Vendedor de jornal se torna padre

Eu, Roger, cresci com a determinação de “ser alguém na vida”. Sou filho de uma família muito pobre do interior do Estado do Tocantins. Meus pais se separaram logo que eu nasci. Ainda criança, mamãe me levou para morar no Distrito Federal. Trago dela as melhores recordações da minha infância. Sua principal virtude foi sempre ser uma mulher de fé. Cresci conhecendo um Deus que me amava e cuidava de mim, com toda pobreza, sofrimento e contra-tempos da vida.

Precisei trabalhar cedo para poder estudar e sonhar em “ser alguém na vida”. Não posso esquecer que meu primeiro trabalho foi ser jornaleiro. Eu tinha ainda 6 anos de idade e acordava às 4 horas da manhã para vender jornal; fui um bom vendedor. Neste trabalho, fui aprendendo a ler não somente letras, mas as pessoas e o mundo que me rodeava. Vendi bolo, pastel, picolé, capinei, fui babá, vigia de residência, ajudante de pedreiro, auxiliar de marcenaria, professor e líder comunitário. Fui criado sem meu pai e queria ser na vida tudo o que ele não pôde ser ou, talvez, não teve condição de ser. Ainda adolescente, estabeleci metas para minha vida e sonhava em trabalhar para ajudar muito as pessoas. Meus professores e amigos me impulsionaram a ser jornalista, líder comunitário, político, mas… Deus que sempre cuidou de mim com muita ternura, estabelecia outros projetos na minha vida. Minha mãe me levava, criança, para a missa e para o grupo de oração.

Quando eu tinha acabado de completar 10 anos, ela me levou para a Novena de Natal da nossa rua, a qual corria o risco de acabar porque não tinha quem a dirigisse. Então, a comunicação que aprendi, como jornaleiro, eu tinha que agora desinibi-la para Deus. Assumi precocemente a direção daquela Novena de Natal e logo também a da Campanha da Fraternidade, depois, ainda, a irmã Coordenadora de Pastoral me exigiu que eu assumisse também os círculos bíblicos toda semana. A esta altura, eu já era coroinha da Igreja e depois também catequista, eu descobri que as coisas de Deus estavam por fazer e que Deus precisava de operários. Tentei relutar, mas não consegui negar que a ternura paterna e materna do Senhor me envolvia e eu aceitei a proposta de Deus para minha vida.

Aos 15 anos, fui para o Seminário Menor dos Franciscanos Conventuais: tempo forte de reconhecimento e amadurecimento da proposta de ser um operário do Evangelho. Ali cultivei a mais terna devoção à Imaculada Conceição de Maria, o amor aos pobres e a paixão pelo Reino. Quando estava iniciando meus estudos teológicos, pedi para fazer a experiência de consagrado na Comunidade Canção Nova . E hoje 3 de fevereiro, estou me tornando sacerdote do Deus Altíssimo.

Só posso dizer que “Deus me fez alguém na vida”, muito mais que os meus projetos de infância pudessem sonhar ou imaginar. Ser padre é uma graça sublime, grande demais para mim. Eu só posso dizer a Deus: muito obrigado pela escolha, pelo chamado e por ter cuidado da minha vocação. O meu coração sacerdotal é todo ele para entoar os louvores do Senhor e comunicar esta graça à humanidade. Foi por isso, que escolhi este lema sacerdotal: “Que poderei retribuir ao Senhor por todo o bem que Ele me fez? Elevo o cálice da salvação invocando o nome Santo do Senhor” (Sl115).

Ao Deus da minha vida, o Deus de ternura, de bondade e misericórdia que olhou para além das aparências daquele menino franzino, pés descalços e calcanhar rachado e fez dele Seu ministro. A Ele todo louvor e toda glória…