Uma decisão assustadora!

Eu fazia um programa na Rádio Difusora Bom Jesus de Cuiabá (administrada pela Canção Nova) chamado “A Tarde é Nossa”.
Era um programa muito movimentado, “sacudido”, evangelizador e a cada quarta-feira apresentava uma novidade vinda do interior do “Brasil que o Brasil não conhece”.

O ouvinte ligava e contava alguma história da sua vida no tempo em que morava na roça. E muitos sintonizavam (e ainda sintonizam) a Rádio Difusora Bom Jesus de Cuiabá nos sertões do “Centro-Oeste e Nortão Brasileiro”. Era um espaço chamado “Casos e Cousas da Fazenda”. E toda quarta-feira um monte de “causos” de “bença pai e bença Mãe”, onças, pescarias, trote de cavalo pantaneiro, sucuri, plantações e muito mais.

Sempre conduzíamos as participações pelo telefone ao louvor pela nossa vida, pela nossa história de salvação com Jesus.
Às quinze horas parávamos para rezar pelos amigos enfermos com o Padre Firmo Duarte que conduzia uma oração de cura interior pela nossa história passada (especialmente pelos ouvintes do “interiorzão” do Brasil).

Havia um homem que sempre ligava para participar. Seu nome Era Antônio, da cidade de Pimenta Bueno, em Rondônia. Ligava sempre. E como ele era muito alegre, extrovertido e tinha histórias interessantíssimas, acabou virando uma participação sempre muito especial.

Lembro-me do dia em que ele descreveu o cheiro do café que sua mãe fazia… Do dia que ele falou do caminhão que estava saindo da sua fazenda e todos escutamos o barulho do motor através do telefone. Também foi inesquecível o dia em que ele chorou pela plantação perdida devido a uma praga…

Certa vez o Antônio não ligou para participar e demos continuidade ao programa. Já estávamos no meio da oração pelos enfermos e recebi um bilhete dizendo que o Antônio queria entrar “no ar” para pedir oração pela saúde dele.

Não era o comum. Já haviam se encerrado as participações. Mas deixamos ele entrar “no ar”. E aí ele contou que havia sofrido um acidente… Estava na Santa Casa de Pimenta Bueno e no dia seguinte iria sofrer uma cirurgia devido a fratura de sua perna. Como sempre estava animado, contou em detalhes como era seu quarto e que estava sendo muito bem atendido por uma “freirinha”.

Conversamos inclusive com a freira, e ela esclareceu que a iniciativa de ligar tinha sido dela mesmo, pois afinal de contas, ele já estava ficando famoso com seus “causos” e não podia ficar sem falar no rádio.
Desligamos o telefone, finalizou a participação, fizemos nossas últimas orações.

Continuamos a vida…

No dia seguinte, quinta-feira, dia de adoração na Canção Nova, eu estava conduzindo o Grupo de Oração na Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho (Bom Parto) e no meio da oração inicial a telefonista da Rádio apareceu. Ela estava em prantos. Dizia que era melhor descer para a rádio (que ficava no prédio ao lado) pois havia uma ligação urgentíssima.

Mesmo sendo um grupo de oração transmitido pela rádio, meio constrangido fui ao telefone. E recebi a notícia: O Antônio morreu… Ele teve uma complicação na cirurgia, precisou de uma transfusão de sangue, não havia sangue suficiente… e ele morreu.

Éramos três chorando. A “freirinha” que deu a notícia, a telefonista e eu.
Respirei fundo, subi para a Igreja e inevitavelmente dei a notícia no momento mais propício. Muita gente se comoveu… Até o governador do estado ligou para dar os pêsames…

O quadro do programa de rádio precisou terminar… não tinha mais clima para continuar sem o Antônio. Todas as quarta-feiras ficava um vazio e reagimos com uma oração pelos agonizantes.

