História de Esperança

Filmes sobre a segunda guerra sempre me interessaram. Tem haver com a história de minha família e sua capacidade de superação.

Sou neto de uma brasileira de alma e coração italianos (e o nome também): Giocconda Pecciolli.Ela fazia um bife apimentado que talvez seja minha maior lembrança de nosso relacionamento. Como ardia e como era bom! “Manja cuore!”
Ela tinha muitas histórias impressionantes para contar. Sinceramente acho que os membros da minha família são todos meio “Forest Gump”. Não é à toa que virei contador de histórias.

Minha avó costurou bandeiras para a Guerra Constitucionalista de 1932 (veja detalhes no final do texto), ouvia música erudita com cara de Rocking roll, era muito inteligente e articulista, sabia tudo de política internacional e nacional, não tinha medo de nenhuma dificuldade e era uma super católica!

Ela morava em Catanduva, São Paulo, e sempre que eu ia para a casa dela quebrava um belo antúrio de seu jardim.Eu nunca consegui entender o quanto realmente brasileira ela era. Ou foi a mais brasileira das italianas ou a mais italiana das brasileiras.E sempre me contava muitos fatos. Este que vou narrar é um deles. A História veio dela, mas quem passa pra frente é minha mãe, a filha da Dona Giocconda:

Na época “brava” de Mussolini (lembre-se: detalhes no final do texto), um Funcionário de uma família (o atual caseiro de alguém), entregou por dinheiro seu patrão.Delatou seu patrão injustamente como traidor de Mussolini por dinheiro!
Um “Judas” da modernidade.

Logo as tropas facistas chegaram naquela residência e dizimaram àquela família. O Traidor viu tudo e não imaginava que seria algo tão grosseiramente ediondo. As mulheres foram violentadas e mortas e os homens sumariamente fuzilados. Seus corpos expostos como traidores do “Duce”.

O Caseiro Traidor testemunhou tudo. Até ele ficou chocado com a brutalidade. E o pior… Recebeu um prêmio por sua traição, foi considerado amigo do Estado e seu novo emprego seria cuidar daquele patrimônio tão grande: a casa e as vinhas de seu antigo patrão.E assim ele tentou prosseguir a vida.E não conseguia esquecer os gritos, as caras de horror.

Ele era assombrado pela terrível lembrança dos olhos cheios de medo dos filhos de seu antigo patrão. Pensava nos filhos que nunca teve e que com certeza nunca mais teria.Sua vida virou um inferno.

Com o passar dos dias acabou abandonando aquele lugar que já estava completamente destruído.Virou um andante, errante, sem destino e sem coragem de mais nada. Não reagia, não via mais nenhuma esperança.

O traidor agora era um blasfemador. Também havia se revoltado contra Deus e era um odiento. Um homem insuportável.

A guerra acabou… A Itália tentava se restaurar, se reconstruir…

Chegou um forte inverno. O único lugar para àquele infeliz foi embaixo de uma pequenina ponte que levava à uma capela de uma pequena vila. Quem passava pela ponte ouvia as blasfêmias, os palavrões e xingamentos daquele infeliz.

O Padre que servia àquela capela passava pela ponte diariamente e ouvia a revolta do traidor. Muitos tentavam tirá-lo dali… O Padre já havia tentado aproximar-se.
Nada parecia funcionar. Ele era um desgraçado… Infeliz demais para receber ajuda.

E no meio de uns dos piores invernos da Itália do Pós Guerra chegou a hora daquele traidor morrer… Já não tinha mais forças… não tinha mais ânimo para ofender… Só esperava a morte.

O Padre ficou sabendo que o homem estava muito mal e foi encontrá-lo.Corajosamente se aproximou do infeliz e mesmo ouvindo as últimas blasfêmias,ofereceu o sacramento da confissão e da unção dos enfermos para aquele moribundo.

Ao ouvir a palavra confissão, um filme passou pela cabeça do traidor. Lembrou de sua infância: pobre e honesta. Lembrou de sua Mama e de seu Nono Antonino.
Olhou para o Padre…Viu com seus olhos um Padre jovem, cheio de vida.

O sopro de um vento de misericórdia, que sopra onde quer, chegou naquele coração e junto trouxe um profundo arrependimento. E aí começou a mais bela confissão. O Sacramento chegou para libertar àquele homem de tantos anos de horror.Terminada a confissão… Sem forças… Já entregando a alma cansada e perdoada… ele viu uma gota grossa de uma única lágrima descer do olho jovem do Sacerdote.

E ouviu sua última sentença de liberdade da boca emocionada do Padre que se inclinava ainda mais para o moribundo:

Eu sou o filho mais novo daquela família que te acolhia. Sobrevivi àquela chacina que você patrocinou e minha vida foi muito dura. Conseguir chegar a Padre depois da Guerra e hoje estou aqui para te perdoar.

Receba a Paz que vem de Deus.
Além de meu perdão pessoal, que o Senhor te perdoe de todos os seus pecados.

Em nome do Pai… do Filho e do Espírito Santo. Amém.

E fica sempre a pergunta no ar…
Quem eu sou ou posso ser nesta história.
Traidor perdoado… Menino… Padre… Perdoador…
Dê sua resposta.

“Senhor… Ouve minha prece.
Que o meu grito chegue a ti!
Não escondas tua face de mim
No dia de minha angústia;
Inclina teu ouvido para mim,
No dia em que te invoco, responde-me depressa!”

