem, enfim, a eternidade a lhe fazer sombra. É justamente o contrário daquilo que rezamos no Pai-Nosso. Traduzindo em palavras mais claras, é viver como se Deus não existisse, ainda que se reze, ainda que se professe a fé.
A vigília de Deus
Não é o acaso que nos protege, mas o Senhor, que não dorme nem cochila, o guarda de Israel, que está sempre ao nosso lado para nos proteger. Mas essa não é apenas uma frase pronta para consolar corações aflitos. É uma realidade que traz consequências. O Senhor vela por nós porque nos ama, e por esse motivo não quer que nos percamos, e perder-se é afastar-se de Deus.
Cristo, no sermão da montanha, nos disse para não nos preocuparmos com o que vestir ou com o que comer, porque se os lírios do campo vestem-se com esplendor e às aves do céu não falta alimento, quanto mais nós seremos cuidados pelo Pai do céu. Não se confunda, entretanto, achando que Nosso Senhor está nos aconselhando a “deixar a vida nos levar”, porque Ele conclui seu raciocínio com uma frase fundamental: “Buscai antes de tudo o Reino de Deus e a sua justiça, e o resto vos darão por acréscimo”.
Viva conforme a vontade de Deus
Buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça não é sentar-se e esperar o maná cair do céu. É colocar a mão na massa, trabalhar sem cessar, mas sem buscar segurança que não seja em Deus, sem tirar os olhos do porto seguro aonde queremos chegar. A continuação da admoestação enviada por Deus por meio do profeta Isaías é clara: “continuarei a tratar esse povo de modo tão estranho que a sabedoria dos espertalhões se perderá e a inteligência dos astutos desaparecerá”.
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O Reino dos Céus não é conquistado por um belo palavreado, nem por eloquentes discursos, mas é “tomado à força e são os violentos que o conquistam”. Precisamos ser violentos contra as nossas paixões, nossas hipocrisias, nosso pecado. Precisamos abandonar as máscaras, arregaçar as mangas, reconhecer nossa indignidade e seguir o Senhor até onde ele nos levar, num caminho que invariavelmente passará pela Cruz.