O Segredo

O silêncio profundo da alma de Jesus, em sua Paixão, guardava um precioso segredo: o mistério de sua Paixão interior, seu sofrimento moral. Segredo que nenhum cineasta e nenhum poeta, por mais talentosos e inspirados que fossem, saberiam expressar. Segredo de Deus, do Filho de Deus. Segredo do Homem, do Filho do Homem.

Era costume, entre os judeus, matarem um cordeiro em memória da primeira Páscoa. O sangue do animal, sem mancha, macho, de um ano, era a garantia de que as famílias que marcassem as entradas de suas casas com ele seriam preservadas da morte de seus filhos primogênitos.

Costume, também, era utilizar um bode para, por meio de um ritual, pôr sobre ele a culpa e os pecados dos fiéis, soltando-o, em seguida, para a morte no deserto. Era o “bode expiatório”, aquele cuja vida era tomada em troca do pecado do fiel que procurava os sacerdotes do Templo.

Jesus, ofertando-se como Cordeiro, preserva (assim, no presente do indicativo) toda a família humana, de todos os tempos, da morte eterna. Mais que isso: abre para ela as portas da vida eterna, inclusive em nosso corpo a ser feito glorioso por ocasião da ressurreição dos mortos.

Tomando sobre si o peso do pecado do homem, de cada homem, de todos os tempos, Cristo expia, dá-se como pagamento de todo pecado, faz-se expiação, uma troca que todo judeu entendia muito bem.

E aqui reside segredo: ao tomar sobre si o pecado, “fez-se pecado” e iniciou a dor de sua Paixão interior. Fazer-se pecado, por amor a você, trouxe-lhe o indescritível sofrimento humano pelo afastamento do Pai, que não tem nenhuma parte com o pecado.

Essa foi sua verdadeira Paixão, mais lancinante que toda chicotada; mais mortal que toda tetania; mais cruel e injusta que toda cruz. O Amor Encarnado viu-se separado do Amor que O sustentava.
De sua parte, o Pai, em Seu segredo de amor, suportava, por amor, o sofrimento da separação do Filho, que entregava para, n’Ele, acolher o pecador que, a Seus olhos, não mais tem o rosto do pecado, mas o rosto amado de Seu Filho.