O café do Seu Valdir

É… Depois de um longo inverno volto a escrever! Inverno poético que aconteceu no outono. Maneira lúdica de dizer que foram dias difíceis. Escritor de Internet também tem marés difíceis ou você acha que colunistas são super heróis, que atrás de seus computadores sobrevivem apenas teclando?

Creio que você compreende o que estou falando. Dias difíceis! Não é à toa que na Palavra se encontra claramente: “a cada dia basta o seu cuidado” (cf. Mat 6,34).

Perceba, estamos nos relacionando… a quantidade de reticências é justamente para você interagir comigo… precisamos conversar.

Como você vai amanhecer daqui pra frente?
Haverá felicidade em cada manhã?
Você se encontrará feliz?
Como será no “dia difícil”?

E agora gostaria de mostrar como meu sogro começa suas manhãs: Ele acorda cedo, sempre. Levanta, faz o que precisa ser feito quando se acorda e vai para a cozinha. Lá começa o segredo de um novo dia.

O café do Seu Valdir
Metodicamente ele esquenta a água numa velha chaleira. Só se ouve o barulho da água esquentando. O silêncio permite que este barulho se torne doce, afetivo… O ambiente fica impregnado de um clima de reflexão; é tudo feito no maior capricho. Tudo parece parar… Meu sogro é muito sério e tem um bigode grosso. Seu rosto fica entre a paz e a dureza das marcas do tempo. Rugas formadas por muitas dores.

A maior de todas tem a ver com tempos de solidão, longe dos filhos e dos netos. Nessa hora ele franze a testa parecendo analisar que forças restaram para continuar. Começa a coar o café… Nossa, que cheiro! Até quem não gosta de café se surpreende com o aroma de casa de família feliz que brota daquele velho bule. Sim… um velho bule numa sociedade onde há garrafas térmicas tão caras e sofisticadas. Sem falar nas máquinas de café frias e de café com gosto de saco plástico.

Mas lá está o “Índio Véio”, o Rei do Rancho do “Ala Puxa”! O Valdir Pantaneiro e seu café. O homem que recomeça a vida a cada dia.

Só um detalhe: tudo isso ele faz no segredo das manhãs que ainda não aconteceram, bem no limiar da madrugada e do amanhecer. Só pude ver estas coisas, porque também saio muito cedo para trabalhar e por que estamos morando na mesma casa há apenas três meses.

É o segredo do Seu Valdir, seu café em forma de oração há mais de quarenta e cinco anos.

E lembra do início da nossa conversa?
Íamos falar de dias difíceis…

Será que alguém começa algum dia difícil quando nas pequenas coisas coloca tanto amor?

“Ele lhe disse: Muito bem, servo bom; porque foste fiel nas coisas pequenas, receberás o governo de dez cidades.” Lucas 19,17