E o tempo foi passando…

Três meses depois, um “flashback” me visitou.
Estava de novo na condução do grupo de oração e a telefonista apareceu com um semblante transtornado. Era uma ligação urgentíssima. As pessoas perceberam meu constrangimento e reviveram cada momento triste da perda do Antônio.

Peguei o telefone… disse “alô”… e do outro lado o irmão do Antônio.
Ele tinha uma voz séria e dizia que estava deixando a Fazenda, passando todos os negócios para uma empresa do ramo rural de administração latifundiária. Deixaria posse de terra para os funcionários, já estava tudo “consumado” e não tinha mais volta.

Diante da voz séria, dos fatos que envolviam a situação e da palavra “tudo consumado”, me preocupei demais com aquele homem. Eu já sabia que o Antônio era um líder e tive toda a certeza que o irmão dele estava abandonando tudo, desanimado e sem esperanças. Comecei a consolá-lo, dar ânimo, reavivá-lo, mas ele me dizia que iria embora e que tudo iria ficar bem.

Não sabia mais o que dizer para aquele homem. Pedia que ele refletisse, que não fizesse nenhuma besteira. Mas aí ele me falou de sua decisão que me pareceu demais assustadora: Ele estava indo para a Angola!
Caí para trás. Disse firme para ele refletir melhor, quem sabe passar uns dias lá em casa. Receber oração. Pedi que nada fosse decidido no poder das emoções. Disse que ele precisava ter calma.

Ele disse que estava tudo consumado de novo.
Agradeceu meus conselhos. Estava muito decidido.
Perguntei o que ele ia fazer num lugar tão difícil, tão longe. Será que não era uma fuga? Era uma decisão assustadora!

Mas aí ele respondeu:
– “Percebo sua preocupação. Mas fique tranqüilo, Paulo Victor. Eu sou Padre de uma ordem missionária e vou em missão”.

Fiquei atônito. “PAADDRRE!!!! Ele é Padre!”

E então ele me falou:
– “Sou padre e nunca consegui evangelizar o meu irmão. Pois fique você sabendo que ao ouvir seu programa de rádio diariamente, meu irmão nasceu de novo.

Era um homem ‘odiento’, malvado, blasfemador e alcoólatra.
Com os programas confessou, casou na Igreja, batizou e registrou os filhos, construiu uma capela na fazenda em honra de Nossa Senhora Aparecida… E tem mais…

Ele morreu em meus braços perdendo sangue. Ele sabia que ia morrer e gritava para mim: ‘Avisa o Paulo Victor que eu vou morrer, mas eu vou morar no céu. Avisa o Paulo Victor que eu vou falar o nome dele para Jesus! Avisa o Paulo Victor que eu vou falar o nome dele para Jesus! Avisa o Paulo Victor que eu vou falar o nome dele para Jesus!’”

Bem… Esta é a minha história.

E agora o segredo de todos os segredos…

Eu estava durante todo aquele período de programas com o Antônio, vivendo uma grande crise pessoal. Uma quase depressão. Um desânimo profundo… Mas, em nome da missão, eu reagia diariamente dando tudo de mim naquele programa de rádio. Gastava-me ao máximo. Violentava-me para caprichar. Buscava o melhor, que só Deus podia fazer por mim.
Talvez hoje você esteja assim.

Sem forças no seu casamento, no trabalho, no seu lar… Reaja!
Dê tudo para todos e Deus te dará um amigo gritando seu nome nos céus para que Jesus nunca esqueça de ti.

Depois deste fato tive absoluta certeza que deveria ser missionário católico consagrado na Canção Nova. Continuei minha formação e hoje já fiz meus votos perpétuos.

PS: …mais uma revelação de foro íntimo… Se tem duas pessoas por quem rezo diariamente, elas são: um homem que nunca vi e que disse que levaria meu nome até Jesus e um padre que julgo estar ainda na Angola.

“Diante do ser humano estão a vida e a morte, o bem e o mal. Ele receberá aquilo que preferir.” (Eclesiástico 15,18)