Salmo 102

Paulo Victor
paulovictor@cancaonova.com

Apêndice Cultural Número 01:

A GUERRA CIVIL CONSTITUCIONALISTA DE 1932

O principal compromisso da Aliança Liberal era o de criar as condições para que em breve ocorressem eleições limpas, diferentes daquelas que ocorriam na República velha. Os revolucionários paulistas, que contribuíram com o movimento de l930 acreditavam que Vargas convocaria eleições para compor uma Assembléia Nacional Constituinte e para eleger um presidente. Apoiado nos tenentes, que eram a favor de um governo baseado no arbítrio e na exceção, Vargas protelou o cumprimento dos compromissos de 1930 o quanto pode, até que em São Paulo no ano de l932 explode uma guerra civil. Os paulistas exigem o cumprimento dos compromissos de 1930 e ameaçam Vargas com a possibilidade de secessão de São Paulo do restante do país. Desta vez ocorre uma guerra de fato, diferente de opera bufa que ocorrera em 1930. A capital de São Paulo é bombardeada pelas forças do governo central e São Paulo termina por se render.
São Paulo perde a guerra, mas ganha uma constituinte que preparará a constituição de l934, a terceira da História do Brasil independente, e Vargas é eleito indiretamente para a presidência da república para cumprir um mandato que terminaria em 1938 quando haveria nova eleição presidencial. Mas muita água ainda correria debaixo daquela ponte…
Após a guerra civil de 1932 as oligarquias se reorganizam e vencem as eleições para a assembléia constituinte em l933, com exceção do Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco. Apesar dos conflitos entre algumas tendências oligárquicas estaduais, o poderio desta classe supera o tenentismo, que a partir de l934 não representa maior ameaça às oligarquias.
Mas, a classe média não é só o tenentismo. Sua representatividade é maior com agrupamentos e manifestações de tendência liberal ou socializante: a partir de l933 surgem os partidos Trabalhistas de São Paulo, aliança socialista e Partido Socialista Brasileiro. Mostrando uma grande inquietude política. A classe operária é outra que se manifesta com grande intensidade. É o Partido Comunista Brasileiro (fundado em 1922), que funciona ilegalmente, são os Trotskistas em forma de fração bolchevique, são os anarquistas individualmente ou em sindicatos que denunciam todo o regime existente como sendo instrumento das classes dominantes (oligarquias). Afinal, em 1935 é a ANL, Aliança Nacional Libertadora, a Frente Única Operária e da pequena burguesia contra o domínio das classes dominantes.
Contra a frente única popular, forma-se a frente única oligárquica. Liderada por São Paulo, com a aprovação do governo federal e das camadas conservadoras, cria-se um instrumento legal para abafar todo o protesto. A Lei de Segurança Nacional é a arma contra as manifestações operárias e da posição, mas será, no futuro, a arma usada por Getúlio Vargas para derrubar certas alas das oligarquias lideradas por São Paulo e em 1937 aplicar um golpe de estado e implantar a ditadura do Estado Novo.

Apêndice Cultural Número 02

Benito Mussolini
Origem: Wikipedia, a enciclopédia livre.

Benito Mussolini (1883-1945) foi jornalista e político italiano, nascido em Dovia di Prepappio, Forli. No início da sua carreira de jornalista e político foi um tenaz propagandista do socialismo italiano, em defesa do qual escreveu vários artigos no jornal Avanti, de que era redator-chefe. Em 1914, dirigiu o jornal Popolo d Itália, onde defendeu a intervenção italiana em favor dos aliados e contra a Alemanha. Expulso do Partido Socialista Italiano, alistou-se no exército, quando a Itália entrou no conflito, vindo a ser ferido em combate.

Em 1919, fundou os Fascis Italiani di Combatimento, organização que originaria, mais tarde, o Partido Fascista. Baseando-se numa filosofia política teoricamente socialista, conseguiu a adesão dos militares descontentes e de grande parte da população, alargou os quadros e a dimensão do partido. Após um período de grandes perturbações políticas e sociais, período em que alcançou grande popularidade, guindou-se a chefe do partido (Duce), e em 1922 organizou a famosa marcha sobre Roma. À frente das suas milícias, seguidas por milhares de camponeses e de grande parte de outros setores da população, exigiu reformas sociais e a mudança do gabinete ministerial. Como resultado, foi nomeado Primeiro Ministro pelo rei Vítor Manuel III, alcançando a maioria parlamentar e, conseqüentemente, poderes absolutos no governo do país.

Logo após a sua subida ao poder, iniciou uma campanha de fanatização que culminaria com o aumento do seu poder, devido à interdição dos restantes partidos políticos e sindicatos. Nessa campanha foi apoiado pela burguesia e pela Igreja. Em 1935, invadiu a Abissínia (Etiópia), saindo derrotado e perdendo o apoio da França e da Inglaterra, até então seus aliados políticos. Aliou-se então a Adolf Hitler, com quem firmaria vários tratados.

Em 1938 acopou a Albânia e enviou vários destacamentos que lutaram ao lado dos falangistas de Franco durante a Guerra Civil de Espanha. Com o início da Segunda Guerra Mundial combateu os aliados e, após várias e quase consecutivas derrotas, apesar do apoio militar alemão e sobretudo depois do desembarque aliado na Sicília, caiu em desgraça, vindo a ser derrubado e preso em 1943. Libertado pelos alemães, tentaria ainda fundar a República Social Italiana, no Norte do país, mas pouco depois viria a ser novamente preso por guerrilheiros da resistência italiana que o fuzilaram juntamente com a sua companheira, Clara Pettaci, ficando os seus corpos em exposição durante vários dias, numa praça de Milão.