Ganhamos uma Santa

No próximo dia 19 de maio, o Papa João Paulo II elevará à honra dos altares a nossa querida Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus, a quem ele mesmo beatificou em sua visita apostólica ao Brasil, em Florianópolis, aos 18 de outubro de 1991. Nascida em 16 de dezembro de 1865, na cidadezinha trentina de Vigolo Vataro – naquela época, sob domínio austríaco – , recebeu na pia batismal o nome de Amabile Lucia Visintainer. Veio para o Brasil, ainda menina, emigrando juntamente com seus pais, Antonio Napoleão Visintainer e Anna Pianezer e seus irmãos – ela era a segunda de quatorze irmãos: nove homens e cinco mulheres – em 1875, estabelecendo-se no atual Estado de Santa Catarina, em Nova Trento.

Viveu sua infância na simplicidade dos primeiros colonos, e tão logo recebeu a Primeira Comunhão, foi encarregada de catequizar as crianças, visitar doentes e cuidar da capela de Vígolo, onde morava a família Visintainer. Tinha apenas 12 anos de idade. A partir dos 25 anos, tudo deveria mudar na vida de Amábile Lucia. Deixa a casa de seus pais e, com uma companheira, Virginia Nicolodi, vão morar num casebre para cuidar de uma desamparada senhora, doente de câncer. Esse dia, 12 de julho de 1890, é considerado o dia da fundação da atividade especial de Madre Paulina e se torna igualmente a primeira Congregação religiosa no Brasil. Uma Congregação destinada a crescer. Terá o apôio de Dom José de Camargo Barros, então Bispo de Curitiba e será sempre amparada espiritualmente pelo Pe. Luigi Maria Rossi, SJ. Em 1903, Madre Paulina foi eleita superiora geral “ad vitam”. Em 1909 a Congregação assumirá o nome de “Irmãzinhas da Imaculada Conceição”.

Madre Paulina dirigirá a Congregação com heróicas virtudes até 1938, quando, acometida de diabetes, sofrerá progressivas amputações do braço direito até à cegueira total. Adormeceu santamente no Senhor em 9 de julho de 1942, dizendo: “Seja feita a vontade de Deus”. Na Missa de corpo presente, o arcebispo de São Paulo Dom Gaspar de Afonseca e Silva declarou que: “…todos haviam perdido uma Santa”. Os milagres começaram a acontecer três dias após sua morte e em pouco tempo cresceu a devoção à Madre Paulina. Os processos de beatificação e canonização, como se pode ver, foram relativamente rápidos. Isso demonstra o carinho e a dedicação com os quais foram preparados e cuidadosamente acompanhados. Da grande festa da beatificação, em Florianópolis, ao início da construção do Santuário Madre Paulina em Vígolo e à grande notícia da sua canonização em mais alguns meses, passaram-se apenas onze anos.

Madre Paulina é para nós um exemplo de cristã que assumiu plenamente seu dever de estado. Foi fiel a Deus durante toda a sua vida e aceitou tudo, os ventos favoráveis e aqueles ventos contrários, testemunhando sempre o seu amor pela Igreja e pela sua querida Congregação. Viveu uma vida de autêntica religiosa, até mesmo quando provada com humilhações e doenças. Os ventos contrários a levavam sempre mais adiante. Soube compreender a vontade de Deus até mesmo nos menores acontecimentos do dia-a-dia. Lendo os testemunhos das irmãs que conviveram com a Santa, todas são unânimes em contemplar nela as virtudes mais excelentes de uma alma privilegiada pela graça divina: espírito de laboriosidade, coragem, fortaleza, religiosidade, enérgica, compreensiva, resoluta e tantos e tantos outros adjetivos. Enfrentava o desanimo e as provações com demonstrações de alegria e bom humor e dizia: com alegria e amor de Deus, todos os demônios se afastam.

É uma grande alegria para a Igreja do Brasil, a canonização de Madre Paulina. A obra que ela deixou e que se espalha por todo o país continuará sendo o mais alto testemunho de sua santidade. Queremos nos congratular com a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição por esse grande dom que elas são, através de Madre Paulina, para todos nós. Inserida na lista dos Santos, honrará esta grande nação que, esperamos, continuará oferecendo à Santa Igreja grandes e maravilhosos santos e santas. O Brasil saberá honrar sua primeira santa que continuará a interceder em todas as nossas necessidades. A canonização de Madre Paulina é o eco das palavras de Dom Gaspar de Afonseca e Silva, então arcebispo de São Paulo, no dia dos funerais da Madre. Naquele época ele dizia: Perdemos uma Santa. Hoje, com emoção e alegria podemos igualmente dizer: Ganhamos uma Santa.

A devoção do povo simples é o que mais comove nas peregrinações, aos milhares, que se dirigem, o ano todo, para Vígolo, que, no futuro, certamente vai chamar-se “Vila (ou cidade) Santa Madre Paulina”.

Dom Eusébio Oscar Scheid
Arcebispo do Rio de Janeiro