Tempos de Cristianofobia.

Na altura da vida em que me encontro, agradeço a Deus pelos serviços que pude prestar ao Evangelho, a Cristo e à Igreja católica, de que sou presbítero e bispo. Sou grato, também, pela perseverante proclamação dos valores em que acredito, pelos mais de 3.500 artigos já escritos como jornalista, pelos numerosos livros e cartas pastorais dedicados aos diversos problemas humanos, à família e à vida, aos atuais e transformadores princípios da doutrina social da Igreja centrada na justiça, no amor e na partilha dos bens.

Tenho, também, procurado cumprir os meus deveres de cidadão votando conscientemente nos melhores candidatos, sem motivações político-partidárias pensando sempre no benefício do nosso sofrido povo, exigindo das autoridades constituídas que se considerem e governem como servidoras e não dominadoras no cumprimento de seus mandatos.

Inserido na vida brasileira e eclesiástica, reconheço que em alguns momentos, especialmente quando tive de defender a minha Igreja, a dignidade humana, os direitos e deveres de todos, os valores da família e da vida, da justiça, da solidariedade e da paz, acabei incomodando a alguns. Confortava-me saber que as incompreensões, insinuações e os sacrifícios no empenho por um mundo melhor, mais humano e fraterno, menos injusto, mais solidário e mais pacífico, valem a pena. Prosseguirei “proclamando a Palavra de Deus oportuna e inoportunamente”, combatendo o bom combate como recomendava o Apóstolo Paulo em sua segunda carta a Timóteo (2, 4-7).

Dias atrás alguém lamentava perceber em certas revistas, jornais e canais de televisão, uma inegável cruzada contra a Igreja e seus Pastores, uma verdadeira “cristofobia”. Com efeito, é fácil perceber que aumenta, a cada dia, o número dos anticlericais, descrentes e ateus que contraditando os mais sagrados valores em cuja defesa a Igreja continuará se empenhando, com todos os recursos honestos de que dispõe: editoras e rádios, jornais, canais de televisão e púlpitos. Reconheçamos, o Papa e os Bispos que pastoreiam a Igreja, os fiéis que a integram como homens e mulheres, cometeram ontem e hoje alguns desacertos dando, às vezes, contratestemunhos.

Conhecedor e autor de livros sobra a história da Igreja em seus vinte séculos de existência, estou consciente de que ao lado de tantas páginas de luz houve, também, algumas páginas obscuras, de erros e decisões disciplinares, em algumas opções pastorais e políticas da Igreja católica. Ao venerando Papa João Paulo II não faltou em seu longo pontificado a humildade e a coragem para reconhecer publicamente os pecados dos filhos e filhas da Igreja em sua bimilenar história.

Mas o que é gritante, agredindo a verdade e enojando, são as freqüentes referências ao que há de negativo na Igreja, divulgadas com destaque por conhecidos jornais, revistas e programas de televisão. Teimam não poucos em ignorar o bem imenso, a incansável proclamação dos valores, as milhares e milhares de beneméritas obras caritativas e educacionais, assistenciais e promocionais da Igreja, o incansável empenho dos Papas e Bispos, dos Sacerdotes e Diáconos, de tantos leigos de reconhecida liderança no mundo da política, da cultura e do ensino, da economia, das ciências e das artes. Dispenso-me de enumerá-las remetendo o leitor honesto para a edição do Anuário Pontifício deste ano, editado pela Poliglota Vaticana, para as 1131 páginas do Anuário Católico do Brasil em sua edição de 2003.

Qual Igreja pode apresentar o número de escolas de todos os níveis, tantos qualificados hospitais, creches e orfanatos, abrigos de idosos, casas para aidéticos, pastorais sociais e não-sociais como a Igreja católica? Como a Igreja gerou tantos santos e santas, virgens, confessores e mártires? Os anticlericais de sempre fingem desconhecer o valor de filósofos e teólogos do porte de Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Jacques Maritain, Alceu Amoroso Lima, de Papas da estatura de um Leão Magno, um João XXIII, um Paulo VI e um João Paulo II.

É lamentável a parcialidade dos que fazem graves acusações contra a Igreja, como se houvesse contradições entre a fé que ela proclama e as ciências, ignorando que Nicolau Copérnico era um cônego polonês, que Gregório Mendel era um sacerdote, que o jesuíta Francisco Suarez foi, no século XVI, o pioneiro do sistema democrático, que Louis Pasteur, o Nobel de Medicina Aléxis Carrel e tantos outros cientistas eram fervorosos católicos.

É lamentável ainda que tantos finjam ignorar grandes políticos como Konrad Adenauer, Alcides de Gasperi, George Bidault, reconstrutores da destruída Europa depois da Segunda Guerra Mundial, aos quais somam-se políticos de grande projeção nos dias de hoje. É de justiça lembrar, também, aos anticlericais de sempre grandes figuras femininas na Igreja de séculos passados como Santa Helena, mãe de Constantino Magno, Santa Mônica, mãe de Agostinho de Hipona, Catarina de Sena, Tereza de Ávila e, mais perto de nós, Madre Teresa de Calcutá, Chiara Lubich e tantas outras.

Nesse contexto entristecem artigos ofensivos, caluniosos e inconsistentes como os de Vargas Llosa e Dráusio Varella, o primeiro destacado no “Estadão” e o segundo na “Folha de S. Paulo” em recentes edições. Vem a propósito repetir, mais uma vez, que “os cães ladram e a caravana segue em frente!”. O mais importante é que todas as pesquisas, apesar dos pesares, continuam apresentando a Igreja católica como a instituição de maior credibilidade entre todas as demais do Brasil.

O que seria do Ocidente sem a ação humanizadora e civilizadora, evangelizadora e missionária da Igreja em seus vinte séculos de existência e em nossos dias? Ai de nós, como querem não poucos, se a Igreja fundada por Cristo, hoje ou amanhã, viesse a dizer “sim” ao divórcio e ao aborto, às esterilizações e ao homossexualismo, às injustiças e à corrupção, às guerras preventivas e ao terrorismo, ao narcotráfico e às guerrilhas, à criminosa exploração de crianças e da mulher, à sexolatria, aos desmandos e corrupção de tantos políticos voltados para si, esquecidos de sua principal missão, a promoção do bem-comum e o serviço do povo que os elegeu. Estaríamos nesse caso na “25a Hora”, antecipada no clássico livro de Virgil Gheorghiu…