Encontrar-se consigo é uma experiência que confere à pessoa uma específica profundidade. Não sem dor, é claro, mas, descobrir-se é uma experiência que faz crescer. Existem muitos que fogem de si mesmos e de suas verdades, por medo de contemplar fraqueza e limitação. Outros temem se perceber, por receio de encontrarem realidades diante das quais, se é obrigado a dizer: “Sou assim, não sei por que, mas, sou assim!”
Que nossas dores e ausências não nos impeçam de sermos aquilo que somos: Filhos
São inúmeras as ações e reações que trazemos, e que por ora, não conseguimos compreender. Porém, fugir desse encontro por medo de nos descobrirmos e, consequentemente, nos decepcionarmos com nós mesmos, não é o melhor caminho. A verdade sempre liberta, por mais opaca que pareça. Ela sempre liberta.
Temos uma história constituída por vitórias e derrotas, todos carregamos dores, traumas e frustrações que, em algum momento da vida, precisaremos enfrentar e resolver.
Reconciliar-se com a própria história
Quem não se reconcilia com a própria história nunca será verdadeiramente livre.
Por mais dura que tenha sido nossa história, não devemos temê-la. Por mais que não compreendamos ”os porquês das desventuras”, que nos marcaram, não podemos fugir, desprezando o mistério que nos forma, mesmo sem nos dar respostas prontas. Só consegue compreender, de fato, o que significa a palavra “depender”, aquele que faz a experiência de se descobrir nas suas fraquezas e limitações, pois essas realidades nos fazem perceber que precisamos de ajuda, que não somos perfeitos e autossuficientes e que precisamos de alguém maior que nós que nos acompanhe no encontro com nossa verdade.
O processo da conversão só acontece quando tomamos a consciência de que precisamos nos deixar ajudar e ”acompanhar”. Aí se acentua a experiência da filiação, pois ser filho é reconhecer-se necessitado e na dependência do Pai, permitindo que Ele nos ampare em nossas quedas e oriente nossas escolhas. Deus é esse Pai que está sempre pronto a recolher nossos pedaços, nos dando forças para recomeçarmos a partir daquilo que somos. Que nossas dores e ausências não nos impeçam de sermos aquilo que somos: Filhos.
Um pedaço de mim
Partilho com você esse poema que fiz, em uma oportunidade que pude encontrar-me um pouco mais com aquilo que sou, momento em que palavras se ausentaram e a fragilidade se fez real:
Às vezes um pedaço de mim se esconde,
imerso na sombra do bem de que ainda não sou capaz.
Tal pedaço existe, mas,
às vezes,
não tem figuração.
Às vezes,
de noite as palavras me abandonam.
Difícil é:
descrever coisas que ainda não compreendo.
Mistério!
Há esperança;
Compreender-se é processo.
Paciência! Realidade incompleta.
Existe ternura em ver-se assim:
Ao perceber-se mais …
que a fragilidade.
Que por ora desconfigura.
Apenas um pedaço de mim!
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Não somos nossas fragilidades; somos mais, somos filhos!