Um coração mariano

O cristianismo, vivido há vinte séculos, apresenta algumas “notas” características, que o acompanham com muita naturalidade. Assim, é de sua natureza ter como centro da existência a pessoa de Cristo, Filho de Deus, nosso Salvador. Isso é inconfundível. Ele é para os cristãos, não apenas um grande homem, mas uma pessoa divina. Até ouso dizer que Ele, dentro da fé, – mal comparando – é uma espécie de “buraco negro” que atrai a si toda a vida da Igreja.

Mas além dessa centralidade do Senhor Jesus, conseguimos detectar na vida eclesial, outras características, sempre presentes, embora com acentuações diferentes. Refiro-me à dimensão bíblica, à dimensão petrina da Igreja, e à dimensão eucarística. Sobre essas notas, por ora, não me estenderei em considerações. Mas quero referir-me, de maneira um pouco mais explícita, a uma outra característica, que desde os tempos mais remotos está presente na mente cristã. É como se fosse um sabor, que dá um gosto especial ao discípulo de Cristo. Trata-se da dimensão mariana da nossa fé.

O Papa João Paulo II tem um coração profundamente mariano. Busca no exemplo de Maria, ser um fiel seguidor de Jesus. Na sua recente encíclica sobre a Eucaristia, mais uma vez demonstrou a fineza de sua alma, quando nos ensinou que a Mãe de Jesus tem uma profunda ligação com o mistério do Santíssimo Sacramento da Eucaristia.

Ao me deparar com tal afirmação cheguei a ficar um pouco surpreendido. Atribuí a conclusão, mais ao entusiasmo do que ao raciocínio lógico. Mas pondo-me na esteira do fio condutor desse pensamento, verifiquei que, realmente, existem inúmeras razões que justificam tal assertiva. O caro leitor também vai aceitar a intuição. Na última Ceia Jesus celebrou, de antemão, e já realizou, o mistério de sua paixão e morte na cruz. Pois é isso que a Eucaristia nos concede. Também esteve presente aquilo tudo que se desenrolou no Calvário. Entre tantos atos salvadores, podemos contabilizar também a entrega da Mãe, que Jesus realizou em nosso favor (Jo 19, 26-27). De fato, a Ela entrega o discípulo predileto, e nele, também a nós. “Eis o teu filho”. E de igual modo diz a cada um de nós: “eis a tua Mãe”.

Viver o memorial da morte de Cristo na Eucaristia, implica também em receber constantemente esse dom. Somos levados a adotar – como o discípulo o fez – Aquela que sempre novamente nos é dada como Mãe. Isso é entrar na escola de Maria, para nos configurarmos com Cristo. O binômio Maria e Celebração Eucarística, tem um vínculo inseparável. Em cada Celebração Ela está presente para a Igreja. Não dá para lembrar uma e esquecer a outra.