“A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele.” (Catecismo, 153). Essa é a primeira verdade que gostaria de lembrar neste artigo. A fé é um dom colocado em nós pelo próprio Deus no dia em que fomos batizados. É também “a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. (Catecismo, 1814).
Desse modo, fé não é um sentimento. Isso posto, gostaria de recordar também que a vida espiritual é feita de fases, etapas pelas quais passamos e por meio das quais somos formados, muitas vezes, provados ou tentados na fé. E não há como ser diferente, porque, para chegarmos a nossa meta última, que é a santidade, a maturidade de Cristo, precisamos de um amadurecimento da nossa fé, ou seja, devemos sair de uma fé em Deus por aquilo que Ele pode nos dar e passarmos a crer no Senhor por aquilo que Ele é.
As crises de fé determinam o nosso avanço a Deus
O que acontece é que, nessa jornada de crescimento, para passar de uma fase à outra, enfrentamos crises, às vezes, crises de fé. As crises fazem parte deste caminho e, como as enfrentamos, é o que determina o quanto avançamos ou não. Elas nos abalam e nos desestabilizam, e quando são crises de fé, costumo dizer que abatem nosso fundamento, nossas certezas profundas, as verdades em que nos sustentamos, e aí as consequências podem ser profundas. Muitas crises de fé podem surgir por decepções com Deus, conosco, com referências religiosas e instituições. Podem vir por uma frustração ou cansaço de esperar por algo, enfim, as causas são inúmeras, e é importante detectá-las para saber como atuar.
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Em mais de 30 anos de vida com Deus e 22 anos de vida missionária, passei por uma crise de fé que, verdadeiramente, abalou meus fundamentos e toda estrutura na qual eu construí a minha vida. Partilho aqui o que me fez retomar as forças e continuar:
Cinco dicas para enfrentar uma crise de fé
1. Uso da razão. Muitas pessoas podem achar contraditório, mas fé e razão caminham juntas. “Ainda que a fé esteja acima da razão, não poderá jamais haver verdadeira desarmonia entre uma e outra, porquanto o mesmo Deus que revela os mistérios e infunde a fé dotou o espírito humano da luz da razão; e Deus não poderia negar-se a si mesmo, nem a verdade jamais contradizer a verdade (Catecismo, 159). Quando já não via a ação de Deus em minha vida, eu professava a fé pela razão. Por saber que, apesar de eu não ver, e não sentir, Deus existe e sua Palavra é a verdade. Tentava sustentar meu pensamento nisso a fim de não entrar também em depressão. Foi uma escolha que fiz racionalmente, mas, sem dúvidas, o Espírito Santo iluminou minha inteligência. E partir da razão é que fazia os outros passos que se seguem.
Mesmo sem motivação reze sozinho e em comunidade
2. Perseverar na oração. Apesar de não ter vontade alguma de rezar e de não ver mais sentido para isso, em meio à crise, eu pensava que algo eu deveria continuar fazendo e que, se a minha parte era permanecer falando com Deus, eu o fazia, mesmo numa oração, muitas vezes, repetitiva e cansativa, ou outras vezes de súplica profunda, desabafo ou lutas com Deus. Precisamos manter essa prática e não descuidar da oração, do estudo da Palavra de Deus e outras devoções, ainda que sem tanto vigor da nossa parte. Se você não consegue falar com Deus, escreva e leia para Ele a sua oração nos momentos de Adoração Eucarística, só não abandone essa prática para que não se afaste de vez.
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4. Direção espiritual. Busquei pessoas maduras na fé que só me ouviam, enxugavam minhas lágrimas, falavam coisas das quais eu já sabia e eu achava que eram frases feitas que não funcionavam comigo. Entretanto, o consolo das pessoas, o carinho e postura de escuta, apesar de no momento não parecerem fazer sentido, são refrigérios para quem está nessas crises. Em algum momento, aquilo que nos dizem vão ressoar como palavra de Deus em nosso coração.
Veja exemplos de pessoas que passaram por crises de fé
5. Leitura da vida dos santos. Ler a vida dos santos e conferir como pessoas reais venceram suas crises, com atos de fé, nos serve de modelos.
Precisamos entender que fé é atitude, não é estática e, como dom e virtude, precisa ser desenvolvida com passos que comprovem o que cremos. Por fim, deixo aqui uma palavra que pode sustentá-lo caso esteja já deixando de acreditar em Deus: “Ainda um pouco de tempo – sem dúvida, bem pouco -, e o que há de vir virá e não tardará. Meu justo viverá da fé (…) Não somos de perder o ânimo para a nossa ruína; somos de manter a fé para a nossa salvação! (Heb. 10,37-38). A fé já está em nós. Precisamos recobrá-la, escolhendo acreditar. Você é responsável por manter viva a sua fé e transmiti-la, já que “as coisas visíveis se originam do invisível. ” (Heb. 11,3)
