Onde está o teu irmão?

Essa é a pergunta que Deus fez para Caim sobre seu irmão Abel. E Caim respondeu: “acaso eu sou o guarda do meu irmão?” (Cf.Gn 4, 9-10) Essa foi a resposta que Ele deu para Deus, pois havia matado seu irmão por motivo de inveja, de ciúme.

Hoje, Deus faz essa pergunta ao meu coração: “Onde está o teu irmão?”, e olho para o meu lado, para aqueles que convivem comigo e sou impulsionado a ser mais presente nos meus relacionamentos, para que a minha resposta para Deus seja uma afirmação: “Eu sou o guarda do meu irmão!”

Essa deve ser a minha, a sua, a nossa resposta para Deus, pois muitas vezes somos tão espirituais que esquecemos que somos humanos, e acabamos não sendo irmãos uns dos outros, e nem nos dispomos a ajudar aqueles que estão ao nosso redor ou aqueles que vemos necessitar de nosso consolo, amizade e presença.

Temos que ter esse cuidado de não assumirmos uma condição angelical que nos coloque numa condição de pessoas voltadas para o nosso próprio umbigo, vivendo um egoísmo sem olhar e preocupar-se com aqueles que necessitam de nós.
Assemelharmo-nos a Jesus é sermos realmente mais humanos: “Jesus, rosto Divino do homem. Jesus, rosto humano de Deus” (João Paulo II). Temos que ser o rosto de Cristo para aqueles que precisam e contam com a nossa presença.

“Onde está o teu irmão?” Talvez esteja sofrendo sozinho esperando uma carta nossa, um e-mail, um telefonema ou até mesmo a nossa visita. Talvez esteja nas drogas por que não fomos capazes de olhar para o lado e enxergá-lo, esteja na prostituição, na depressão, na solidão, por que não o acolhemos e nem tivemos a coragem de mostrar Jesus, Caminho, Verdade e Vida para eles.

“Onde está o teu irmão?” Deus deu uma direção na minha vida para esse ano de 2005, logo no primeiro dia do ano, dizendo que era para eu procurar todos aqueles dos quais eu tinha desistido com o passar do tempo, por não ver respostas, por não ver passos. E estou buscando prestar contas para Deus da vida desses meus irmãos: “Eu sou o guarda do meu irmão!”

Muitas pessoas estão somente esperando que apenas acreditemos nelas de novo para dar uma resposta concreta para Deus e para a própria vida; às vezes é um filho, o marido ou a esposa, um funcionário, um amigo, um presidiário, um drogado etc.

Tenho feito essa linda experiência de acompanhar os presos no seu processo de cumprimento de pena, e tenho visto a tremenda obra de Deus na vida deles, e concretamente experimentado aquilo que nosso querido Papa Bento XVI disse: “A vingança de Deus para com o homem tem o nome de MISERICÓRDIA”. A vingança de Deus na vida do Thiago, do Márcio, do Marcelo, do Rômulo, do Otacílio e de tantos outros que acompanho tem esse bonito nome: MISERICÓRDIA!

“Onde está o teu irmão?” Num presídio. E posso dizer que sou o guarda deles, sempre buscando dar atenção, ser presença, vencendo as barreiras e pré-conceitos. Posso testemunhar hoje para você sobre o Thiago, que acompanho já há mais de quatro anos: um jovem de 21 anos, que foi usado por pessoas e acabou sendo preso por causa de uma infração. Foi preso com 18 anos, condenado há 23 anos. Hoje, com 21, é um jovem transformado, vivendo a santidade num lugar que não incentiva a isso. Fez a opção pela castidade, terminando um namoro que não o levava a essa experiência. Orando, rezando o rosário, estudando a palavra de Deus, vivendo o PHN, é um jovem que foi tocado pela graça de Deus. Tudo isso por que sua mãe não desistiu dele. Eu, desde quando o conheci assumi a resposta que quero dar a Deus todos os dias: “Eu sou o guarda do meu irmão!” Tendo sido acompanhado por cartas e visitas ao presídio, ele viu que não está sozinho.

Quem sabe exista na tua história alguém que precise de mais uma chance; que espera teu perdão, que necessite da tua presença, atenção e carinho, que como o Thiago, precise somente da tua confiança.
Quem sabe você deixou muita gente para trás e hoje é dia de você lutar por esses de novo, de ir atrás daqueles que você desistiu. “Onde está o teu irmão?”

Somos gente e precisamos agir como gente, e não anjos, “alienados” – a alienação nos afasta de Deus e das pessoas, nos tira a humanidade. Se um dia nossa experiência com Deus nos afastar dos irmãos, nos colocar superiores a eles, com arrogância e ignorância menosprezá-los, podemos nos questionar se fizemos mesmo uma experiência com Deus, pois quanto mais experimentamos o Criador, mais humanos nos tornamos, pois foi assim que Ele nos fez.

“Onde está o teu irmão?” Espero que consigamos dar conta a Deus de nossos irmãos, que tenhamos mesmo a coragem de fazer uma afirmação para Deus e não um questionamento: “Eu sou o guarda do meu irmão!”,

Deus abençoe o nosso firme propósito de sermos mais humanos!
Amém. Aleluia!