Aprenda com esse conto

Qual é o seu presente para o Rei?

Certa vez, após partilhar com um padre uma situação difícil que eu vivia, ele, muito sabiamente, me contou a seguinte história: “Os habitantes de uma pequena aldeia foram informados de que talvez o rei daquele país
viesse visitá-los num determinado dia do ano. Eles foram instruídos, segundo a profissão de cada um, a preparar um presente para o rei, a ser entregue pessoalmente caso ele os visitasse ou enviado para o seu palácio se ele não pudesse vir.

O rei não apareceu naquele ano, nem nos anos seguintes. Isso, contudo, não abalava o ânimo dos moradores da aldeia, que transformaram essa expectativa numa feliz tradição. A cada ano, eles se esforçavam mais, se aprimoravam no seu ofício e produziam chapéus, bengalas, coletes, sapatos, pulseiras, tudo com a mais pura intenção de encantar o rei.

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Foto Ilustrativa: phive2015 by Getty Images

O capricho na confecção do presente do rei

O chapeleiro era o que mais caprichava no seu presente: passava o ano buscando os materiais mais exóticos para que o ornamento da cabeça do rei fosse digno da sua majestade. No ano em que informaram que o rei finalmente viria fazer a visita à aldeia, o chapeleiro já havia se tornado um verdadeiro mestre em seu ofício. Seus chapéus eram admirados por todos os habitantes da aldeia e sua fama se espalhara pela região.

O chapéu daquele ano era o mais belo e mais imponente que ele já havia feito em todos esses longos anos de espera. O chapeleiro tinha certeza de que o rei iria gostar. Seu coração palpitava forte à medida que o cortejo real se aproximava. Chegara o grande dia em que presentearia o rei com o que ele fazia de melhor!

Cada aldeão ficava em frente da sua casa, com o presente na mão. O rei, acompanhado do seu séquito, parava diante de cada um, recebia a saudação e tomava em suas mãos o presente. Se ele realmente gostasse, usaria já ali, naquele instante. Assim aconteceu com os sapatos que recebeu do sapateiro, com o cachecol que recebeu da tecelã, com o cetro feito pelo marceneiro.

A grande surpresa

Quando faltava apenas a costureira para ser a vez do chapeleiro, uma criança de não mais que seis anos se desgarrou da multidão que acompanhava o cortejo, postou-se na frente do rei e fez uma reverência tão original que arrancou um sorriso da sua majestade. Trazia um presente para o rei, feito pelas suas mãos inábeis de criança. Era um chapéu bastante tosco, feito de folhas, flores e galhos secos. O rei agradeceu e, para total espanto do chapeleiro, pôs aquela
obra funesta na cabeça e prosseguiu seu itinerário. Recebeu o manto da costureira, pô-lo sobre os ombros e passou pelo chapeleiro quase sem parar, mal dirigindo um olhar ao artesão e à sua obra-prima, o chapéu mais belo já feito por mãos humanas, que foi displicentemente guardado por um cortesão num grande saco para onde iam todos os presentes rejeitados pelo rei.

Sua majestade dirigiu-se para o moinho e todos os habitantes da vila o acompanharam, menos o chapeleiro, que permanecia paralisado em frente à sua casa, atônito com a rejeição do rei ao seu presente”.

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O grande ensinamento

O padre permaneceu em silêncio e percebi que a história havia acabado.

– O que exatamente o senhor quer me dizer com essa história, padre? – perguntei.

– Meu filho, ele respondeu, você nunca ouviu que “se o Senhor não constrói a casa, em vão se cansam os pedreiros?” Você acha que fez tudo certo, que fez sua parte, que se esforçou e talvez até tenha feito isso mesmo, mas Deus age como quer, quando quer, da maneira que Sua infinita Sabedoria determina. Não é o seu esmero, nem sua inteligência, nem sua habilidade que garantem o sucesso de uma obra de evangelização, mas tão somente a vontade de Deus. Lembre-se que somos todos servos inúteis, que não fizemos mais do que a nossa obrigação.  Não queira receber recompensa do serviço que você presta a Deus. Trabalhe por amor, sem nada esperar em troca, sem desejar reconhecimento, favorecimento ou escolha. Não tente entender por que o rei aceitou o chapéu mal feito da criança e rejeitou o fino trabalho do chapeleiro. Creia apenas que Deus é sempre bom; logo, tudo que Ele faz é bom.

Não falei mais nada. Confesso que saí daquele encontro triste, humilhado, desanimado, até com um pouco de raiva do padre. Suas palavras, contudo, ficaram ressoando dentro de mim, e fui compreendendo que meu relacionamento com Deus precisa ser totalmente desapegado, sem interesse, sem expectativa além de abandonar-se no seu amor. Lembrei-me de São João da Cruz, que dizia que “a alma que está enamorada de Deus não pretende vantagem ou
prêmio nenhum, a não ser perder tudo e a si mesma, voluntariamente, por Deus, e nisso encontra todo seu lucro”. Não deve me alegrar a expectativa de obter êxito nas minhas obras, sejam elas quais forem; devo encontrar paz e alegria em consumir-me de amor por meu Deus.

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