Os cristãos e a política

Neste final de semana se realiza em Jales a última reunião deste ano do Conselho Diocesano de Leigos, na sua forma ampliada, com dois representantes de cada Conselho Paroquial de Pastoral.

O momento é propício para uma avaliação, sobretudo porque este foi o ano da instituição dos ministérios leigos em todas as comunidades das dioceses. É evidente agora a necessidade de formação, de acompanhamento e de valorização destes ministérios.

Outro assunto é a assembléia diocesana, a se realizar ao longo do ano que vem. O processo da assembléia é sempre um momento privilegiado para fortalecer a identificação de todos com o caminhar da Igreja, e os leigos têm uma contribuição indispensável a dar e compromissos claros a assumir no contexto da vida das comunidades.

Mas há um outro tema, que desta vez emerge com força, e precisa ser enfrentado com firmeza. Trata-se da atuação dos leigos na política. Nas eleições deste ano a diocese se viu envolvida de modo mais intenso, até com candidaturas de padres, na intenção de ressaltar a importância da participação política como decorrência prática da fé.

São muitos os aspectos desta questão que agora necessitam de avaliação, em vista de identificar problemas e sinalizar caminhos de atuação. A Diocese faz questão de ouvir o parecer dos leigos, mas também de urgir o seu crescimento e aprimorar o seu engajamento nesta questão que, evidentemente, continua desafiando os cristãos.

Entre as constatações já colhidas da experiência deste ano está a necessidade de uma “pastoral política”, pensada e articulada em vista do aprofundamento da reflexão dos cristãos leigos, e do seu engajamento mais coerente na vida política. Esta pastoral precisa preencher uma lacuna, cujas conseqüências vão se mostrando cada vez mais desastradas. Entre os cristãos católicos firmou-se um equívoco, que é fruto de preconceitos diante da política, e da omissão em correr riscos e assumir responsabilidades.

Por medo de envolver a comunidade em opções partidárias, se insiste em deixar exclusivamente ao critério subjetivo de cada cristão a escolha do candidato que supostamente mais corresponderia aos valores políticos que a Igreja prega genericamente. Com isto, começa-se por desprestigiar os partidos, que são mediações indispensáveis para concretizar qualquer ideal político. E além disto, não se aposta em nenhuma outra mediação organizada, como instrumento auxiliar do discernimento político, indispensável tanto para identificar os valores em jogo nas propostas políticas, como para desmascarar as práticas de quem continua usando da política para perverter suas verdadeiras finalidades.

Com isto, a opção meramente subjetiva de cada cristão padece de coerência, e a pretensa neutralidade da comunidade, na verdade se torna pretexto para o descompromisso e para a conivência. Assim, a pregação teórica da hierarquia se mostra ineficaz e perde credibilidade. Daí a urgência de uma “pastoral política”, para se constituir em mediação necessária entre os princípios doutrinários e o engajamento dos cristãos. Sem ela, continuará na prática o divórcio entre fé e política, para prejuízo de ambas.

Dentro de dois anos teremos eleições municipais. São as que mais envolvem as pessoas, e projetam para o interior das comunidades os equívocos das disputas políticas. Uma primeira incumbência da nova pastoral a ser organizada será, sem dúvida, enfrentar estes equívocos, com um trabalho articulado, aberto e corajoso, proposto claramente para as comunidades, com a disposição de iniciar um novo processo de participação mais coerente dos cristãos na política.